Algo que envolve sexo

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Simone retorna vinte minutos depois, trazendo donuts e café. E o senhor Bolsonaro ainda não voltou do banheiro.

– Boa desculpa – elogia, colocando um chocolate quente e um donut de morango ao lado do meu mouse pad. – Improviso genial.

Enquanto ela entra no escritório de seu chefe, eu observo o donut lindo e rosado como se eu tivesse caído em um buraco negro. Em vinte minutos, a insegurança começa a corroer minha confiança no Jogo ou algo assim.

Ela é grande demais, inteligente demais, e meu corpo gosta dela demais. Fico desesperada por estabelecer algumas regras básicas. Quando se senta em sua mesa e toma um gole de seu café, só consigo dizer algo que acaba soando vulgar:

– Se o Jogo do Ou Algo Assim envolver sexo, será uma coisa única. Só uma vez. Uma única e insignificante vez.

Bato a mão na boca.

Ela estreita cinicamente o olho e começa a comer os morangos que lhe dei. É hipnotizante. Nunca a vi comer nada.

– Uma – reforço com o indicador em riste.

– Só uma? Tem certeza? Você vai pelo menos me pagar o jantar antes?

Ela se encosta na cadeira, se divertindo com esse diálogo.

Morde, mastiga, engole, e eu tenho que desviar o olhar porque, francamente, tudo isso é extremamente sensual.

– Claro. Podemos passar pelo drive-thru e pegar um McLanche Feliz.

– Putz, valeu! Um hambúrguer e um brinquedo antes de fazermos as coisas. Uma vez. – Simone toma um gole de café e olha para o teto. – Será que você não poderia pelo menos considerar um restaurante italiano refinado? Ou você quer que eu me sinta barata?

– Uma vez.

Levo os nós de vários dedos à boca e os mordo até sentir dor.

Cale a boca, Sory.

– Pode definir o que estaria incluso nessa única vez?

Ela apoia o queixo na palma da mão e fecha os olhos, bocejando. Qualquer um observando pensaria que estamos falando de alguma apresentação de trabalho, e não de um jogo sacana, com nós duas nuas no meu colchão.

– Seus pais não ensinaram que você precisa cortejar antes? – arrisco antes de tomar um gole do meu chocolate quente.

– Estou tentando entender bem direitinho as regras. Você improvisa e inventa coisas o tempo todo. Será que poderia me enviar as regras por e-mail?

O senhor Bolsonaro passa entre nós, quebrando o clima, e emite um suspiro

nada convincente de surpresa quando vê o café e os donuts sobre a sua mesa.

– Eu já entro, só um minuto – Simone diz a ele. Para mim, continua: – Uma vez? Você conseguiria se conter?

Posso ver o canto de sua boca se repuxar em um pequeno sorriso, e ela começa a olhar para alguma coisa na tela de seu computador.

– Não seja tão convencida – sussurro o mais baixinho que consigo. – Nem temos certeza ainda se vai acontecer.

– Não aja como se eu fosse a única querendo. Isso não é nenhum favor que

você está fazendo para mim. É um favor enorme que fará a si mesma.

E aparentemente não consigo parar de falar.

– Para acabar com essa estranha tensão sexual entre nós, sim, seria só uma vez. Como eu disse, que diferença faz?

Ela pisca duramente os olhos, abre a boca para falar, mas parece reconsiderar. Para um pessoa que acabou de ouvir de uma mulher que ela está pensando em transar com ela, Simone parece um tanto desapontada.

– Então acho que vou fazer valer, Moranguinho.

Suas palavras são uma promessa e um aviso. Mordo metade do meu donut para não ter que responder.

Tenho um pouco de vantagem, pois posso definir os termos do acordo. Ela se levanta e pega seu café.

É um sinal de recuo. Mas em seguida lança a bola de pingue-pongue outra vez na mesa, forçando-me a tomar a decisão. E devo admitir, estou impressionada.

Escreve alguma coisa em um post-it azul. Contorna aquela sua caligrafia, a tinta sendo absorvida pelo papel.

Escreve uma coisa que eu jamais imaginei descobrir. Não tenho ideia de por que devo buscá-la antes do casamento, ou algo assim. Não consigo perguntar porque estou de boca cheia.

Ela gruda o post-it na tela do meu computador: é o endereço de sua casa.




































Curtinho, eu sei, mas vai valer a pena, eu juro...

Um beijo e obrigada por ler.

Moranguinho, não esqueça a estrelinha.

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora