Eu quero mais

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Nós duas deixamos suspiros de alívio escapar. É inútil mentir sobre o motivo de eu estar ali, na calçada molhada em frente ao seu prédio.

E digo molhada com propriedade, porquê minha calcinha implora para ser tirada por ela.

Começamos apenas respirando o ar que sai pelas narinas uma da outra, mas logo a pressão em nossos lábios ganha força e nossas bocas se abrem.

Falei mais cedo "que importância isso tem?".

Para mim, infelizmente, esse beijo importa.

Os músculos em meus braços começam a tremer pateticamente contra o pescoço da Simone, e ela me abraça mais apertado, até eu sentir que tomou conta de mim.

Meus dedos se curvam em seus cabelos e eu puxo aqueles fios sedosos. Simone geme contra minha boca.

Nossos lábios se entregam à luxúria do beijo. Deslizam, empurram, escorregam.

A energia que costuma nos açoitar inutilmente agora tem uma válvula de escape, forma uma corrente elétrica entre nós, circulando dentro de mim e invadindo Simone. Tesão.

Meu coração se acende como uma lâmpada em meu peito, a luz se tornando mais forte a cada movimento dos lábios.

Consigo respirar e nosso movimento lento e sensual se transforma em uma série de beijos mais rápidos, com mordidas leves.

Ela está me testando, e percebo que guarda certa timidez. Sinto como se Simone estivesse me contando um segredo.

Nesse beijo, há uma fragilidade que eu jamais esperaria. É como reconhecer que um dia essa memória vai desaparecer.

Ela está tentando me fazer lembrar. É tão doce e amargo que meu coração começa a pesar. Quando minha boca se abre e eu tento entregar minha língua, ela encerra o beijo com um selinho suave.

Teria esse sido o último beijo?

– Meu beijo característico do primeiro encontro.

Ela espera uma resposta, mas deve ter visto em meu rosto que não sou capaz de articular nenhuma linguagem humana neste momento.

Continua me apertando em um abraço caloroso. Cruzo os tornozelos e olho em seu rosto como se jamais tivesse visto essa pessoa antes.

O impacto de sua beleza é quase assustador aqui, tão próxima, com esses olhos iluminados.

Nossos narizes se esfregam. O gosto dela na minha boca, minha boca tão desesperada por ligar-se novamente à dela.

Imagino ela em um encontro com outra mulher e um golpe de ciúme atinge o meu estômago.

– Está bem, está bem. Você venceu – admito quando recupero o fôlego. – Quero mais.

Empurro o rosto para a frente, mas ela parece não entender o sinal.

Por mais delicioso que tenha sido, esse beijo foi apenas uma demonstração do que ela é capaz. Preciso daquela intensidade que tivemos no elevador.

Um casal de meia-idade passa de braços dados por nós, estourando a bolha na qual nos encontrávamos. A mulher olha para trás encantada. Claramente somos adoráveis juntas.

– Meu carro está ali – aponto.

– Meu apartamento está ali – ela aponta para cima e me coloca cuidadosamente no chão, como se eu fosse de vidro.

– Não posso.

– Covardezinha.

Ela já entendeu qual é a minha. E agora é a minha vez de lançar algo completamente sincero.

– Está bem, eu admito: estou morrendo de medo. Se eu subir, nós duas sabemos o que vai acontecer.

– Por favor, explique.

– Ou Algo Assim vai acontecer. Aquela coisa de que falei outro dia. Não vamos chegar vivas à entrevista na semana que vem. Nós duas vamos ficar aleijadas na cama, com os lençóis rasgados.

A boca dela se inclina no que acredito que será um sorriso capaz de explodir meu coração, então me viro e aponto na direção do carro.

Dou o primeiro passo e começo a andar.












Já que tinha alguém triste, tome mais um hoje.

Deixa a estrelinha, porque os rascunhos acabaram e a autora tem que ter motivo para escrever mais.

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora