Jogo de amar

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Me sento sobre os calcanhares e analiso seu quarto. Simone colocou o Smurf que lhe dei ao lado da cama. Também estão ali as rosas brancas, agora já com pétalas murchas. Ela não tinha vaso, então usou um pote de vidro. Fecho os olhos. Por um instante, não consigo me mexer.

Eu amo tanto essa mulher que é como se uma agulha me perfurasse e me golpeasse, fazendo mais buracos, costurando o amor dentro de mim. Jamais conseguirei me libertar desse sentimento. O amor certamente é esse novo tom de marrom da sua parede recém pintada. Misturado com o azul escuro que cai muito bem nela.

Quando seus pés aparecem na passagem da porta, pego minhas roupas sujas e as abraço.

– Nem pense em olhar a minha calcinha.

Me sento em sua cama. Deslizo a mão pelas cobertas, tateando os fios sedosos. Afundo o punho em seu travesseiro. Ela sonha. Ela vive. E vai fazer tudo isso sem mim.

Simone me encontra sentada aqui, com a cabeça apoiada nas mãos.

– Moranguinho – chama, e sei que seu pesar é sincero.

É a mais estranha das situações. Preciso confiar nela. Justamente na única pessoa em quem não devia acreditar, mas estou quase explodindo enquanto tento guardar o meu amor em segredo. E isso me machuca.

– Converse comigo – pede. – Quero saber por que está chateada. Me deixa te ajudar a resolver isso. Você está tão ansiosa e isso está me deixando preocupada.

– Eu tenho medo de você.

Tenho medo que descubra meu maior segredo, meu mais novo segredo. Simone não parece ofendida.

– Eu também tenho medo de você.

Ela senta do meu lado passa a mão em conforto na minha coxa. Não posso deixar de ficar arrepiada e ela percebe.

Ela se aproxima com olhos de compaixão e segura meu rosto para olha-lá.

Quando nossas bocas se tocam, é como se fosse o primeiro beijo. Agora que tenho seu amor azul e marrom correndo dentro de mim, a intensidade se torna opressiva demais. Tento me afastar, mas ela me mantém ali. Pressionando minha cintura em sua direção.

– Seja corajosa – diz. – Vamos, Sory.

Meu coração está na boca e encontra seu hálito quando nos beijamos outra vez. Percebo meu corpo tremendo quando Simone consegue saborear meu medo.

– Ah... – continua. – Acho que estou começando a entender qual é o problema.

– Não, não está.

Viro o rosto de lado. O sol está se pondo neste dia confuso e a luz que passa por suas cortinas é perolada e linda. Todo esse instante congela e, com a data de hoje carimbada, é registrado em minha memória.

Simone me beija como quem me conhece. Como quem me entende. Ergo a mão para afastá-la, mas ela entrelaça os dedos aos meus.

Mordo um dedo e ela sorri diante de meus lábios. Deslizo o joelho para cima só o suficiente para me distanciar, mas ela segura a minha perna.

– Você fica linda quando está com medo – garante.

Não consigo dizer nada enquanto ela esfrega a boca em meu ouvido. E suspira. Meu mundo se estreita um pouquinho mais.

Quando Simone beija minha nuca, sei que está pensando em todos os meus pequenos milagres internos e a primeira lágrima se forma em meu olho. Ela escorre pela bochecha, pelo pescoço.

– Agora estamos chegando a algum lugar – declara enquanto seca a minha lágrima com o polegar.

Encosto a mão em seus cabelos e a puxo para junto de mim enquanto ela dá beijinhos suaves em meu pescoço. Cada um desses beijos me deixa mais apaixonada. Quando encosta a mão em meu torso, estremeço.

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora