Em uma sala adjacente ao salão de baile, passamos quase duas horas interagindo em vários níveis de desconforto na recepção regada a uma quantidade infinita de champanhe.
Quando digo interagindo, quero dizer que forço Simone em uma sucessão de encontros sociais com parentes distantes enquanto ela fica ao meu lado, me observando beber champanhe para acalmar os nervos, o que queima meu estômago vazio como se fosse gasolina. Toda vez que sou apresentada a alguém, a sensação é essa.
– Sory, esta é a minha tia Yvonne, irmã da minha mãe. Yvonne, Soraya Thronicke.
Quando essa tarefa é concluída, ela começa a se ocupar acariciando a parte interna do meu braço, abrindo as mãos em minhas costas para encontrar a pele nua sob meus cabelos ou entrelaçando e soltando nossos dedos. Sempre me encarando.
Simone quase não consegue parar de me olhar. Provavelmente está impressionada com minha capacidade de jogar conversa fora com as pessoas.
Depois de um tempo, é levada por sua mãe ao jardim e eu observo pela janela enquanto ela posa para fotos com vários membros da família. Seu sorriso é forçado.
Quando ela me vê espiando, sou conduzida para o lado de fora e posamos diante de uma linda roseira. Quando ouço o clique do obturador, aquela versão antiga de mim mesma acena uma negação e se pergunta como chegamos a esse ponto.
Simone Tebet e eu, capturadas lado a lado na mesma fotografia e sorrindo? Cada novo acontecimento entre nós duas parece a realização de algo impensável.
Ela me faz virar e segura meu queixo. Ouço o fotógrafo dizer "linda". Mais um clique da máquina fotográfica e esqueço o mundo assim que seus lábios tocam os meus.
Queria poder afastar nossas antigas desconfianças, mas isso tudo se parece demais com um sonho. Do tipo que eu devo ter tido uma vez na vida e me odiado depois.
Vejo Eduarda e Renata do outro lado do gramado, em uma posição romântica clichê diante de outra câmera e então me dou conta de que também estou em uma posição romântica clichê.
A mulher que me odiou por tanto tempo agora está me exibindo aos outros, me puxando para perto de si.
Voltamos para dentro e ela beija minha têmpora. Sua boca desliza para perto do meu ouvido e ela me diz que sou linda.
Tenho de me virar outra vez para ser apresentada a mais alguns parentes.
Simone realmente está me exibindo.
O que ainda não consegui entender é: por quê?
Cada vez que sou apresentada a alguém, depois de conversarmos sobre como Renata estava linda e como a cerimônia foi maravilhosa, sempre surge a pergunta inevitável.
– E Sory, como foi que você conheceu a senhorita certinha, Simone Tebet?
– A gente se conheceu no trabalho – Simone respondeu da primeira vez, quando o silêncio se estendeu por tempo demais.
Depois disso, essa se tornou minha "resposta padrão".
– Ah, e onde vocês trabalham? – é a próxima pergunta.
Ninguém da família tem a menor ideia de onde Simone trabalha ou do que faz. Eles se sentem desconfortáveis, como se ter abandonado a faculdade de Medicina fosse algo de que se envergonhar. Pelo menos trabalhar para uma editora parece ter glamour.
– É tão legal vê-la com uma namorada – outra tia comenta.
Ela me lança aquele olhar significativo. Talvez corram por aí rumores de que Simone é realmente gay.
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Jogo do amor - Ódio
RomanceSoraya e Simone são completamente opostas, mas obrigadas a trabalharem juntas elas aprendem a conviver na base do jogo do amor ou ódio... Uma convivência que leva ambas a descobrirem sentimentos que antes não eram sequer possíveis e que transforma a...