Gar e Rachel - Melodias do Caos

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Sempre apreciei o cuidado de Gar com toda a equipe, ele parecia ser sensível ao mesmo tempo, o mais forte entre nós.

Gar sempre me ajudou nos meus pesadelos, na verdade ele sempre me ajudou em tudo, desde que fugi daquele convento.

Gar deve ser a pessoa mais bondosa que realmente expõe isso, mas também se torna imprevisível quando machucam alguém que ele ama.

Somos o completo oposto e mesmo assim nos tornamos melhores amigos, a verdade é que não tenho como agradecer tudo isso.

Passei o resto do dia no quarto lendo, hoje é domingo e nossa folga de tudo e por isso dediquei meu tempo lendo.

O antigo livro de feitiços da minha mãe que achei naquela casa ao acabar com meu pai me ajudou a aperfeiçoar minha magia.

Mas também me fez sentir estranha, não sei como explicar, como se aquele livro me tornasse poderosa de outras maneiras.

Deito e cruzo as pernas para apoiar o livro, diversas vezes vi aquelas imagens em outros livros, mas não sabia que tinham ligação direta com magia negra.

Olhei para a janela e estava quase escurecendo, já estava me preparando para outro pesadelo antes mesmo de dormir.

Pousei o livro na cômoda e fechei as cortinas usando magia, depois fechei os olhos de tanto cansaço de ler.

Respirei fundo e caí em um sono profundo.

Abro os olhos novamente e me vejo acorrentada, como no outro sonho, mas vi um par de botas pretas e levantei meu olhar.

Meu pai estava ali em sua forma humana, mas seus olhos estavam vermelhos.

Não gosto da maneira como ele me encara, como se estivesse se segurando para não me torturar agora.

Estou no meio das velas, novamente.

Sinto meu corpo esquentar e o medo penetrar pela minha pele e se fundir com meus músculos.

Mas o medo não é o meu, são das almas que caminhavam ao longe com o peso da redenção em suas costas.

Almas sofridas, que certamente pecaram muito para estarem ali nos domínios de Trigon.

De repente trombetas soaram, e aquela música começou novamente, fazendo com que até os fios da minha nuca se arrepiassem.

-Você acha, Rachel, que me derrotou simplesmente? Você não usou nem um quarto dos seus poderes e acha que pode me deter?

Sua risada se tornou sombria, as primeiras notas daquele maldito coral prostrado logo no palco cheio de vitrais estava me torturando.

Senti a dor na minha cicatriz da cintura, juntamente com a pedrinha vermelha queimando na minha testa.

Tentei levantar minhas mãos, mas as correntes foram puxadas para trás me impedindo de me movimentar.

-Você achou, por algum momento que eu não poderia mais retornar? Rachel, você é tão ingênua, igualzinha a sua mãe.

Citar o nome daquela mulher desencadeou em um misto de sentimentos, traição e abandono.

-Eu sei o que você sente agora, sabe que irá sempre levar punhalada nas costas das pessoas que confia. Você sente medo, eu adoro me alimentar do seu medo.

-Você não sabe de nada! Cale a boca, você nem deveria estar aqui, eu te derrotei!

-Hahaha! Me derrotou? Será que não percebeu que não preciso mais de você para canalizar meus poderes?

Meu coração parou, depois acelerou novamente e ele me olhou com uma expressão divertida.

-Até mesmo você sente medo, sente medo de que tudo volte a ser o caos, mas uma novidade: eu vou fazer isso se tornar possível!

-Não! Eu não vou deixar você voltar!

-Você não pode me impedir, eu sou muito mais poderoso que você, e se eu acabar com você dessa vez, você irá morrer.

De repente os gritos de agouros se intensificaram, juntamente com aquele coral, aquela música me afetava e Trigon se divertia com isso.

De repente ele se ajoelhou á minha frente e levantou meu queixo com a mão.

-Você e seus amiguinhos também irão morrer, hahahahaha!

Ao encarar seus olhos vermelhos senti minha pele queimar, eu queria sair dali!

Acordo de sobressalto, recuperando o fôlego como se tivesse acabado de passar por um afogamento.

Passo as mãos no rosto enquanto sento na cama, minhas mãos se molharam do suor e meu cabelo grudou na testa.

Respirei fundo diversas vezes enquanto acendia as luzes, calcei minhas pantufas com o coração disparado.