Não gostava de lembrar como foi minha vida nesses últimos anos, me arrependi nos primeiros dois meses mas ainda tinha que restaurar o equilíbrio.

O povo de lá era muito cruel, diria que se igualava aos vilões daqui, mas eles tinham suas crenças e vi elas bem de perto.

Não preciso nem dizer que isso envolve sacrifícios de pessoas, tentei várias vezes fugir sem nenhum sucesso, optei por ficar e tentar acabar com aquela praga que assolava aquele povo.

Sou o Guardião do Vermelho, ou pelo menos era, pois ao aceitar expurgar as coisas ruins, impus a condição de voltar para cá e agora que finalmente estou aqui me sinto um pouco deslocado.

Faz quase dois anos que eu não sorria, não tinha motivos para isso, pois estava longe da minha família.

Senti falta das pessoas e dos meus discos de vinil, arrisco dizer que esqueci a letra da maioria dos meus artistas preferidos.

Terminei de me vestir e me deitei na cama, abrindo uma revista em quadrinhos do Batman, que por ironia é o Bruce Wayne.

Mas o cara ficou tão famoso que até fizeram revistas em quadrinhos (sem nem saberem su identidade, apenas por ele ser um herói foda).

Já lidamos com o coringa indiretamente antes, quando nossa missão era Gotham e a criminalidade por lá estava altíssima, mais do que o comum.

Jason meio que foi morto pelo coringa mas depois um cara doido capanga do espantalho reviveu ele no poço de judas, depois Jason se aliou ao espantalho e virou o Capuz Vermelho.

Não vou contar o resto pois vocês já sabem.

De repente escuto batidas na porta e quando fui me levantar, Rachel entrou e fechou se encostando nela bastante tensa.

-Rachel?

-Eu sei que eu devia ter vindo aqui ontem á noite, mas eu precisava de um tempo pra assimilar aquele pesadelo. -ela disse se sentando na minha cama e me arrastei até ela.

-Tudo bem se não quiser me contar, eu só queria te acalmar de alguma forma.

-É que eu me sinto tão vulnerável quando tenho esses pesadelos, eu me torno outra pessoa.

-Eu meio que sei disso.

Rachel começou a chorar, mas o tipo de choro que uma pessoa tenta aguentar até o último segundo mas a coisa explode e sai do controle.

Não tive outra reação senão colocar meu braço em volta dos seus ombros e a puxar pra perto, como nos velhos tempos.

Mas pra minha surpresa ela retribuiu isso e passou os braços em volta do meu peito.

Apenas a puxei para mais perto, de forma que o cheiro de framboesa de seus cabelos penetrassem até no meu cérebro.

Tinha boas recordações desse cheiro.

-Depois que você se foi eu não tinha mais ninguém pra falar dos meus pesadelos...-ela enterrou o rosto no meu peito e senti o tecido se molhar.

Um peso no meu peito se formou, de repente um nó na garganta me impedia de falar, apenas me desculpar.

-Você tinha a Kory e o Dick.

-Mas eles não eram você. -ela ainda estava decidida a esconder o rosto.

-Eu não devia ter ido naquele lugar, eu não devia ter deixando você aqui a mercer dos seus pesadelos. -trinquei o maxilar.

Só agora entendi que foi uma péssima idéia ter ido, mas não apenas por mim mas sim por Rachel.

-Gar...-ela levantou seu rosto, eu sei como ela odiava que a vissem chorar, mas o que ela não sabe é que eu a vi assim mais de uma ou duas vezes.

Ela se deu conta de que estava muito próxima e de repente se afastou, secando as lágrimas.

-Não foi um erro você ter ido, se não fizesse isso o Red iria contaminar nosso mundo.

-Eu sei, mas por que justo eu? Eu poderia ter continuado aqui perto de você. Rachel, me conte sobre seu pesadelo.

Ela respirou fundo e começou a falar, enquanto eu a escutava via que seus olhos se enchiam de lágrimas novamente.

-Vamos jogar Mario Kart.

-O que?

-Vamos deixar de nos preocupar com esses pesadelos por hoje, estou com saudade de massacrar você no videogame.

-Gar, eu acabei de falar algo sério e você quer jogar?

-Nos velhos tempos isso funcionava, quero te distrair ao máximo e durante a tarde conversamos sobre isso.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora