Faz quase uma semana que me recuso a sair do quarto ou receber alguém, meu passatempo tem sido maneiras de arrancar esse coração de dentro de mim.

Eu não me importo se acabar sendo morta, mas eu precisava destruir essa maldição, precisava destruir qualquer resquício da existência daquele monstro.

Foram anos de tortura psicológica graças aos seus pesadelos e sua manipulação, mas aquilo tinha que acabar de alguma maneira.

Meu banheiro estava manchado de sangue em todos esses dias em que tentei alguma coisa, mas meus poderes de cura estão ainda mais acelerados do que antigamente.

Eu mesma não consigo me machucar sem que me cure segundos depois, aquilo era uma tortura.

Pelo menos duas vezes por dia algum membro da equipe batia na porta e nesses momentos eu tinha que fazer total silêncio com minhas tentativas falhas de perfurar meu próprio peito.

Estou nesse momento de sutiã e uma calça preta, ambos manchados de sangue.

Tenho uma faca em minha mão e muita determinação, essa pode ser a minha ruína mas não me importo em me ferir para tirar essa maldição de mim.

Mas de alguma forma, cada vez que me machuco me torno ainda mais impaciente e irritada, minhas oscilações de humor têm sido mais fortes e tenho medo de machucar alguém se sair desse quarto.

Encaro a faca pela centésima vez só nessa semana, ignoro a fraqueza pela perda de sangue e ignoro o mau odor daquele banheiro sujo do meu sangue que agora tinha a coloração roxa.

A cada dia que passava eu podia sentir meu lado demoníaco predominando cada vez mais, minha humanidade escorria pelos meus dedos como se fosse água.

Inspirei com força e direcionei a ponta da faca para o meu peito bem acima do meu coração.

Encaro a minha imagem no espelho, tão pálida e obscura como antes, meus olhos com manchas negras ao redor.

Seguro minha respiração e forço a ponta da faca contra a minha pele.

Reprimo um grito enquanto afundo lâmina na minha pele, sentindo meu sangue escorrer pelo meu corpo, o tornando mais gélido.

Mas quando retirei a lâmina, ela tinha derretido e antes que o buraco se fechasse tentei usar minha magia para alargar ele até onde minha mão pudesse entrar.

Sentia minha pele rasgar, queria gritar mas sabia que se eu fizesse isso alguém iria invadir o quarto.

Enfiei minha mão sem olhar no espelho ou iria acabar vomitando, mas assim que o toquei minha mão queimou.

A retirei grunhindo de dor e para o meu azar alguém deve ter ouvido pois logo ouvi passos na porta e batidas frenéticas.

-Rachel abre essa porta agora!! -era Gar.

Isso me distraiu o bastante para que o corte se fechasse, caminhei até a porta do banheiro cambaleante e caí no chão.

Não consegui respirar direito e ainda por cima deixei uma trilha do meu sangue demoníaco enquanto me arrastava para perto da janela.

Ouvi um apito e olhei para o sistema de segurança da porta, a luz não estava mais vermelha.

Ela se abriu e Gar entrou no quarto olhando para a trilha de sangue até chegar até mim.

Minha visão continuava roxa, mas embaçada e meu corpo inteiro formigava.

Gar não pensou duas vezes e correu até mim, se ajoelhando ao meu lado.

Seu toque machucava minha pele, mas nem tanto, o encarei sem conseguir falar direito.

Minha visão ficou escura e entrei em desespero enquanto minhas mãos tateavam o rosto dele.

De repente tudo ficou frio e não senti mais nada.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora