Falei com o coração disparado, os homens se encararam por alguns segundos com expressões sérias.

-Vamos tentar, mas se não der em nada iremos matá-la. Temos um acordo?

Respirei fundo com dificuldade de levar o ar aos pulmões.

-Temos.

-Pois bem, vejo que já definiu o Círculo Celestial. Coloque ela deitada aí no meio e despeje um pouco de vinho ungido pelos deuses em toda a extensão do círculo sem transbordar. O resto você já sabe como fazer.

Os homens voltaram para dentro e satisfeito carrego Rachel em meus braços e a deito no meio do círculo.

Pego o vinho ungido pelos deuses encima da prateleira e destampo a rolha.

Pego a adaga e corto a palma da mão, fazendo com que meu sangue pingue dentro da garrafa.

Me ajoelho no chão e despejo o vinho com sangue em apenas um ponto, vendo o líquido correr entre os entalhes de madeira que fiz com a faca.

Guardo a garrafa sentindo a palma da mão arder, mas não me importo, me ajoelho no chão ao lado dos outros xamãs com o meu cajado estendido sob o corpo dela enquanto eles oram em uma língua diferente que ouvi poucas vezes.

Depois de alguns minutos, finalmente meu cajado começa a esquentar e sinto meu corpo sendo sugado.

Me levanto e me vejo na mente de Rachel, mas diferente das outras pessoas que já fiz isso, a mente dela não tinha absolutamente nada.

Com nada, eu quero dizer apenas escuridão.

Sinto uma sensação estranha rastejar por debaixo da minha pele.

Era desespero.

Nunca me senti tão aflito antes, como se eu sentisse as emoções dela.

A vejo á minha frente sentada em um trono feito de ossos, com uma coroa acima da cabeça.

Mas ela estava muito diferente.

Sua pele se tornou avermelhada, quatro olhos amarelos em seu rosto e chifres.

Eu nunca pensei que veria a verdadeira forma demoníaca de Rachel e agora estou presenciando isso.

Olho para as paredes de sua mente e vejo almas escravizadas, cada vez que olho para elas sinto o desespero aflorando cada vez mais.

-O que faz aqui, Garfield? -ela disse isso com um sorriso.

Seus dentes são pontudos como de um tubarão.

-Me responda! -ela grita e tudo em mim se arrepia, as almas começam a se esconder com medo.

Esse medo me afeta.

-Eu vim aqui te salvar, Rachel. Quero te salvar!

-Hahahahaha! -sua risada demoníaca me fez vontade de me esconder, assim como as almas.

Não era qualquer risada, eu que tenho o poder de purificação sou totalmente sensível á coisas assim.

-Você não pode me salvar, devia se curvar diante dos meus pés e lamber os meus sapatos! -seu sorriso se alargou.

Não acreditei em suas palavras mas preferi levar isso como seu nível de insanidade.

Tentei me aproximar mais um pouco mas algo grudou em meus pés, duas mãos os agarraram.

-Rachel, me deixe explicar! Não precisa ser desse jeito, você não precisa se render ás trevas!

-Você vai me dar sermão de como devo me comportar? Eu posso te destruir em um estalar de dedos...

-Mas eu sei que você não vai fazer isso.

-Eu quero ouvir o que o inseto verde tem a dizer primeiro.

Ela cruzou as pernas e percebi que ao invés de pernas ela tinha cascos.

Respirei fundo, eu tinha que fazer isso dar certo antes do ritual acabar ou ela iria ser morta.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora