Terra

Acordo no meio da noite tendo pesadelos frequentes com uma mulher, mas o problema é que eu conheço essa mulher.

Polly.

Damon estava no bar no andar de baixo, atendendo seus clientes e dando á eles bebidas enfeitiçadas em troca de segredos ocultos.

Talvez ela já saiba sobre mim o bastante para solucionar meus sonhos?

Olhei para o relógio e percebi que faltavam quinze minutos para que ela retornasse para descansar.

Tomei um banho gelado e acendi um cigarro, olhando para as pessoas que iam embora lá embaixo.

-Não gosto quando fica pensativa desse jeito, quase quebro a promessa de não ler mais sua mente.

Ela se aproximou e me beijou na nuca, eu apaguei o cigarro e a abracei.

-Rebecca?

A forma que ela falou meu nome, preocupada, me fez apertar mais ainda enquanto lutava contra a vontade de chorar.

-Me diga o que tá acontecendo, eu senti sua energia ruim lá de baixo.

Ela acariciou meus cotovelos e me guiou até a cama, não ousei encarar seus olhos.

-Eu fiz uma coisa horrível pra provar lealdade ao meu pai...-falei, tentando regular minha respiração.

Ela não tentou em instante algum ler minha mente, isso me deu mais confiança.

-Tenho tido pesadelos constantes com uma garota e...

-Céus, quantas mais você pegou antes de mim? Desculpe -ela se adiantou ao ver que eu não reagi a sua piada.

-Polly era uma garotinha que eu fiz amizade, ela parecia ser a única pessoa que me entendia. Ela vivia nas ruas, mas sempre dei um jeito para que ela nunca passasse fome ou frio, mas certo dia meu pai descobriu isso e quis que eu provasse minha lealdade. Na época, eu não entendia muito bem certas coisas, eu ainda era uma pré adolescente treinada para matar assim como Rose. O acordo era que eu matasse a garota para que eu subisse de degrau da confiança dele em mim, mas ele me manipulou de uma forma que...

Eu ainda não encarei os olhos dela, mas ela permanecia fazendo carinho na minha mão.

-Ele me disse que Polly era filha de um inimigo dele, que tinha parado nas ruas por ter ajudado ele á o atacar, mas eu não entendi muito bem...eu não ousaria desobedecer o destruidor, mas também queria ser tão respeitada quanto Rose. Eu queria ser a Rose, por ela ser a mais velha e forte, ela parecia não ter emoções e era disso que ele gostava...até que fiz a pior coisa da minha vida.

Forcei o ar a entrar em meus pulmões enquanto ainda evitava encarar Damon.

-Eu matei a única pessoa que me ouvia e me dava uns conselhos sobre a vida. A única pessoa que eu já tive uma empatia durante meses, eu não deixava faltar nada pra ela e ainda sim tive coragem de tirar a vida dela...para no fim descobrir que não havia pai inimigo algum, que tudo foi uma manipulação pra...

Me aproximei num ato involuntário e afundei meu rosto no pescoço dela, deixando minhas lágrimas caírem.

Ela me segurou em seu colo, por mais que os soluços fossem fortes, ela continuou tentando me acalmar.

-Eu sou uma pessoa ruim, né?

-Meu bem, ninguém é totalmente santo nessa terra. Mas...não foi culpa sua, você foi manipulada.

Permaneci calada, enquanto deixava as lágrimas escorrerem.

-Você tem que entender que você foi uma criança cercada por traumas, isso não parou apenas na adolescência.

-Eu tinha que ter feito algo...

-Você estaria morta se não tivesse feito isso, ele não é seu pai de verdade e você era apenas uma peça no tabuleiro dele que precisava ser testada ou descartada e acredite, o descarte não seria nada bom.

-Eu não deveria ter me aproximado daquela garota...

-Rebecca, você não sabia. Não sabia que aquilo seria algo mais profundo, por isso não se culpe.

-Eu ganhei o respeito que queria, mas em troca de quantas vidas perdidas nas minhas mãos? Eu sujei minhas mãos de sangue por um filho da puta!

-Você fez isso para sobreviver, você pode não saber disso mas em algum momento viu que se não se dedicasse iria acabar morta.

Enterrei mais meu rosto em seu pescoço, relembrando dos últimos momentos de Polly com um tiro no coração.

-Você não pode viver no passado. Se serve de consolo, eu também passei por algumas coisas...mas matei por vingança.

Por um segundo levantei minha cabeça e a encarei.

-Simplesmente não podemos mudar o passado, Rebeca. Se mudássemos, talvez não seríamos quem somos hoje, não viveríamos o que vivemos hoje e não seríamos fortes.

-Eu poderia ter feito diferente se tivesse percebido antes.

-Pare com isso, aceite a vida como ela é e pare de se lamentar, pois não vai mudar nada. Eu vou estar aqui, mas você precisa esquecer suas amarguras e começar um novo capítulo da sua vida.

Suas palavras me repreendiam, mas não pareciam ser da pior maneira e sim para me ajudar.

-Vamos dormir, amanhã temos um longo dia pela frente.

-Ainda quer ir na festa? Você precisa tirar seu dia de folga pra descansar.

-Querida, eu não preciso dormir muito para descansar. E festas são meus passatempos preferidos, só que dessa vez iremos como namoradas.

Sorri com sua afirmação, logo que ela foi tomar banho se deitou ao meu lado.

Eu teria que ser diferente do que já fui se quero melhorar, pensei enquanto ela envolvia seus braços fortes ao redor de mim.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora