Garfield Logan

As últimas semanas têm sido torturantes para Rachel, mas as mais felizes de toda minha vida.

Sim, eu estava bastante nervoso com a expectativa de ser pai tão cedo, ainda mais eu que nunca tive nenhuma experiência com crianças para saber como agir.

Rachel ainda estava em estado de choque e calada, eu me pergunto o porquê.

Estávamos assistindo um filme quando ela pegou o telefone e começou a teclar sem parar.

Ultimamente ela tem feito isso, sempre escondendo a tela de mim de uma maneira quase imperceptível.

Pouso a mão em sua coxa e ela me encara, depois deixa o celular com a tela virada pra baixo do outro lado.

Fingi não estar incomodado com isso, ainda mais nessas últimas semanas que ela estava agindo estranhamente quieta demais.

-Kory parece estar satisfeita em saber que vai ter um menino. -comentei, tentando cortar aquele silêncio maldito.

-Dick vai ensinar artes marciais antes do menino entender sobre a vida, aposto.

Novamente o silêncio perturbador.

De repente Rachel se levantou novamente e entrou no banheiro para vomitar.

Vejo a luz fraca do celular virado com a tela para baixo e não penso duas vezes antes de virar a tela rapidamente.

Não vi a mensagem, pois não deu, mas vi o nome.

Doutor Phill Collins.

Virei a tela novamente e deixei o celular no lugar, depois capturei meu celular e joguei o nome dele no Google.

Phill Collins, prestigiado doutor novaiorquino que atualmente tem uma clínica em Paris. Obstetra de sucesso, com licença para fazer processos de aborto e fertilização em vidro.

Aborto.

Me levantei sem ter consciência de que estava com raiva por Rachel ter sequer pensado em fazer isso sem me contar e caminhei até o banheiro.

Ela me encarou do espelho enquanto limpava a boca, ela com certeza estava sentindo minha raiva.

-Por que não me contou que quer abortar nosso filho? -perguntei com a voz trêmula.

Ela parou imediatamente e se virou para mim, engolindo em seco.

-Você mexeu no meu celular?

-Eu só vi o nome dele na tela de bloqueio. Agora me diz, diz logo!

Ela suspirou.

-Gar, essa criança não pode nascer.

-E por que não?! -perguntei incrédulo para a mesma.

-Tem noção do que qualquer um que nasça metade demônio sofre por toda eternidade? É claro que não, você é de certa forma humano.

-Porra, Rachel. Eu não esperava que fizesse isso, ainda mais pelas minhas costas.

-Gar...

-Eu sou o pai, eu tenho os meus direitos e não posso simplesmente deixar você matar nosso filho!

Dei um soco na porta, indo em direção ao quarto e me sento na cama.

Rachel vem atrás de mim, mas não olho nos seus olhos.

-Eu não sei como fazer essa criança nascer sem sofrer as consequências, Gar. Ele vai ter os mesmos problemas que eu tive.

-Tem que haver um jeito, desmarque seja lá que dia que tenha marcado essa consulta, vamos dar um jeito!

-É amanhã.

A encarei, depois engoli em seco e fechei os olhos.

-Me desculpa, Gar.

-Você nem sequer pensou na possibilidade de ser diferente dessa vez...

Me levanto e pego meu casaco.

-Onde você vai?! -ela perguntou com a voz trêmula.

Olhei para ela e a vi chorando.

-Eu vou sair um pouco, eu preciso processar isso tudo e...

Apenas saí, a deixando sozinha em nosso apartamento, onde eu deveria não ter saído.

Caminhei por muitos minutos até achar um bar na cidade, onde me sentei na bancada e pedi algumas doses de vodka.

"Eu não posso deixar ela fazer isso com nosso filho..."

A cada gole, sentia minha garganta arder e minha visão destorcer.

"Talvez eu possa estudar mais a fundo a magia do Red e ver se..."

De repente uma idéia surgiu na minha cabeça, mas precisaria de mais informações precisas.

Ao meu lado, uma mulher se sentou e pediu um shot de conhaque e olhou para mim.

Ela de repente sorriu e jogou o cabelo para o lado, em uma forma fracassada de sedução.

Voltei a olhar para frente.

-Você não é daqui né? -ela falou em inglês.

-San Francisco. -falei secamente e tive a sensação de estar afetado até na minha voz pelo álcool.

-Não brinca! Minha família inteira é de lá, mas vim aqui a negócios com meu sócio.

-Ah, certo. Legal.

-Você é o menino vede dos Titans né? O mutano.

-É assim que andam me chamando?

-Pelo que dizem você consegue se transformar em qualquer animal, é mesmo verdade?

-Se você já viu um tigre verde por lá provavelmente era eu.

Era totalmente estranho conversar com uma civil sobre meus feitos heróicos, mas ela parecia fascinada demais.

-Como assim era? Faz um bom tempo que não vemos mais vocês por lá, o que aconteceu?

-Tiramos férias. -menti, pois não poderíamos falar sobre os novos Titans sem os tornar oficialmente os Jovens Titans.

-É uma pena. Eu sou jornalista de San Francisco, gostaria de fazer uma entrevista contigo.

-Foi mal, mas eu não faço entrevistas sem a permissão do Asa Noturna.

Ela pareceu um pouco decepcionada, mas não se afastou e, pelo contrário, até se aproximou um pouco mais.

-Minha irmã te acha bonito, mas devo confessar que pessoalmente é bem melhor.

Me afastei um pouco mais, ajeitando meu casaco e tomando mais um gole daquela bebida maldita.

-Algumas pessoas me disseram que te viram por aqui com a Ravena, que ela está trabalhando em uma cafeteria.

A encarei, perplexo pelo quanto de informação ela tem.

-E?

-A pergunta que não quer calar: vocês tem mesmo um romance? Desde anos atrás algumas pessoas se perguntam o mesmo.

-Por que está me perguntando essas coisas? -perguntei confuso e ela logo me respondeu com um sorriso.

-É meu trabalho, gatinho.

-Pois bem, eu e a Ravena estamos noivos. Noivos, por isso você não pode tentar me jogar charme nem se for pra apenas tirar informações de mim.

Paguei pelas bebidas e rapidamente saí dali, indo para junto da minha esposa.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora