Acostumar meus olhos nessa paisagem vermelha novamente foi difícil enquanto deitava Rachel na minha antiga cama.

Minha coruja ainda estava ali em seu ninho, seu nome é Erol e pelo seu tom vermelho supus que fosse branca na outra dimensão.

Escrevo uma carta rápida e amarro nos pés dela.

-Entregue isso para os xamãs, com urgência!

A coruja bateu suas asas e saiu através das janelas de madeira.

Procurei pelas prateleiras algumas poções com poderes curativos e fui até Rachel.

Coloquei sua cabeça no meu joelho e abri o frasco, despejando o conteúdo na sua boca pálida.

Coloquei meu indicador no seu pulso e percebi que seus batimentos desaceleraram um pouco.

A deixei ali e afastei a mesa do centro do quarto, onde tinha o desenho de um dos meus experimentos de purificação de uma garota da aldeia.

O reforcei talhando com a faca a madeira novamente, fazendo com que o ritual ganhe mais força.

Folheio o livro, ele estava exatamente onde o deixei quando parti e isso significa que ninguém mexeu nas minhas coisas.

Não se atreveriam, eu sou o guardião desse lugar, mas eu não me importaria nenhum pouco se fizessem.

Meia hora depois, me vi medindo a pulsação de Rachel pela terceira ou quarta vez.

A porta se abriu e me levantei, vendo os três xamãs entrando no quarto com seus cajados e trajes especiais vermelhos.

(A língua deles é outra, então vai ser como se fosse uma tradução!)

Assim que puseram os olhos em Rachel um deles se aproximou com uma expressão aflita.

-Ela emana energia ruim. -ele disse enquanto estendia o braço acima dela -uma energia destruidora.

Outro se aproximou e fez a mesma expressão, fitando o rosto de Rachel.

-Creio que não possamos fazer muita coisa, alma tomada pelas trevas. Muito caos, muito ódio no coração.

-O coração. -o outro disse com os olhos fechados. -o coração impregnado de forças malignas.

-Temos que pelo menos tentar! -eu falei, dessa vez perdi a postura exigida.

Os três me fitaram por um instante.

-Você a ama. Mas isso não é o bastante, jovem Guardião. Ela mesma tem que escolher se curar do próprio coração maligno.

-Receio que não podemos fazer nada por ela a não ser a extinguir.

-Não! Eu não vou permitir que vocês a matem, eu a trouxe aqui para ter uma cura!

-Mas não há cura! -o homem fitou Rachel mais uma vez, depois se aproximou vendo de perto as manchas escuras dos olhos dela -ela tem as forças demoníacas por todo o corpo, impregnada pela insanidade e quando acordar...

-Pode ser o fim.

-O que...o que querem dizer com isso?

-Ela é herdeira do Destruidor de Mundos. O coração insano daquele demônio bate no peito dessa criança.

-Eu tive que fazer isso para salvar ela, tem que ter uma chance de reverter isso!

-Você fez isso e assinou a destruição das dimensões que sobraram, pelos deuses, temos que a destruir!

-Eu não vou deixar que encostem um dedo nela se for para a matar!

-Se não a eliminarmos, ela vai destruir tudo! Ela é a perdição, a morte e o caos, os mundos vão ser extinguidos! -o homem se aproximou de mim.

-Vamos dar algumas horas para o jovem Guardião pensar bem.

Eles iam sair da sala, tive que fazer alguma coisa.

-Não se esqueçam do que eu fiz por essa dimensão, eu salvei todos vocês da morte! Eu me dediquei á eliminar as trevas, erradiquei tudo, acabei me ferindo até quase morrer pelo bem desse povo, vocês me devem isso!

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora