Garfield Logan

O rosto de Rachel foi arranhado pelos cacos de vidro e pequenos feixes de sangue escorriam pela sua testa e bochechas.

-Você tá machucada. -digo me aproximando e ela se encosta na pia.

-Fica longe de mim...é perigoso.

-Eu já lidei várias vezes com seus surtos de poder antes, me deixe tirar esses cacos do seu rosto.

-Não, eu posso fazer isso sozinha.

Tarde demais, peguei a caixa de primeiros socorros no armário e pousei na pia ao lado dela.

A garota era o sinônimo de tensão em pessoa, ela olhava para um ponto fixo na parede mas eu podia sentir a aura ruim vindo dela.

Molhei o algodão no álcool e estava disposto á cuidar daqueles ferimentos nem que eu saísse machucado daquilo tudo.

Me aproximei de Rachel e quando fui tentar aproximar o algodão das suas feridas elas já haviam fechado.

Olhei para os seus olhos e eles continuavam com as pupilas roxas e dilatadas.

Ela de repente deu um tapa na minha mão, fazendo com que o algodão caísse no chão.

-Eu tô bem, agora sai daqui Gar, eu não quero te machucar! -sua voz estava trêmula mas seu olhar emanavam um ódio desconhecido.

-Rach, você subestima minha vontade de te ajudar. -digo fechando a caixa de primeiros socorros.

-Gar, é sério! Eu não quero ter que ver você machucado denovo numa crise de raiva minha!

-Mas eu não me importo de sair machucado, será que você não entende que é pra isso que amigos servem?

Algo na expressão dela mudou por alguns segundos e vejo suas pupilas ficarem menores.

-Eu me sinto diferente desde que acordei. -ela falou enquanto caminhava de volta para o quarto.

-Diferente como?

-Diferente, Gar! Eu sinto raiva e desconforto pra onde eu vou, e eu também não quero mais ir pra aquela droga de baile!

-Mas o Aqualed te convidou.

-Não é como se eu quisesse realmente ir, ainda mais com ele, mas...-ela evitou olhar pra mim e foi até a estante de livros. -eu não gosto de festas.

Aquelas primeiras palavras me fizeram ter uma outra perspectiva daquilo tudo.

Ela não queria ir para o baile e muito menos com aquele cara, isso já é alguma coisa.

-Eu preciso saber o que tá acontecendo comigo, eu não tenho mais pesadelos mas mesmo assim me sinto estranha, como se eu não fosse eu!

Meu pior medo seria que ela descobrisse a verdade.

-Rach, eu sei que você não tá se sentindo normal, afinal ter matado seu próprio pai...

-Os poderes dele podem ter sido transferidos pra mim.

Não tinha pensado nisso.

-Faz todo sentido, quando um demônio é morto por outro demônio tem a chance dos poderes serem passados...mas por quê eu tô me sentindo diferente? Eu posso sentir as emoções aflorando na minha pele.

Me calei, de repente não queria que a conversa chegasse nesse tópico em específico.

-Seja o que for, talvez tenha como você canalizar esses poderes para a magia branca novamente.

-Não tem.

-Deve ter alguma coisa que possamos fazer.

-É impossível purificar poderes realmente das trevas...por que acha que o meu cabelo e o meu traje voltaram ao normal? A pedrinha da minha testa desapareceu.

-Ela se quebrou.

-Como assim se quebrou?

-Ela não suportou tanto poder e quando você estava...-não gosto nem de lembrar -...enfim, a pedrinha se quebrou.

-Tenho os poderes de Trigon em mim e eu posso sentir, mas não sei como controlar, as emoções parecem estar dez vezes mais fortes.

-Eu vou buscar por ajuda, talvez lá em Azarath eles-

-Eu não posso voltar pra lá.

-Por que não?

-Agora sou maior parte demônio, eu seria expurgada se entrasse lá. Que merda. -ela se sentou na beira da cama.

-Rach.

-Hm?

Hesitei, estava a um fio de falar a verdade mas tive medo de sua reação e suspirei.

-Eu vou encontrar um jeito de te tirar dessa, eu prometo.

Rachel me encarou com uma intensidade no olhar e me retirei do quarto, com a consciência pesada.

Estava decidido, eu iria consertar a besteira que eu fiz.

Iria purificar aquele maldito coração sujo de trevas antes que ele a consumisse.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora