Rachel Roth

Gar voltou no fim da noite e apenas se deitou, mas tive a sensação de que ele não conseguiu dormir.

Fiz nosso café da manhã de uma maneira com os nervos atacados, pois queria uma resposta.

O vejo parado encostado na parede e ele logo se senta á mesa.

Ficamos em silêncio, logo senti algumas pontadas na barriga e deixei a jarra de suco na mesa para massagear a cólica.

Garfield não saiu do lugar mas se mostrou alerta.

-Acho que vou precisar meditar um pouco.

-Você tem a consulta hoje, Rach.

Ele tentou não falar de forma dolorosa, mas eu vi pela expressão dele que estava sentindo tristeza.

-Eu cancelei tudo. -falei, ainda sem sair do lugar.

Ele me encarou, parecendo atordoado então fui até ele.

-Deve haver um jeito, mas eu não sei como reverter isso sem medidas drásticas.

-O Vermelho.

-O que?

-O Vermelho. Eu posso fazer alguns estudos, quem sabe tirar um pouco da parte demoníaca da criança.

-Sabe o quão arriscado isso pode ser?

-Eu sei dos riscos, mas é melhor do que a impedir de nascer.  Rach, eu sei que você quer ter uma família.

-Mas...-comecei, me desestabilizando um pouco.

Ele se levantou e foi até mim, pegando minhas mãos e suspirando, depois me encarou.

-Eu sei o que deve achar de tudo isso, você sente que não pode ter uma família por causa do seu passado. Mas...ás vezes esquece que estamos juntos e que não sou nenhum covarde.

-Gar, não é isso...

-Estou dizendo que você tem medo de não ser uma boa mãe ou não saber o que fazer. Rach, estamos juntos nessa, eu não escolhi você como minha futura esposa por puro capricho.

Abaixei a cabeça, ele tocou exatamente onde eu não queria que ele tocasse e isso me deixou envergonhada.

-Eu tenho medo de acabar sendo como meu pai. -falei, encostando minha cabeça no ombro dele.

Ele me envolveu com seu calor, o calor que só ele tem, passando seus braços pelas minhas costas.

-Rachel, você se vê machucando ou maltratando nosso filho?

-Não! Eu não maltrataria...mas eu posso me descontrolar! Eu não sei, eu tenho medo de alguma coisa dar errado, sei lá! -me afastei, indo até a sala e comecei a contornar o carpete.

-Já sei qual o problema. Rach, você precisa relaxar meu amor! -ele falou com um sorriso e isso me deixou confusa.

-Relaxar? Relaxar! Gar, não dá pra relaxar enquanto tem uma coisa crescendo dentro de mim!

-Ah, tem sim! Senta aí que eu vou fazer algo pra gente comer, hoje é meu dia de folga e eu quero aproveitar.

Apenas o observei pegando algumas coisas das prateleiras e da geladeira, me sentindo rendida e me sentei no sofá com os braços cruzados.

Resolvi ligar a televisão, onde passava um documentário criminal do serial killer Richard Ramirez.

-Se as pessoas soubessem que servir a Trigon não dá tantos créditos quanto esperam...-rio, encarando o rosto do homem animalesco.

-Vai ver ele até ajudou, só que é como dizem, tudo o que é mal vai ser expurgado um dia.

Ouço o barulho do liquidificador, mas não olho para trás e encosto minha cabeça no travesseiro.

Acabo adormecendo sem aviso prévio, até que me vejo caindo no vácuo e aterrissando no meu sonho.

Em geral, mesmo depois de todas aquelas coisas meus sonhos continuam estranhos o suficiente para desconfiar de que é tudo uma conspiração.

Logo, o alarme do microondas me faz acordar de repente e vejo Gar tirando duas canecas de porcelana.

Ele as coloca em uma bandeja e vem até mim, as depositando na mesinha de descanso na frente do sofá.

-Tirou um cochilo? -ele se sentou ao meu lado enquanto mudava a estação.

-O que você fez? -cocei os olhos enquanto espionava o conteúdo escuro de dentro do copo.

-Bolo de caneca com cobertura extra de geléia de morango. Confesso que gelado é melhor, mas...

-Mas o que? Gar, não pode estar falando sério, eu estou grávida e não com uma febre letal.

Apontei o dedo para os copos e fiz com que o chocolate esfriasse.

-Eu sei, mas a senhorita deve maneirar um pouco no glúten. Isso aqui é um mimo, sinto que fui um idiota por ter saído.

-E você foi mesmo, um completo babaca por deixar sua noiva aqui. Afinal, onde você esteve?

-Bem, eu...

Mas ele focalizou seu olhar na televisão á nossa frente com uma expressão um pouco acanhada.

Peguei o controle e aumentei o volume assim que vi nossos nomes na descrição da reportagem.

-Que porra é essa Gar?!

"Os jovens heróis de San Francisco que vivem um affair, mais comumente conhecidos como Ravena e Mutano, irão se casar! Muitos especulam uma gravidez prematura para tal realização e outros afirmam que esperavam que o casal tivesse esse desfecho, mas o que não esperávamos é que eles estariam em Paris! Os relatos são reais e pelo que sabemos, a garota trabalha em uma confeitaria conhecida pela região e o rapaz é ajudante de cozinha de um chefe renomado da La France!"

-Que merda...como eles conseguem descobrir tudo sobre nós assim tão rápido?!

-Gar que porra é essa?! Me explica agora!

-Eu fui em um bar, tentar relaxar depois do nosso conflito e acabei encontrando uma mulher, ela falou que era jornalista e queria algumas informações.

-Você contou á ela que estamos esperando um filho e que iremos nos casar?!

-Não, Rach, eu não contei da parte do nosso filho, só que iremos nos casar. Ela estava dando encima de mim, o que mais eu poderia fazer?!

Me senti nervosa, larguei meu copo de chocolate pela metade na mesinha do centro.

-Por isso que você tá com um cheiro diferente. Ela encostou em você?

-Ela tentou, mas eu recuei.

-E você tava bêbado?

-Rach, nem se eu tivesse bebido um barril cheio de álcool eu iria deixar que ela me tocasse. Só você tem poder pra isso.

Ele me puxou para perto e deitei a cabeça no seu peito.

-Ok, eu acredito em você.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora