Gar foi para o quarto depois que chegamos, visivelmente abatido e agora eu sei porque ele odiava tanto o Red.

Kory e Dick ouviram atentamente o que aconteceu com paciência e compreensão, afinal éramos mais do que uma equipe.

Somos família.

Kory mantém suas mãos juntas às minhas enquanto Dick presta muita atenção, esse é a forma dele demonstrar que se importa.

-Foi horrível experimentar, mesmo que por alguns minutos, como é ser meu pai. Mas eu não pude me controlar, eu sinto que por pertencer o coração dele, algo mudou.

-Foi a mesma coisa quando seu pai entrou na minha mente, Rachel. Ele me fez voltar para o dia em que meus pais morreram, quando estive cheio de vontade de me vingar com minhas próprias mãos. Você viu tudo, me viu matando o Batman e mesmo assim entrou na minha mente e me salvou.

-Você me salvou quando eu precisava de alguém, agora somos mais do que uma equipe e confio em vocês.

-E pensar que você era só uma garotinha quando nos encontramos na delegacia.

-Ou quando eu incinerei o idiota do pai nuclear e te sequestrei só sabendo seu nome.

-Você veio pra terra com a missão de me matar, mas gostou tanto de mim que não conseguiu.

-Isso é verdade. Agora poderemos relaxar um pouco e viajar, não é Dick?

-Sobre isso, Kory...

-Compramos a passagem de avião e nosso vôo vai ser amanhã á noite, bem em tempo de ver o sol nascendo em Paris!

-Eu não vou estar aqui com vocês. -falei de uma vez só, vendo o sorriso de Kory murchar.

-Por que não? Kory me convenceu com o intuito de aproximar você e o Gar! -Dick falou descontraído.

-Dick! -ela o repreendeu e ele sorriu, mas depois voltou seu olhar pra mim.

-Eu preciso cuidar de mim antes de fazer alguma outra coisa pessoal...eu tenho medo de tudo sair do controle.

-Mas lá em Paris podemos relaxar o quanto quisermos!

-Kory, estou falando no sentido espiritual. Depois do que aconteceu semana passada e ontem...eu tomei a decisão de partir.

-Pra onde?

-Azarath. Eu sinto que preciso ir, eu preciso encontrar uma forma de purificar esse coração, não quero correr o risco de tudo sair do controle novamente.

-Nós...entendemos.

Dessa vez os dois me abraçaram e pela primeira vez em anos comecei a chorar.

-Nós vamos estar bem aqui quando voltar, somos uma família.

-Só não demore muito, acho que sem uma presença feminina por aqui Kory é capaz de surtar.

-Idiota! -ela o repreendeu.

Naquela noite...

Bato três vezes na porta de Gar e minha entrada foi autorizada com o comando de voz dele.

Entro me sentindo um pouco deslocada com as coisas que eu quero dizer, mas simplesmente não sei como me despedir.

-Gar.

Ele olha pra mim, me analisando antes de fazer um sinal para que eu me aproximasse.

Me sentei ao lado dele tentando parecer o máximo possível relaxada, mas o nó na garganta não me permite ter calma.

-Eu sei que você vai partir, não precisa ficar nervosa.

-Como você sabe?

-Eu meio que ouvi enquanto voltava da sala de controle. -ele falou mas dessa vez olhou pra mim.

-Gar, eu...

-Rachel, eu entendo completamente o seu lado de querer se curar e tudo mais e depois de ontem, eu não quero nunca mais ter que te ver daquela forma, não por ser assustadora, mas por ser sádica. -ele agora se virou para mim e pegou minhas mãos.

-Eu não quero te deixar aqui, mas eu preciso me tratar, eu tenho medo. -sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

-Eu vou ficar bem -ele estica o polegar para secar minhas lágrimas e me puxa para mais perto beijando minha testa. -eu não me importo de ficar longe de você se você for se tratar, sei que isso é para o seu bem.

-Para o nosso bem. Eu quero recomeçar como uma nova pessoa antes de tudo, mas...

-A sua preocupação é ficarmos longe, eu entendo. Mas eu sei que com isso você vai melhorar. -sua voz está trêmula.

Me afasto um pouco para o encarar.

-Você esperaria por mim?

-Sim, Rach. Só não demore muito, meu aniversário é daqui nove meses.

Rimos.

-Fica aqui essa noite, eu quero aproveitar meus últimos momentos com você.

-Não vão ser nossos últimos momentos.

-Você entendeu o que eu quis dizer!

Nos beijamos, mal prestamos atenção ao filme e acabamos dormindo abraçados pela primeira vez.

Eu amo o Gar, mas por esse amor eu vou ter que partir por um bom tempo para recomeçar.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora