Dick foi o responsável pelo interrogatório, eu não sei como ele conseguiu, talvez sua fama de melhor detetive tenha suas vantagens sob qualquer delegacia.

Oliver entrou no carro de Dick no banco de trás, não trocamos nenhuma palavra enquanto fomos em direção á casa dos meus pais.

Quando paramos, olhei apreensivo para a casa.

-Você não vem? -Oliver perguntou, mas neguei com a cabeça.

-Eu não vou aparecer na casa deles nesse estado. Se eles perguntarem, diga que fui direto pra casa.

Quis dizer torre, mas não acho que Dick iria gostar de saber que Oliver sabe de tudo.

Encarei a casa dos meus pais, mais cedo liguei pra eles para informar que Oliver iria dormir ali e a mãe também até que limpem a casa e troquem as fechaduras, reforçando a segurança.

Oliver sai do quarto momentos depois, posso ver o semblante abalado dele enquanto atravessa o jardim dos fundos, pois agora o restaurante funcionava e ele não queria chamar atenção dos clientes.

Respiro frustrado quando Dick dá a partida no carro, continuo frustrado até quando chegamos e nos sentamos no sofá.

Um curativo foi feito em mim na delegacia, mas ainda podia sentir a dor.

-Pelo depoimento que vocês falaram, eu tenho quase certeza que estão atrás deles por serem da família do meu antigo subordinado em Gotham.

Incapaz de pensar direito, apenas confirmo.

-Você teve uma recaída e eu me pergunto qual seria o motivo, esteve muito estressado nos últimos dias.

-É complicado. -ainda evito o olhar nos olhos.

Tenho medo de falar.

Ele se senta á minha frente e coloca a mão no meu ombro.

-Eu acho que sei o que está sentindo.

O encaro, depois desvio o olhar novamente.

-Eu não quero que me veja assim, eu só quero tomar um banho e dormir...

-Iremos conversar e você não vai fugir de mim dessa vez, vai Tim?

-Não.

-Eu não estou dizendo isso por ser seu mentor, além de tudo você assim como o Jason são como meus irmãos mais novos.

-Só por sermos Robin? -perguntei, pela primeira vez sendo totalmente honesto.

Ele ainda mantém o olhar fixo em mim e suspira.

-Não, Tim, isso não é sobre rótulos.

-Mas se eu nunca tivesse me tornado o Robin, talvez eu nunca tivesse parado aqui, nunca teríamos nos conhecido.

-Nos conhecemos quando você ainda não era o Robin.

-Eu sei, você entendeu o que eu quis dizer! -falei, me levantando. -porra, ás vezes eu tento, tento de verdade ser o suficiente mas parece que as pessoas saem machucadas!

Me deixo levar, dessa vez não me contenho como das outras vezes.

-Não contenha suas emoções, fale tudo o que sente e talvez eu possa te ajudar de alguma forma.

O encarei, sentindo meu peito ainda mais pesado e isso não tinha nada haver com meu estado físico.

-Eu não sei...

-Tem que haver um motivo pra isso, não? É melhor falar do que guardar, Tim.

Suspiro passando a mão no rosto, mas sem de fato sentir ela ou meu próprio rosto.

-Eu não sei por onde começar.

-Pelo começo seria uma ótima forma de se expressar.

-Oliver e eu...a gente meio que tem algo, mas ele descobriu que eu sou o Robin.

-Como ele descobriu?

-Lembra daquela missão em Gotham que ele foi junto comigo para a homenagem ao pai dele? Ele era a vítima do sequestro, Dick, ele descobriu!

-Como você deixou que ele descobrisse a sua identidade?

-Ele me reconheceu por trás da máscara, ele não é burro como os outros civis.

-Certo, continue.

-Ele se preocupa comigo, mas eu gosto de ser o Robin, se eu aceitar qualquer coisa com ele eu vou ter que deixar isso pra trás, mas eu não quero...

-...decepcionar o Bruce.

-É.

Dick suspirou e fez um sinal para que eu sentasse novamente, eu me sentei recostando no sofá extremamente cansado.

-Você não tem que sacrificar sua vida pessoal para agradar o Bruce.

-Mas..

-Eu já passei por isso, mas claro de uma forma diferente e me tornei o que sou hoje, Jason se tornou o Capuz Vermelho, mas uma hora chega a ser cansativo tentar viver para agradar aos outros.

Fiquei calado, digerindo tudo aquilo como se fosse algo ruim de comer, mas sem desperdícios.

-Bruce te acolheu como Robin, mas ele não nescessariamente te obriga a isso, foi sua escolha entrar e pode ser sua escolha sair disso tudo.

O encarei, não estava em condições de conversar com decência.

-Me diga o que você quer.

-Eu...eu não sei, eu realmente gosto do que faço, mas odeio ter que mentir para o Oliver fingindo que tá tudo bem quando claramente eu tô sendo egoísta.

-Pensar só em você não significa egoísmo.

-Eu realmente gosto dele, mas não quero me machucar com isso e também não quero abandonar tudo, isso seria...

-Tim.

O encaro novamente.

-Você quer realmente isso? Ser o Robin definitivo?

-Claro que quero.

-Sabe que quando isso acontecer, vai combater os crimes só em Gotham né?

Eu não tinha idéia disso.

-Como Robin definitivo, você vai estar totalmente a dispor de Gotham, sua vida pessoal vai ser arruinada e vai acabar como o Bruce, solitário.

Suas palavras me atravessaram como água fria.

-Tim, você tem mesmo certeza que quer isso? -ele perguntou, eu sabia que aquilo encerraria nossa conversa.

Não sabia o que responder, pareciam que minhas palavras feriam minha garganta como arame farpado.

-Não. Eu não tenho certeza de nada, eu tenho medo de parecer fraco, mas eu não posso ir contra meus ideais e levar uma vida solitária! -digo agora chorando.

Dick me puxa pra um abraço, eu nunca chorei na frente das pessoas mas me sinto confortável em chorar perto dele.

-Você não vai deixar de ser parte da família por escolher isso, pode continuar aqui na torre.

-...obrigado.

Gar e Rachel - Melodias do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora