58.

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ÁGATA.
Uma semana depois.

Tiro pra caralho, e o barulho me fez levantar corrida da cama, o que estava acontecendo nessa porra desse morro eu não sabia só sabia que estava escutando os barulhos de tiros.

Duarte não estava mais na cama comigo e nem em lugar nenhum da casa, minha irmã também já tinha ido embora, comecei a tremer, ser mulher desse homem era um inferno tinha horas.

Quem pensa que é só sucesso e muito luxo tá muito enganado, muito mesmo porque nem tudo são flores, viver do dinheiro do tráfico é bom mas não é mil maravilhas.

Eu honestamente já estava me cansando e eu esperava que ele aparecesse vivo dentro de casa porque ele ia escutar, a minha sorte é que eu ainda não tinha pegado barriga desse garoto e nem enquanto ele continuasse nessa vida, eu iria pegar.

Comecei a andar de um lado pro outro sem conseguir raciocinar o que eu faria, até escutar a porta se abrir e eu corri, meu coração acelerou diversas vezes, quando eu era mais nova que isso acontecia sempre era polícia e eu sempre me fodia mas eu não ia me fuder dessa vez.

Corri pro último quarto da minha casa até que escutei a voz dele.

Duarte: Ágata, sou eu! — ele gritou.

Abri a porta e corri em direção a sala, as portas estavam trancadas e as janelas abaixadas mas o que estava acontecendo aqui, era a única coisa que eu queria saber nesse momento.

Ágata: Que porra ta acontecendo aqui? — gritei.

Duarte: Operação Ágata, operação. — ele me segurou.

Ágata: E você vai trocar? — perguntei.

Duarte: Se eu não for que exemplo vou dar pros meus soldados? — ele me olhou.

Ágata: Você não precisa ir, você sabe disso.

Duarte: Ágata, eu tenho que ir. — ele falou. — Não posso falar muito, você tem que ir pra outro lugar.

Ágata: Não porra, eu não vou pra lugar nenhum. — gritei.

Então ele parou e me olhou, estava nervoso pelo que estava acontecendo no morro mas eu não queria saber de nada.

A única coisa que eu queria entender era até quando ele iria colocar o tráfico como prioridade acima de nós dois e acima da nossa família.

Duarte: Não se faz de difícil. — ele falou. — Você sabe como tudo funciona!!!

Ágata: Não, eu não sei. — parei na frente dele. — Eu não sou bandida, o único bandido aqui é você, até quando você vai ter mais amor por essa vidinha que você leva do que pela sua vida?

Duarte: Eu não posso largar as coisas assim...

Ágata: E pode largar quando? — olhei no fundo dos olhos dele. — Quando você morrer? Quando não existir mais vida em você? Quando uma bala atravessar seu peito e não tiver mais jeito nenhum?

Duarte: Ágata, depois conversamos... — ele me segurou.

Ágata: Duarte, não tem depois, eu to cansada da sua vida maluca, dos dias em que você some por causa de boca de fumo e de ter medo de você não voltar pra casa. — gritei. — Você tá iludido com essa merda toda!

Duarte: Você tá achando que é só entregar e sair? — ele me olhou. — Porra Ágata, logo você que me conhece de maior tempão falando uma merda dessa pra mim.

Ágata: Eu to falando porque eu não tenho preparo pra perder ninguém e eu não vou perder ninguém pra esse vida miserável que você escolheu viver. — falei.

Duarte: Eu não posso jogar tudo pro alto garota. — falou baixo.

Ágata: Isso só vai acabar quando você morrer ou quando você se enfiar numa cadeia!

Olhei nos olhos dele enquanto ele segurava o meu braço, as lágrimas estavam em meus olhos.

Ágata: E quando o pior estiver prestes a acontecer, você vai se lembrar o quanto eu te pedi e o quanto eu te avisei. — falei. — Eu to cansando.

As portas se abriram e o Novinho entrou, vieram na minha direção e eu amarrei o meu cabelo, eu tinha que da casa que eu morava porque o meu marido não tinha capacidade de largar essa vida e viver tranquilamente.

Isso me atormentava.

Novinho: Vamos Ágata. — ele me olhou.

Duarte: Eu prometo que eu vou voltar, só vai pra onde ele vai te levar, por favor! — ele falou.

Abaixei a cabeça e entrei o carro indo pra onde o Novinho estava me levando algum lugar bem escondido no morro mesmo mas dentro da casa que eu estava não dava mais pra eu ficar.

Pelo menos não naquele momento, os tiros tinha parado por alguns instantes e foi nesse momento que eu cheguei onde estava a Susanne, ela correu pros meus braços e me deu um abraço.

Su: Por que o Duarte não veio? — ela perguntou me soltando.

Ágata: Ele quis ir trocar porque ele tem que ser exemplo pros soldados dele. — falei com desgosto.

Su: Ele não precisa... — ela disse.

Ágata: E você acha que eu não sei? — olhei pra ela.

Novinho: Bebe uma água Ágata.

Ele me entregou o copo mas quem disse que eu queria tomar um gole que seja disso?

Meu coração faltava sair pela boca e eu tinha me esquecido completamente qual era a sensação de viver aquilo, foi tanto tempo vivendo assim mas eu tinha me esquecido de que eu ainda era mulher dele e que eu tinha voltado quando ele não tinha largado nada.

Meu coração palpitava, nesse momento você só esperava o pior mas enquanto eu esperava o pior eu só conseguia pedir a Deus que o guardasse e o protegesse mesmo com tudo.

Porra, o que mais me incomodava era a pressão de ver ele em algum canto e não saber quando ele voltaria pra casa ou se até mesmo voltaria, isso me destruía por dentro, me matava e me fazia me sentir inútil porque eu ficava sempre pensando no dia que eu perdesse ele.

Minha mente começou a pensar demais e eu comecei a sentir o que eu sentia quando eu era mais nova e isso começava, o meu mal era que eu me iludia com a paz.

Novinho: Você precisa se acalmar. — ele falou.

Ágata: Não, eu não preciso me acalmar. — olhei pra ele. — Eu preciso que ele volte e se esconda ao invés de cair pra dentro da bala achando que ele é um Deus.

Su: Ágata...

Novinho: É o cargo dele. — ele disse.

Ágata: O morro precisa dele vivo, não sei que adrenalina é essa que ele gosta de sentir.

Só precisava que ele voltasse pra casa e o resto eu resolvia.

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