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ÁGATA.

Su: Acabou? — ela me olhou aflita.

Ágata: Não sei... — olhei pra ela.

Os tiros haviam parado, tudo finalmente se acalmou lá fora mas o sentimento de aflição ainda não tinha acabado e enquanto eu não visse ele na minha frente, não iria passar nunca.

Esperei atordoada andando de um lado pro outro muito nervosa, minha mente não descansava e eu tinha observado hoje o quanto eu tinha mudado.

Se fosse a Ágata de antigamente tinha falado que era pra ele continuar e que estava tudo certo, no passado eu nunca tinha falado com ele da forma que eu falei sobre ele largar essa vida e mudar tudo.

Isso era uma coisa que eu tinha certeza que passava, antigamente eu era completamente emocionada, as coisas me chamavam atenção, a vida e o sucesso do tráfico e de ser mulher de traficante também mas uma coisa que eu não queria mais hoje em dia era perder alguém que eu amo pra essa vida.

Uma coisa que eu tinha colocado na minha cabeça era que, uma mulher que te ama nessa vida não ama você e eu amava ele.

Amava ele sim mas não a vida que ele levava então enquanto eu tivesse garganta, voz e saliva pra gastar, eu ia falar, ia falar e muito porque eu não ia aceitar construir uma família sabendo que a qualquer momento eu poderia alguém que eu amava pra isso.

Perder e ficar sozinha eram as últimas coisas que eu queria.

Já vi muitas amigas minhas ficarem sozinhas e com um filho nas costas mas eu não queria que esse fosse o meu futuro e nem o dele, não queria que ele se fosse tão cedo ao ponto de não poder construir um família comigo.

Então se ele me amava mesmo, ele que escolhesse onde ele ia entrar e ficar.

Ágata: Que inferno, ele não volta nunca! — bati meus pés.

Su: Calma! — ela falou.

Ágata: Não quero ter calma, não quero! — gritei. — Quero que ele volte.

Su: Ele vai voltar, sempre voltou.

Esse "sempre" que me matava, sempre, sempre mas tudo tinha um limite.

Que Deus tivesse guardando ele por todos os lugares que ele pisasse porque eu de verdade não tinha mais força e nem cara pra fazer nem metade do que eu já fiz por ele.

Já me sujei e sujei minhas mãos demais em função dele e eu nunca mais ia fazer isso.

Até que escutei a porta do lugar onde estávamos se abrir e o Novinho entrou primeiro, logo atrás veio o Duarte que veio até mim me puxando e me agarrando.

Duarte: Eu te disse pra ficar tranquila morena... — ele me deu um cheiro no pescoço.

Ágata: Não quero saber! — falei.

Novinho: Cheia de marra né. — ele riu.

Su: É preocupação.

Ágata: Me deixa vocês também. — falei. — Quero sair desse muquifo.

Duarte: Quer ir pra casa? — ele me olhou.

Ágata: Quero... — cruzei os braços.

Duarte: Mimada demais.

Novinho: Que isso...

Duarte: Mas vou te falar, essas horas lá deve tá tudo uma bagunça minha princesa.

Eu imaginava como a minha casa devia estar revirada de cabeça para baixo porque todas vez que esses vermes resolviam entrar no morro eles iam de casa em casa destruindo tudo por onde passavam.

Não queria ter tanto ódio de polícia como mas como não ter, se onde eles pisam e por onde passam eles bagunçam e destroem tudo, era uma coisa surreal.

Entramos no carro, eu, a Susu, o Duarte e o Novinho e fomos em direção a minha casa, assim que chegamos e eu abri a porta vi que era real parecia que dentro da minha casa tinha passado um furacão.

Ágata: Caralho! — falei.

Su: Nem adianta se estressar. — ela entrou atrás de mim.

Novinho: Papo reto, agora é agradecer que tem vida e não pensar em mais nada.

Duarte: Morena, a bagunça nós da um jeito. — ele falou.

Ágata: Mas cara, eles viram que não tinha nada pra que isso? — perguntei.

Su: Parece até que não sabe como é a vida de morador de comunidade e pra piorar mulher de bandido. — ela riu.

Nessas horas o que restava era fazer piada mesmo porque vou te contar, era uma coisa surreal, surreal mesmo, tudo jogado, a casa estava virada de cabeça pra baixo e eu nem sabia por onde começar a arrumar essa zona toda.

Ágata: Você vai me ajudar sua piranha!

Su: Sempre sobra pra mim. — ela revirou os olhos. — É incrível!!!

Ágata: Come e dorme aqui pô, o mínimo!

Demos risada e o Duarte subiu pra tomar um banho, Novinho foi embora e o que me restou foi arrumar tudo e agradecer por ter vencido mais uma batalha diária porque não era fácil não.

Foi então que eu e a minha irmã começamos a organizar a bagunça.

Ágata: Que ódio! — falei.

Su: Sem reclamar. — pegou a vassoura. — Agradece que teu macho tá vivo depois desse auê todo!

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