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Nos dias seguintes ao episódio, as coisas não foram como Sirius esperava. Ele se sente assustado, perdido e, acima de tudo, com raiva. É difícil para ele apontar exatamente o que, pois ele não entende exatamente de onde vem essa raiva ardente; talvez seja o fato de que todos parecem olhar para ele com pena ou medo, como se ele pudesse desaparecer a qualquer momento.

Naqueles dias, ele se sente inútil. Cada ação que ele realiza parece ser percebida como uma ameaça ao seu próprio bem-estar, e ele está começando a odiar isso. É necessária mais uma longa e árdua conversa com McGonagall para permitir que ele retorne às aulas na próxima semana, desde que ele se comprometa a descansar completamente até então.

Sirius concorda, mas logo se sente preso dentro de seus aposentos. A passagem de cada dia se torna uma espera agonizante para que algo aconteça, de olhar para as paredes. Era essa a história de sua vida? Ficar enjaulado?

Ele passa a maior parte do dia na forma de Padfoor, tornando a espera um tanto suportável. À noite, quando Severus retorna — cansado e distante — eles trocam apenas algumas palavras durante o jantar antes que seu parceiro mergulhe em suas anotações e livros, cuidando de um caldeirão constantemente fervendo com alguma mistura ameaçadora.

Sirius odeia a mudança de atmosfera que se instalou entre eles. Severus está distante, enclausurado atrás de muros emocionais que fazem Sirius querer nada mais do que destruí-los e trazer seu amante de volta. Hoje em dia, Severus está tão absorto em sua mente que mal reconhece Sirius, mesmo durante suas noites compartilhadas. E Sirius não consegue suportar isso.

O sono se mostra ilusório para Sirius à noite, pois ele está com muito medo de passar por outro episódio e geralmente cansado de ficar confinado o dia todo. Em algum momento, ele até para de tomar as poções para dormir que Poppy prescreveu para ele, e Severus parece exausto demais para perceber. Enquanto Severus adormece ao lado dele, Sirius fica acordado na maioria das noites, sua mão acariciando gentilmente o rosto de seu parceiro. Ele observa Severus enquanto ele dorme, protegendo seu sono e estudando as feições de sua amada.

Toda a situação parece estar afetando Severus tanto quanto a si mesmo, e Sirius se odeia ainda mais por fazer o homem passar por isso. Ele está com medo, claro que está. Mas acima de tudo, ele se sente sozinho e inútil. Então Sirius permite que a raiva o consuma, pois parece ser o único meio de manter o desespero sob controle.

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Quando chega o aniversário de Lupin, a atmosfera entre eles está tensa e à beira da explosão, como um caldeirão fervendo com energia não liberada. Sirius, confinado em seus aposentos por quase três dias, está inquieto, apesar de suas tentativas de descansar e ler.

Na manhã da celebração de Lupin, ele sugere usar a motocicleta para chegar lá, poupando-os do frio e da caminhada, girando as chaves entre os dedos.

Severus fica indignado, a apatia anterior se transformando em comentários condescendentes sobre segurança, e Sirius não concorda. Ele anseia por uma aparência de normalidade, recusando-se a sentir-se como um mero inválido, resignado a aguardar a morte iminente.

E é aí que a discussão que vem crescendo há dias finalmente irrompe. Sirius acha que isso tinha que acontecer eventualmente, os dois precisavam desabafar e deixar um pouco do desespero vidente que sentiam sair de seus corpos antes que ele os consumisse.

Eles lutam com uma ferocidade que não sentiam há algum tempo, trocando palavras que não queriam dizer de verdade, como costumavam fazer. Severus, finalmente perdendo a paciência, abandona a fachada distante e grita que Sirius nada mais é do que um pirralho irresponsável e crescido que não vai parar até ser morto. Em resposta, Sirius ri amargamente.

Dança da Vida  ( TRADUÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora