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Pela primeira vez em semanas, Sirius sente que pode respirar novamente. Os primeiros dias após o último episódio pareceram bons; tanto ele quanto Severus pareciam relaxados, a contagem regressiva para sua morte iminente aparentemente parou. A última coisa em que ele quer pensar hoje em dia é a conversa com James, e ele a enfia nos recessos de seu cérebro, quase como se não tivesse acontecido. Essa é uma das razões pelas quais ele nunca menciona isso para Harry ou Remus, ciente de que mencioná-lo só aumentaria sua angústia.

A questão é que ele contou a Severus, e embora ambos estejam preocupados com o problema, eles passam um tempo trabalhando juntos para encontrar uma solução, pelo menos até que eles silenciosamente concordem em parar de discutir isso. Sirius é grato por isso. Ele precisa de uma pausa do peso dos olhares preocupados e da miséria que o cercam. Ele anseia por uma aparência de normalidade, mesmo que seja apenas por um minuto.

Todo mundo tem que morrer um dia, afinal, e Sirius nunca foi de passar muito tempo pensando em assuntos profundos como esse. Não, ele prefere aproveitar o tempo que lhe foi dado e esperar que, eventualmente, tudo fique bem.

Pelo menos, a nova presença de Ezra acrescenta um foco bem-vindo em algo diferente de estudantes, ensaios e a conversa pesada e não dita que ocasionalmente ressurge. O felino faz com que o quarto deles pareça ainda mais um lar, e Sirius saboreia cada momento em que vê Severus lendo ou corrigindo com o kneazle ao lado dele, ronronando contente enquanto o homem o acaricia lentamente.

Mas conforme as semanas passam, Sirius percebe que Severus está gradualmente se tornando mais e mais ocupado, com demandas constantes que vão de pesquisa a assuntos escolares. O homem passa muito tempo trancado na masmorra, revisando o que Sirius só consegue adivinhar ser a fórmula da poção que ele preparou meses atrás. Ele gostaria de poder ajudar, e isso o faz se sentir inútil e ingrato sabendo que não pode.

Na maioria das noites, Severus retorna aos seus quartos completamente exausto, com grandes sombras emoldurando seus olhos escuros. Sirius percebe que o homem mal está comendo novamente, dorme pouco e, acima de tudo, fica quieto, perdido em pensamentos mais uma vez.

Ele se pergunta se Severus está assumindo mais do que pode lidar. Sirius sabe que ele próprio está sobrecarregado; afinal, esta é sua primeira vez como professor, e a carga de trabalho é maior do que ele jamais imaginou. E, ainda assim, Severus parece devotado à pesquisa acima de tudo.

Depois de quase um mês, Sirius tenta falar com ele sobre isso, sugerindo que ele delegue algumas das aulas avançadas para Slughorn. Severus o dispensa com um gesto cansado da mão, murmurando algo como, "É assim todo ano; vai passar."

Então Sirius apenas tenta facilitar as coisas para seu parceiro, cuidando dele mesmo que Severus se incomode com isso. Ele ajuda a corrigir algumas das redações mais fáceis, ouve seus devaneios sobre os alunos, deixa bandejas de comida em sua mesa ou ao lado dele no sofá, o ajuda a dormir quando ele está quase inconsciente e o segura à noite com todo o amor reunido em seu peito.

Se ele não puder ajudá-lo na investigação, ele irá, no mínimo, oferecer suporte dessa maneira. Afinal, ele é a causa primária da exaustão de seu parceiro, a fonte de dor e preocupação que Severus está escondendo sob camadas de barreiras mentais – tanto para proteger Sirius de suas próprias preocupações quanto para se proteger. Sirius está consciente de que Severus precisa de tempo mais uma vez, antes que ele emerja de sua concha e revele seu eu completo novamente. E então, Sirius decide que ele deve conceder-lhe esse tempo.

Mas, por outro lado, Sirius luta às vezes. Padfoot está constantemente no limite, choramingando e implorando para proteger e nutrir seu companheiro, e Sirius se sente frustrado por não poder satisfazer o anseio de seus instintos.

Dança da Vida  ( TRADUÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora