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Any Gabrielly

Me encosto no banco, suspirando pesadamente enquanto reflito sobre os últimos acontecimentos.

— Quer conversar? - Josh questiona um tanto receoso.

— Eu não tenho nada pra dizer. - Respondo vagamente, encarando o lado de fora.

— Você disse que se não saísse de casa, você iria acabar falando algumas coisas pra sua mãe. Isso parece estar preso na sua garganta.

— E se fosse ao contrário? - Questiono de repente. — E se tivesse sido eu quem tivesse morrido naquele acidente, eu seria uma pessoa melhor na cabeça da minha mãe? Os médicos disseram que por um milagre minha saímos vivas daquele acidente. Eu me culpo por isso, por estar viva. - Confesso, deixando uma risada irônica sair da minha boca.

— Não deveria, não foi sua culpa.

— Minha mãe não estava se sentindo bem naquele dia, ela estava com dores nas costas e pés, sentindo um enjoo insuportável e estava discutindo com o meu pai. Enquanto eu estava na cadeira no banco de trás, minha mãe discutia com meu pai. Eu Fiquei nervosa e comecei a chorar, isso preocupou o meu pai e foi quando ele desviou a atenção da estrada, preocupado comigo, o carro perdeu o controle e bateu em uma árvore. Meu pai morreu na hora com  abatida. Meus gritos pelo meu pai ecoam pela minha cabeça até hoje, me culpando por ele não estar mais aqui.

— Não foi sua culpa, você era uma criança.

— Depois desse dia, minha mãe entrou em depressão, ela não comia, não bebia e a minha irmã não estava recebendo os nutrientes necessários dentro do útero. Minha mãe não aceitava ajuda, ela se fechou no mundo dela. Isabela nasceu prematura após complicações, ficou internada por quase um mês. As vezes eu olho pra Isabela e me culpo, por minha causa ela não conheceu nosso pai.

Sem que eu perceba uma lágrima corre pelo meu rosto, seco a mesma rapidamente, sentindo meu coração doer.

— Não se culpe por isso, não foi sua culpa.

— As vezes ela me olha com ódio, isso me destrói por dentro pois no fundo sei que ela também me culpa pelo o que aconteceu. Minha mãe finge esquecer isso, mas também me culpa em sua cabeça. Por isso me sinto desconcertada na família. Eu sinto que matei a pessoa que eu mais amava no mundo.

Josh estaciona o carro no acostamento, tirando seu cinto e me puxando pra um abraço.

— Minha mãe me culpa por isso, eu acho que ela tem razão. Eu estraguei a nossa família. - Afirmo.

— Você não fez nada de errado, você era uma criança.

— Eu não sei o quê fazer. Eu me acostumei com esse peso nos meus ombros, mas as vezes é tão pesado que eu não aguento. - Confesso, sentindo o ar dos meus pulmões irem embora.

— Sempre que se sentir assim me chama, a gente conversa e você relaxa.

— Eu não gosto do feriado de 4 de Julho. Meu pai morreu dias antes desse feriado.

— Então quer dizer que...

— O aniversário de morte do meu pai é essa semana. - Completo. — Amanhã, mais precisamente.

— O quê você vai fazer?

— Todo ano nesse dia, minha mãe se torna outra pessoa. Ela vira uma zumbi dentro de casa, ela não trabalha, ela não come, ela quase não fala e fica no seu quarto na maior parte do dia. Eu prefiro não ficar em casa nesse dia, então eu falei com a mãe da amiga da minha irmã, pra ela dormir na casa da garota e assim o clima não fica tão estranho.

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