A campainha tocou enquanto eu ainda organizava a última caixa de mudança. Suspirei, ajeitando a camiseta amarrotada antes de ir atender a porta. Fazia apenas dois dias que havia me mudado, e o prédio ainda parecia estranho, um pouco vazio demais para o meu gosto. Quando abri a porta, uma jovem me encarou, segurando uma bandeja de bolinhos caseiros.
-- Oi!-- Ela sorriu de forma calorosa, e o cheiro adocicado dos bolinhos invadiu o ambiente. -- Eu sou sua vizinha, moro no apartamento ao lado. Trouxe isso para te dar as boas-vindas.
Por um momento, fiquei surpresa. Esse tipo de gentileza era raro. As pessoas normalmente se mantinham distantes, especialmente em cidades grandes como essa.
-- Ah, obrigada!-- respondi, aceitando os bolinhos. -- Eu sou Billie. Acabei de me mudar.
Ela sorriu mais largamente e pareceu me estudar por um breve momento.
-- É sempre bom ter um novo rosto por aqui. Espero que goste do bairro. Eu fiz os bolinhos hoje cedo, espero que estejam bons.
-- Tenho certeza que sim -- respondi, tentando ser simpática. Ela parecia agradável, embora houvesse algo em seus olhos que me fazia querer observá-la um pouco mais. Talvez fosse o mistério no jeito que falava pouco sobre si mesma. A conversa foi leve e breve — perguntamos sobre amenidades, coisas básicas da vizinhança, até que o celular vibrou no meu bolso, quebrando o momento.
Desviei o olhar para a tela. O nome do sargento piscava. Meu estômago revirou. Primeiro dia no cargo e, aparentemente, já tinha trabalho.
-- Eu preciso atender isso -- disse a ela, me sentindo um pouco culpada por cortar a conversa. Ela assentiu, com um sorriso compreensivo.
-- Claro, sem problemas. Qualquer coisa, estarei logo ao lado. -- Ela aponta para a porta de seu apartamento, começando a se afastar
Assim que fechei a porta, atendi ao chamado, e a voz do sargento veio rápida e séria.
-- O'Connell, temos um caso para você. Rua 5, casa 78. Homem de aproximadamente cinquenta anos, morto, e… é uma cena brutal. Preciso de você lá o mais rápido possível.
Eu engoli seco, meu coração acelerando.
-- Estou a caminho.
Deixei os bolinhos sobre a mesa, vesti o casaco e saí às pressas. Dirigir até a cena do crime foi quase automático. As luzes dos postes passavam rápido, minha mente tentando se preparar para o que viria.
Quando cheguei, a rua estava isolada. A fita de cena de crime balançava levemente com o vento. Policias já circulavam pelo perímetro, e eu me aproximei, mostrando meu distintivo. Dentro da casa, a cena era pior do que eu imaginava. O corpo de um homem de meia-idade estava mutilado de uma maneira que deixava claro o ódio ou a intenção por trás do ato. A sala onde ele estava havia se tornado um cenário de pesadelo.
-- O que sabemos até agora?-- perguntei, tentando controlar o desconforto.
-- Pouco. Uma vizinha quebrou a porta depois de sentir um cheiro horrível vindo daqui. Encontrou o corpo e ligou para a polícia imediatamente. Não há sinais de arrombamento.
Passei os olhos pela sala, absorvendo cada detalhe. Era meu primeiro grande caso. Brutal, sem uma pista inicial clara. Eu tinha um longo caminho pela frente.
-- Preciso que alguém faça uma varredura nas casas próximas e veja se têm câmeras -- minha voz saiu mais firme do que eu esperava, o que era bom. Primeiro dia de campo, e o último que eu precisava era parecer perdida no caos.
Um dos policiais assentiu rapidamente, já se afastando para cumprir a ordem. Voltei a atenção para a sala. O cheiro era nauseante, uma mistura de sangue velho e algo metálico que parecia penetrar nos pulmões. As paredes estavam salpicadas de respingos, e o corpo... era difícil de olhar por muito tempo. A brutalidade era evidente em cada laceração. Esse não era um simples homicídio. Isso era pessoal, cruel. O assassino queria que a vítima sofresse.
Respirei fundo, tentando abafar o incômodo crescente no estômago. Precisava de foco.
-- Alguém sabe a identidade dele?-- perguntei, meus olhos percorrendo a cena, buscando qualquer coisa que pudesse me dar uma pista. Documentos, fotos de família, algo que o conectasse ao mundo fora deste cenário de terror. -- A vizinha que encontrou o corpo... ela deve saber algo. Quero interrogá-la.
-- Temos um nome -- disse um dos agentes, folheando as páginas de seu caderno. -- Martin Heller, 52 anos. Morava aqui há pouco mais de cinco anos, divorciado, vivia sozinho. A vizinha que encontrou o corpo está abalada, mas podemos levá-la para você falar com ela quando estiver pronta.
Assenti, me aproximando da mesa de centro, onde vi algumas cartas espalhadas. Nenhuma parecia importante, mas o detalhe de uma delas me chamou a atenção. Um envelope amassado, o nome do destinatário rabiscado com pressa, quase ilegível. Peguei-o, tentando identificar alguma ligação, mas minha concentração foi interrompida pela voz de outro policial.
-- Detective -- ele me chamou, apontando para a porta dos fundos. -- Há algo lá fora que talvez você queira ver.
Senti uma pontada de adrenalina, parte de mim ansiosa pelo que poderia encontrar. Acompanhei o agente até o quintal, onde o cenário de degradação não era muito melhor. No canto do jardim, marcas no solo chamaram minha atenção. Eram como sulcos profundos, arrastados na terra, que levavam para o matagal denso atrás da casa. Parecia que algo — ou alguém — havia sido puxado por ali.
Me agachei, estudando as marcas com atenção. O padrão não era natural. Havia algo violento em como a terra havia sido rasgada.
-- Acha que o corpo foi arrastado?-- perguntei, sem tirar os olhos do chão.
-- Pode ser. Ou alguém deixou algo aqui. Estamos verificando mais a fundo, mas é estranho.
Enquanto eu processava essa nova informação, minha mente voltou à vizinha que encontrou o corpo. Uma sensação incômoda começou a se formar. Não pelo fato de ter sido ela quem descobriu o cadáver, mas porque algo nos padrões do crime não encaixava. Pessoas geralmente não entram em casas de desconhecidos, mesmo com um cheiro horrível. Havia coragem demais nessa ação.
-- Tragam a vizinha -- falei, já me levantando. -- Quero ouvi-la.
De volta ao interior da casa, comecei a organizar mentalmente o que já sabia. Martin Heller, 52 anos, vivia só, morto de forma brutal. Marcas de arrasto no quintal. E uma vizinha que, por algum motivo, decidiu que a melhor forma de lidar com um cheiro suspeito era entrar sozinha.
Ela precisava ter uma boa explicação.
-- A senhora estaria disposta a comparecer à delegacia para colhermos o seu depoimento?-- Questionei, mantendo o tom calmo e profissional, mas ao mesmo tempo tentando ser firme. Ela parou por um momento, me encarando com olhos ligeiramente arregalados, como se o simples ato de ser chamada para a delegacia a assustasse.
-- Vocês não acham que eu fiz aquilo, acham?-- Sua voz vacilou enquanto apertava as mãos contra o peito. -- Eu sou uma mulher de família, uma pessoa honesta, e Martin... Martin era um vizinho querido por mim.-- O nervosismo transparecia em cada palavra, e suas mãos trêmulas denunciavam o estado de choque.
Eu suspirei internamente, entendendo que ela estava abalada, talvez até em estado de negação pelo que havia encontrado.
-- Não, senhora. Não estamos acusando a senhora de nada -- disse, tentando acalmá-la com um tom mais suave. -- Entendemos que foi um choque terrível. Mas como a pessoa que encontrou o corpo, a senhora pode ter visto ou notado algo que nos ajude a entender o que aconteceu. Precisamos do máximo de informações possíveis.
Ela desviou o olhar, claramente ainda em pânico, mas, ao mesmo tempo, algo em sua postura indicava que tentava processar o que eu dizia. Respirou fundo antes de balançar a cabeça, concordando lentamente.
-- Está bem... eu vou à delegacia. Só quero ajudar... Eu não posso acreditar que isso aconteceu com Martin.
-- Só queremos a sua cooperação, isso já será de grande ajuda -- assegurei, sentindo que ela começava a ceder à ideia.
Enquanto a observava respirar fundo e tentar se recompor, eu sabia que ela tinha algo a nos dizer, mesmo que fosse pequeno. Seja uma lembrança vaga, um comentário de Martin sobre algo fora do comum, ou até um simples detalhe que passara despercebido. Por mais abalado que estivesse, o depoimento de uma testemunha poderia ser a chave para começar a desvendar aquele crime brutal.
A verdade, no entanto, é que eu já tinha visto o suficiente para saber que aquilo não seria uma investigação simples.
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Silent Obsession (Billie/You G!p)
FanfictionRecém-chegada a um bairro perigoso de New York, a detetive Billie enfrenta seu primeiro grande caso: o brutal assassinato de um homem que deixa a cidade em alerta. Enquanto mergulha na investigação, Billie encontra refúgio inesperado em sua nova viz...