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Eu sentia como se um enorme peso tivesse sido retirado das minhas costas, mas ainda assim, o medo permanecia, uma sombra constante em meus pensamentos. O caso foi encerrado pela polícia faz duas semanas, e já depositei meu depoimento. Mas o julgamento ainda me aguardava, como uma nuvem pesada no horizonte. A data ainda não havia sido marcada, e mesmo com um advogado já em contato, a incerteza me consumia.

Billie estava comigo em cada passo, tentando me acalmar e me lembrar de que eu não estava sozinha. No entanto, era difícil afastar a sensação de que tudo poderia desmoronar a qualquer momento.

A água quente do chuveiro caía entre nós, seu toque relaxante contrastando com a tensão em meu peito. Estávamos ali, próximas, a água fluindo em silêncio, como se tentasse levar consigo o medo que eu insistia em carregar.

-- Fica calma... Vai dar tudo certo -- a voz de Billie soava tranquila, firme, enquanto seus lábios encontravam os meus com suavidade. Seu beijo era doce, cheio de promessas silenciosas de que ela estaria ao meu lado, não importa o que acontecesse.

Eu queria acreditar nela. Queria me convencer de que o pior já havia passado, mas a ansiedade ainda roía minhas entranhas. O julgamento estava por vir, e com ele, a última batalha. Eu temia o resultado, temia ser vista como um monstro, mesmo sabendo que tudo o que fiz foi para sobreviver.

Fecho os olhos e deixo a cabeça cair contra o peito de Billie, deixando a água quente lavar as lágrimas que insistiam em brotar. Ela me envolve com os braços, me dando uma sensação de segurança, mesmo que temporária.

As palavras de Billie me envolveram como um cobertor quente, enquanto ela massageava meus ombros com delicadeza. Sua voz calma e reconfortante parecia criar um cenário tão simples, mas tão distante da realidade que eu estava vivendo.

-- Você será absolvida de qualquer acusação -- ela começou, sua confiança inabalável, como se estivesse apenas afirmando um fato e não algo incerto. -- E no final do julgamento, iremos para a sorveteria... Vamos tomar uma gigantesca taça de sorvete... Abacaxi ao vinho, o seu favorito, e chocolate, o meu favorito. Vamos congelar o cérebro com tanto sorvete.

A forma como ela narrava isso, quase como uma história infantil, me fez sorrir, mesmo que fosse um sorriso pequeno e tímido. Sua leveza e otimismo me faziam querer acreditar que, no final, tudo ficaria bem. A ideia de estarmos na sorveteria, rindo e nos divertindo depois de tudo, parecia um sonho distante, mas ela o tornava tão palpável.

-- Congelar o cérebro...-- repeti, soltando uma risadinha fraca. -- Isso parece ótimo.

Por um momento, eu quis me agarrar àquela imagem. À ideia de que, após tudo isso, a vida voltaria a ser simples e doce, como uma taça de sorvete compartilhada entre nós duas.

A cada palavra de Billie, eu sentia uma calma invadir meu peito. Ela pintava um cenário tão simples, tão cheio de carinho e normalidade, que quase me fazia esquecer o turbilhão que minha mente insistia em trazer de volta.

-- Sabe o que mais faremos?-- ela perguntou, e eu neguei com a cabeça, curiosa, mesmo que um pouco hesitante. -- Nós vamos vir aqui para o meu apartamento, tomaremos um bom banho juntas, igual estamos fazendo agora. Mas com você menos nervosa, claro... Iremos colocar pijamas combinando e assistir uma boa comédia romântica... Vamos comer pipoca, nos entupir de refrigerante e... No fim, iremos dormir de conchinha, e pela primeira vez eu vou deixar você ser a conchinha menor.

Ri baixinho, uma risada genuína que escapou antes que eu pudesse conter. A ideia de Billie, sempre a mais protetora, me deixar ser a “conchinha menor” parecia tão ridiculamente fofa que não consegui evitar. Por alguns segundos, toda a tensão que habitava meu corpo se desfez, como se a água quente e as palavras dela lavassem não só o medo, mas a angústia de estar à beira de um julgamento.

-- Você, me deixando ser a conchinha menor? Isso sim é um milagre -- respondi, tentando esconder o sorriso nos lábios. Era tudo o que eu precisava ouvir, tudo o que eu precisava para acreditar que, talvez, depois de tudo isso, o futuro pudesse ser leve, como os pequenos momentos de paz que Billie desenhava com suas palavras.

-- Milagres acontecem -- ela diz, risonha, e isso faz meu coração aquecer. A leveza de sua risada ecoa em meu peito, como se dissipasse um pouco da névoa que envolvia meus pensamentos.

-- Eu jurei que você diria algo sobre sexo quando começou a acrescentar coisas -- comento, arqueando uma sobrancelha. A risada dela, embora fraca, é contagiante, e sinto uma onda de alívio ao ver que, mesmo em momentos difíceis, ainda podemos encontrar alegria juntas.

-- Está nas entrelinhas, você quem não percebeu -- Billie diz, com um sorriso travesso que ilumina seu rosto. O olhar dela, aquele brilho desafiador nos olhos, me faz rir também, um riso leve e despreocupado que faz com que por um instante eu esqueça tudo que está por vir.

-- Ah, então é assim que você faz?-- respondo, fazendo uma pausa para olhá-la de cima a baixo, como se estivesse considerando suas palavras. -- Você está me seduzindo enquanto estamos no chuveiro? Que ousadia!

Ela dá um pequeno empurrão em meu ombro, e eu não consigo evitar a sensação de que, mesmo diante de tudo, ainda temos a capacidade de encontrar um espaço seguro uma na outra. As palavras dela, o toque suave, tudo isso me lembra que estamos juntas nessa batalha, e isso é um milagre por si só.

-- Eu amo te seduzir em vários momentos... No chuveiro é apenas um deles -- Ela diz, com aquele tom provocativo que me faz sorrir involuntariamente. Seus braços rodeiam meu pescoço com tanta naturalidade que é como se fossem feitos para estarem ali, e ela se põe na pontinha dos pés, fechando a distância entre nós para selar nossos lábios.

O beijo é suave, mas cheio de intenção, um lembrete de que, apesar de tudo, o mundo pode parar por alguns segundos para nós. Sinto o calor do corpo dela contra o meu, o som da água caindo ao redor criando uma espécie de bolha que nos isola do resto do mundo.

Quando nos separamos, nossos olhares se encontram, e ali, naquele momento, eu percebo que não importa o que aconteça daqui pra frente—teremos isso, esse espaço só nosso, onde o medo e a dor ficam do lado de fora.

Silent Obsession (Billie/You G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora