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Tem exatamente um mês que demos o caso como encerrado. Hoje é o dia da audiência, onde um juiz irá julgar se o que S/n fez foi realmente legítima defesa

O ambiente estava carregado de tensão, mesmo antes de chegarmos ao tribunal. S/n parecia mais pálida do que de costume, e eu podia sentir sua mão tremer levemente na minha. Já fazia um mês desde que o caso foi encerrado, mas a audiência de hoje determinaria se o que ela fez seria considerado legítima defesa ou não.

-- Vai ficar tudo bem -- sussurro para ela enquanto entramos na sala de audiências, tentando lhe passar confiança, mesmo que eu mesma estivesse nervosa. Sabia o quanto isso importava para ela, como a sentença desse dia poderia moldar o resto de sua vida.

S/n olha para mim, seus olhos refletindo a mistura de medo e incerteza. Ela estava mais quieta do que o normal nos últimos dias, provavelmente revivendo tudo na cabeça, temendo as consequências.

Sentamos no banco reservado para nós, e o advogado de defesa se aproximou. Ele lançou um olhar rápido para mim antes de falar com S/n, oferecendo-lhe palavras de encorajamento antes de tudo começar.

Quando o juiz entrou na sala, o silêncio caiu pesado sobre nós. Senti o aperto na mão de S/n se intensificar, como se estivesse se segurando a mim para não desmoronar. A audiência começou, com a promotoria tentando construir o caso contra ela, descrevendo Martin como a vítima, apesar de tudo o que ele havia feito.

Mas o advogado de defesa foi firme, descrevendo os horrores que S/n havia suportado e enfatizando que ela havia agido apenas para salvar sua própria vida. A menção de Clarie e Madalene, suas companheiras de cativeiro, parecia pesar sobre cada palavra. E quando foi a vez de S/n falar, sua voz trêmula soou em toda a sala.

-- Eu não queria machucar ninguém --;ela disse, sua voz quase falhando. -- Eu fiz o que fiz porque ele iria me matar... e eu não tive escolha.

Cada palavra que ela proferia me rasgava por dentro. O juiz ouvia atentamente, sem mostrar sinais de qual caminho ele poderia seguir. Tudo parecia fora do nosso controle, e, ao mesmo tempo, a decisão daquele homem iria definir o futuro dela.

Eu continuei ao lado de S/n, apertando sua mão sempre que ela hesitava, esperando que, no final do dia, ela saísse dali com a chance de reconstruir sua vida.

O tribunal voltou a se encher de murmúrios quando todos retornaram após a última pausa de 30 minutos. S/n ainda estava visivelmente abalada, seus olhos inchados e a respiração pesada. Ela não conseguia esconder o quanto reviver os detalhes daqueles quatro dias a destruía por dentro.

Eu estava sentada ao seu lado, mantendo sua mão firmemente entre as minhas. O silêncio tomou conta da sala assim que o juiz se ajeitou em sua cadeira, pronto para dar sua sentença. O destino de S/n estava nas mãos dele agora, e eu podia sentir meu próprio coração bater com força enquanto esperávamos por suas palavras.

-- Após ouvir todos os depoimentos e analisar as evidências -- o juiz começou, sua voz ecoando no tribunal -- esta corte reconhece que os eventos que ocorreram foram de uma natureza extremamente traumática. A ré esteve sob risco iminente de morte e foi sujeita a tortura psicológica e física ao longo de vários dias.

Senti S/n estremecer ao meu lado, e meu corpo inteiro se tensionou.

-- Considerando o contexto de legítima defesa, e levando em conta as circunstâncias atenuantes deste caso -- o juiz fez uma pausa, observando a sala com cuidado, -- eu declaro que a ré, S/n, agiu em legítima defesa. Portanto, não será condenada.

Um suspiro coletivo preencheu o tribunal. Eu olhei para S/n, e por um momento, ela pareceu não entender o que havia acabado de acontecer. Sua expressão era uma mistura de alívio e descrença.

-- S/n...-- murmurei, apertando ainda mais sua mão. -- Acabou.

Ela virou-se lentamente para mim, as lágrimas descendo silenciosamente por seu rosto. Sem dizer uma palavra, ela se atirou nos meus braços, finalmente deixando todo o peso daquela batalha emocional cair.

A sentença tinha sido dada. Ela estava livre.

-- O tribunal também reconhece o impacto devastador que esses eventos tiveram sobre a ré, S/n -- o juiz continuou, após a declaração de inocência. -- E considerando as circunstâncias agravantes do caso, a família de Martin Heller se mostrou disposta a oferecer uma indenização substancial como forma de compensação pelos danos psicológicos e físicos que a ré sofreu.

S/n parecia confusa ao ouvir isso, seus olhos se arregalando levemente. Ela olhou para mim como se procurasse uma explicação, ainda tentando processar tudo o que estava acontecendo.

-- A indenização será destinada ao tratamento psicológico e qualquer assistência adicional necessária para a recuperação de S/n -- completou o juiz, olhando diretamente para ela. -- No entanto, a aceitação dessa indenização fica ao critério da ré. O tribunal não obrigará que seja aceita.

S/n engoliu em seco, claramente surpresa pela oferta, mas ainda sem saber como reagir. Eu mantive minha mão firme na dela, esperando que ela encontrasse uma forma de digerir tudo isso em seu próprio tempo. Era um passo que poderia ajudá-la a seguir em frente, mas também trazia consigo memórias difíceis de superar.

S/n ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo o que acabara de ouvir. Eu podia ver a confusão e o conflito em seus olhos. A oferta da indenização era inesperada, e o peso da decisão recaía sobre ela de forma brutal. Ela havia acabado de ser absolvida, e agora lhe era apresentada uma escolha que, de certa forma, a ligava novamente àquele pesadelo.

Ela respirou fundo, e eu podia sentir sua mão tremendo levemente na minha.

-- Eu... eu não sei o que fazer -- sussurrou, olhando para mim com o olhar perdido.

-- Você não precisa decidir isso agora -- respondi, acariciando sua mão com delicadeza. -- Essa escolha é sua, e você tem todo o tempo do mundo para pensar sobre o que é melhor para você.

Ela assentiu lentamente, ainda parecendo atordoada. Então, com um suspiro pesado, ela finalmente soltou as palavras que pareciam estar presas em sua garganta.

-- Eu só quero... seguir em frente. Deixar tudo isso para trás.

-- Então é isso que faremos -- murmurei de volta, abraçando-a com força enquanto sentia o alívio finalmente tomar conta de nós. -- Vamos deixar tudo isso para trás.

Naquele momento, enquanto ela se aninhava nos meus braços, eu sabia que o verdadeiro processo de cura estava apenas começando. O julgamento pode ter acabado, mas os fantasmas do que aconteceu ainda estariam com ela por um tempo. E eu estaria lá, ao lado dela, para cada passo que precisasse dar.

Silent Obsession (Billie/You G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora