-- Se já sabem quem matou Madalene, porque ainda precisa investigar?-- S/n pergunta, parecendo nervosa a medida que os dias nas filmagens avançam.

-- Porque eu sei o que aconteceu com Madalene... O caso dela ja foi encerrado, mas preciso saber o que aconteceu com Martin... O assassino dela também foi morto -- Minto, pois a única pessoa capaz de concluir os dois casos, é a dona do terceiro DNA

-- Bom... Mas... Você acha que ele mereceu isso?-- Pergunta e eu dou de ombros.

-- Na minha opinião profissional, quem deveria lidar com isso era a justiça... Mas se a única saida da pessoa que fez aquilo com ele, era fazer aquilo... Então sim, ele mereceu -- Respondo simplista.

S/n parece hesitar por um momento, mexendo no jantar de forma mais lenta, como se processasse minha resposta. O silêncio entre nós é pesado, carregado de algo que ainda não consigo decifrar completamente. Há uma inquietação nela, e meu instinto como detetive me diz que estou mais perto de algo crucial.

-- Eu entendo...-- ela murmura, evitando me encarar diretamente. -- Às vezes, as pessoas são levadas ao limite... E tomam decisões que parecem ser a única solução.

Seus olhos finalmente encontram os meus, e algo na maneira como ela fala faz um frio percorrer minha espinha. Não sei ao certo se ela está falando de Martin, de Madalene, ou de si mesma. Tento manter minha expressão neutra, mesmo que minhas suspeitas estejam crescendo.

-- É... decisões difíceis -- respondo, observando cada pequena reação dela. -- Mas sempre há um custo, não é?

Ela engole em seco, desviando o olhar novamente, voltando sua atenção para o fogão.

-- Sempre há um custo -- repete, a voz quase inaudível.

O clima entre nós mudou completamente, e minha mente está em alerta máximo. S/n sabe mais do que está deixando transparecer. E eu preciso descobrir o que, sem deixar que ela perceba que estou desconfiada.

Ela se aproxima, com um prato e um garfo. Então ela me entrega o mesmo, sorrindo de lado para mim.

-- Espero que esteja bom -- Ela diz um pouco insegura -- Sou péssima na cozinha... Eu sobrevivo de macarrão com brócolis e tapioca

Aceito o prato com um sorriso, tentando aliviar a tensão que ficou no ar.

-- Tenho certeza de que está ótimo -- digo, enquanto espeto o garfo na comida e dou uma mordida. O sabor é surpreendentemente bom, e dou um aceno afirmativo. -- Nada mal. Acho que você subestima suas habilidades culinárias.

S/n solta uma risada leve, relaxando um pouco.

-- Só tive sorte dessa vez, então.

Eu observo seus movimentos enquanto ela volta para a cozinha, sentindo que o clima entre nós ainda está carregado de algo não dito. As camadas de mistério em torno de Madalene, Martin, e agora S/n estão se sobrepondo de uma forma que não consigo ignorar.

-- Macarrão com brócolis e tapioca, hein? Parece que você é mais saudável do que eu -- comento, tentando puxar uma conversa casual, mas ainda com um olho nas filmagens que continuam na tela. Preciso descobrir mais sem pressioná-la diretamente.

-- É o que dá para fazer quando você tem pouco tempo e quer se manter em forma -- responde ela, mexendo distraída em outra panela.

Ainda sinto que estamos andando em círculos em torno de algo maior. E mesmo que ela tente manter a aparência de normalidade, há uma sombra de nervosismo nela que não consigo ignorar.

-- Se Martin estivesse vivo, qual acha que seria a pena dele?-- Pergunta curiosa.

-- Perpétua... Talvez ate iria para o corredor da morte -- Dou de ombros

-- E da pessoa que o matou?-- Pergunta com a boca cheia.

-- Depende dos fatores... Ao que tudo indica, foi legitima defesa... Pode haver um acordo com o juiz de fazer apenas serviço comunitário... Depende do juiz -- Minto, com certeza a pessoa pegaria uma pena gigantesca por causa da brutalidade e da omissão, talvez ate perpétua.

S/n parece pensar sobre isso enquanto mastiga, seus olhos vagos e distantes.

-- Serviço comunitário... Parece uma punição leve para algo tão... violento -- ela murmura, mais para si mesma do que para mim.

-- Às vezes, as circunstâncias tornam as coisas mais complicadas -- comento casualmente, observando-a de canto de olho. -- Mas não cabe a mim julgar. Apenas sigo as pistas e descubro o que aconteceu.

Ela permanece em silêncio por alguns segundos, e posso ver que suas mãos estão levemente trêmulas quando pega um copo de água. Tento manter a conversa leve, mas é impossível ignorar a tensão crescente no ambiente.

-- Você parece bem interessada na justiça -- comento, tentando sondar sua mentalidade. -- Tem algo a mais que você gostaria de compartilhar sobre o que pensa disso tudo?

S/n se vira para mim, com um pequeno sorriso, mas seus olhos não refletem o mesmo alívio.

-- Não... Só curiosidade mesmo.-- Ela pausa por um segundo e então acrescenta, -- Acho que sempre pensei que certas pessoas não merecem justiça... merecem algo pior.

Essa resposta me atinge com um peso maior do que eu esperava. Algo está definitivamente fora do lugar.

-- Se você soubesse de algo mais sobre Madalene e sobre Martin... Você me contaria?-- Pergunto e ela para por um momento

-- Contaria... Com certeza...

Eu mantenho o olhar fixo em S/n por alguns segundos, tentando decifrar o que há por trás de suas palavras. A hesitação dela foi breve, quase imperceptível, mas suficiente para me deixar em alerta. "Contaria com certeza," ela disse, mas algo na sua postura me deixa com uma sensação incômoda.

-- Fico feliz em ouvir isso -- digo, forçando um sorriso. -- Porque, no fim das contas, é a verdade que traz justiça para as vítimas.

S/n apenas acena, voltando sua atenção para o prato, mas sua inquietação permanece. Eu decido não pressioná-la mais por agora. Há algo que ela está escondendo, e a única maneira de descobrir é continuar observando e juntando as peças. Por enquanto, preciso focar nas evidências que já tenho.

-- Obrigada pelo jantar -- digo, levantando-me. --;Preciso revisar essas filmagens com mais atenção. Se lembrar de qualquer outra coisa sobre Madalene ou Martin, não hesite em me contar, ok?

Ela sorri, um pouco mais tranquila.

-- Pode deixar.

Enquanto me retiro para revisar as provas, não consigo afastar a sensação de que S/n está mais envolvida nessa história do que parece.

Silent Obsession (Billie/You G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora