Entro no laboratório um pouco apressada, o som dos meus passos ecoando nas paredes brancas e estéreis. O atraso não estava nos planos, mas valeu a pena passar um tempo extra com S/n, especialmente depois da noite que tivemos. Aquele pesadelo dela ainda me inquieta, mas ela se acalmou em meus braços, e isso era tudo o que importava no momento.

Ryan se aproxima assim que me vê. Ele tem aquela expressão que eu conheço bem, a que indica que ele encontrou algo que pode mudar o rumo da investigação.

-- Ah, você está aqui -- ele diz, já começando a puxar uma pasta com os relatórios mais recentes. -- Tenho algumas novidades... Parece que as marcas de alguém sendo arrastado no jardim de Martin não eram dele. Na verdade, eram da mesma pessoa cujo DNA John encontrou na cena.

Minha cabeça começa a fazer as conexões.

-- Como isso é possível? Em que momento a vítima estaria arrastando sua assassina? Isso não faz sentido...-- murmuro, mais para mim mesma do que para ele.

Ryan dá de ombros, como quem também está tentando desvendar o enigma.

-- Ainda estamos tentando entender o que aconteceu ali. Pode ser que a dinâmica do crime tenha sido mais complexa do que parece.

Passo a mão pela testa, tentando organizar meus pensamentos. Se as marcas eram da assassina... por que ela foi arrastada? E mais importante, por que isso não foi notado antes? Algo nessa história está fora do lugar, e sinto que a resposta pode estar mais perto do que imaginamos.

-- Estamos revirando praticamente toda a cena do crime. Mas ao que tudo indica, o crime não começou ali... O que me intriga é que, ao que parece, uma mulher sozinha, sem a ajuda de absolutamente ninguém, conseguiu executar um homem de 1,83 de altura, 100kg, e com uma brutalidade jamais vista antes -- Ryan diz parecendo pensativo -- Essa mulher deveria estar com muito ódio dele... Mas em algum momento os papéis parecem ter se invertido... E de acordo com as marcas no chão, ela foi arrastada para dentro da mata, mas o corpo de Martin foi encontrado na casa dele. São direções opostas...

-- Isso é... estranho -- murmuro, tentando encaixar as peças que Ryan está mencionando. Uma mulher sozinha, sem ajuda, teria conseguido executar Martin — um homem grande, pesado e forte — com uma brutalidade que desafia a lógica? É possível, claro, mas algo na descrição ainda me incomoda profundamente. -- Ela o matou com ódio, isso está claro -- digo, analisando a situação. -- Mas a dinâmica toda... Se as marcas no chão mostram que ela foi arrastada para a mata, por que o corpo dele estava dentro da casa? Eles não poderiam ter ido para direções opostas ao mesmo tempo. Ou ela fugiu e ele foi atrás, ou vice-versa. Não faz sentido que ambos tenham sido movidos em direções diferentes, a menos que haja mais uma pessoa envolvida.

Ryan franze a testa, claramente considerando minha hipótese.

-- Pode ser que a mulher tentou escapar, mas foi pega novamente. Ou talvez o crime tenha começado em outro lugar, e alguém ajudou a transportar o corpo de Martin para a casa, para despistar.

Respiro fundo, pensando.

-- Precisamos investigar melhor essa possibilidade. Se havia outra pessoa lá, isso pode mudar tudo. Precisamos revisar todos os detalhes — impressões digitais, qualquer vestígio que não analisamos antes. E se essa mulher realmente foi arrastada para a mata, quero saber o que aconteceu com ela lá.

-- Entendido -- Ryan diz, já anotando as novas diretrizes. -- Vou pedir para o time focar na área ao redor da mata com mais atenção. Quem sabe encontramos algo que passou despercebido.

Eu concordo, sentindo a tensão no ar aumentar. Há algo grande nesse caso que ainda não enxergamos. E a cada passo, parece que estamos chegando mais perto.

(...)

-- Parece meio confuso... Eu não posso entrar em detalhes sobre. Mas parece que quando achamos que estamos perto, aparece algo que muda completamente o rumo da investigação -- Digo e S/n analisa a xícara de café a sua frente. Conseguimos tirar uma de nossas pausas juntas.

-- Talvez só estejam procurando do ponto de partida errado...-- Diz simplista, e bebe um pouco de seu café.

Eu arqueio uma sobrancelha, curiosa com a sugestão de S/n.

-- Do ponto de partida errado? Como assim?-- pergunto, genuinamente interessada, embora mantendo a conversa casual.

S/n dá de ombros, ainda olhando para sua xícara de café como se estivesse apenas refletindo em voz alta.

-- Às vezes, as coisas não acontecem na ordem que imaginamos. Talvez a sequência dos eventos não seja linear. E se o que vocês acham que foi o início... na verdade, aconteceu no final?

Fico em silêncio por um momento, considerando suas palavras. Faz sentido, de certa forma.

-- Você está sugerindo que estamos olhando para os eventos fora de ordem? Que algo no meio do crime foi interpretado como o começo?

S/n sorri de lado, sem confirmar nem negar, apenas tomando mais um gole de café.

-- Talvez... só estou jogando ideias.

Eu rio suavemente, admirando a sagacidade dela.

-- Você deveria ter feito perícia criminal, sabia? Isso é algo que nossos analistas deveriam considerar. Vou sugerir que reavaliem a cronologia.

-- Eu não tenho estômago para isso... Na primeira gotinha de sangue que eu visse, ja estaria pensando em desistir da profissão -- Diz risonha, mas então ela suspira passando a mão pelos cabelos -- Preciso pensar em uma nova estratégia para a loja... O patrão ja esta cobrando a meta mensal

Eu sorrio ao ouvir o comentário de S/n sobre o sangue, imaginando como ela lidaria com uma cena de crime.

-- Bem, acho que é melhor você ficar no mundo do comércio então -- brinco, tentando aliviar o clima. -- Mas você é boa com essas estratégias. Tenho certeza de que vai dar um jeito de bater a meta.

Ela suspira novamente, parecendo um pouco mais preocupada do que o normal.

-- É, espero que sim. Só que ultimamente as coisas estão mais difíceis. Acho que a concorrência está mais forte... E o patrão não perdoa.

Coloco minha mão sobre a dela, num gesto de apoio.

-- Você vai conseguir, S/n. Você sempre encontra uma saída. E quem sabe eu não consiga ajudar, nem que seja só para dar uma opinião de fora?

Ela sorri para mim, um sorriso cansado, mas genuíno.

-- Obrigada, Billie... É bom saber que posso contar com você.

Silent Obsession (Billie/You G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora