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Ao descer o último degrau, meu coração afunda um pouco ao ver Billie sentada em frente à porta do meu apartamento. Ela está com os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas, e a cabeça baixa, claramente esperando por mim. O silêncio no corredor parece mais pesado com sua presença ali, e por um breve momento, penso em voltar e me esconder no apartamento de Dona Lourdes.

Eu suspiro, sabendo que não posso evitar isso para sempre. Caminho lentamente em direção à porta, meus passos ecoando levemente no corredor vazio. Quando estou a alguns metros de distância, Billie levanta a cabeça, seus olhos azuis fixando-se nos meus. Há algo vulnerável em sua expressão, o que me faz hesitar, mas logo lembro das últimas semanas, da frustração e da mágoa acumulada.

-- Você realmente não sabe desistir, não é?-- digo com um tom exasperado, cruzando os braços ao parar em frente a ela.

Ela suspira e se levanta lentamente.

-- Eu não queria que terminasse assim, S/n. A gente precisa conversar.

-- Levanta dai -- Falo me aproximando da porta para destranca-la

Billie se levanta devagar, ainda me observando com aquele olhar intenso. Eu me aproximo da porta, destrancando-a sem pressa, sentindo o peso de sua presença atrás de mim. Ao empurrar a porta e abri-la, dou um passo para dentro, mas paro e olho por cima do ombro.

-- Entra logo -- digo com um tom cansado, tentando disfarçar a mistura de sentimentos que me consome.

Ela entra sem dizer nada, e por um momento o silêncio entre nós é sufocante. Fecho a porta atrás dela, sem me virar, tomando um segundo para respirar fundo e me preparar para o que vem a seguir.

-- Bom... Por onde quer começar?-- Pergunto me sentando no sofá

Billie permanece em pé por alguns segundos, olhando ao redor como se tentasse organizar os próprios pensamentos. Então, lentamente, ela se senta na poltrona à minha frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e entrelaçando as mãos.

-- Eu... não sei por onde começar -- diz finalmente, soltando um suspiro. -- Mas acho que... preciso entender por que você está me afastando.

Cruzo os braços, me recostando no sofá, mantendo o olhar firme nela.

-- Você realmente não sabe?

-- Eu não quis te magoar, S/n. O lance do 'amiga'... foi só uma forma de evitar perguntas desnecessárias na delegacia.

Reviro os olhos, não conseguindo esconder a frustração.

-- Não é só sobre o que você disse, Billie. É sobre como você agiu, como se aquilo não tivesse importância. Como se eu não tivesse importância.

-- Você tem importância... Mas nao achei que isso teria importância para você, até porque você sabe o que sinto por você -- Ela diz

-- Saber não é o suficiente, Billie -- respondo, minha voz saindo mais firme do que eu pretendia. -- Você pode sentir o que quiser, mas se age como se fosse irrelevante... como se eu fosse apenas mais uma pessoa na sua vida... isso machuca.

Ela solta um suspiro, esfregando o rosto com as mãos antes de me olhar novamente.

-- Eu nunca te vi assim, nunca pensei que te chamando de 'amiga' fosse te afetar tanto. Foi só... um reflexo, sabe? Pra manter as coisas simples na frente dos outros.

-- Manter as coisas simples?-- Repito, balançando a cabeça. -- Eu não sou algo que você pode simplificar. Ou eu faço parte da sua vida, completamente, ou não faço parte. Não estou aqui para me contentar com migalhas de afeto.

-- E você quer que eu faça o que?! Saia gritando por ai que não somos apenas amigas. Mas não sabemos o que temos até porque nunca conversamos sobre isso?!-- Pergunta

-- Eu não estou pedindo para você sair gritando, Billie -- respondo, tentando manter a calma. -- Eu só queria um pouco de clareza... Eu me sinto perdida. A gente age como se fosse algo mais, mas você me chama de 'amiga' na frente dos outros. Como eu deveria me sentir com isso?

Billie fica em silêncio por alguns segundos, esfregando a nuca.

-- Eu não sei o que dizer... Eu também estou confusa. Nós nunca colocamos um rótulo, nunca falamos sobre o que realmente somos.

-- Exatamente. E talvez seja a hora de ter essa conversa -- digo, olhando diretamente para ela. -- Eu não quero continuar assim, nesse meio-termo onde eu não sei qual o meu lugar na sua vida. Eu preciso saber, Billie. Preciso saber se sou apenas sua amiga ou se sou mais do que isso.

-- Você sabe que é mais que isso!-- Ela diz e eu balanço a cabeça.

-- Se eu soubesse não estariamos tendo essa conversa. E se eu realmente fosse, você não teria dito o que disse -- Respondo simplista

-- Eu disse aquilo sem pensar, ok? Não foi minha intenção te magoar -- Billie rebate, sua voz carregada de frustração. -- Mas você tem que entender, eu também estou tentando entender tudo isso. A gente nunca teve nada parecido com isso antes, eu estou aprendendo junto com você.

Eu suspiro, sentindo uma mistura de cansaço e tristeza.

-- Eu só queria que você fosse mais clara sobre como me vê, Billie. Não quero ser alguém que fica à margem da sua vida, sem saber onde se encaixa.

Ela se aproxima, hesitante.

-- Você não está à margem, S/n. Eu... eu só não sou boa em colocar sentimentos em palavras. Mas o que eu sinto por você... é real.

Eu a encaro por um momento, buscando alguma certeza em seus olhos.

-- Então, me prova isso, Billie. Porque palavras vazias não vão bastar.

-- Como eu provo? Me fala que vou e faço agora mesmo -- Ela diz cruzando os braços

-- Você não entende, Billie -- digo, tentando manter a calma. -- Não é algo que você pode resolver em cinco minutos com um gesto qualquer. Eu preciso de consistência, de clareza. Preciso sentir que estou segura com você, que não sou apenas uma amiga que você beija quando quer, que transa como louca e diz que ama, e no outro dia trata como se fosse 'so mais alguem'... Eu não quero ser só mais alguém, eu quero ser 'o alguém' da sua vida. Mas não basta só eu querer... Entende?

Billie me encara por um momento, sua expressão mudando de confusa para séria. Ela descruza os braços lentamente, suspirando como se estivesse absorvendo o peso das minhas palavras.

-- Eu entendo... Eu entendo mais do que você pensa -- ela diz, a voz mais suave. -- Eu não sei como demonstrar isso da forma que você precisa, mas eu quero tentar. Eu não quero que você se sinta assim, como se fosse só mais uma pessoa na minha vida, porque você não é.

Me sento mais reta, sentindo um leve aperto no peito.

--:Então, o que você vai fazer, Billie? Como vai me mostrar que está falando sério?

Ela dá um passo em minha direção, abaixando-se para que nossos olhos fiquem na mesma altura.

-- Eu vou te provar, com ações, não só com palavras. Vou te mostrar, um dia de cada vez, que você é 'o alguém'. Só me dá a chance de fazer isso. Não vou prometer perfeição, mas eu vou fazer o que for preciso pra não te perder.

Silent Obsession (Billie/You G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora