Quando cheguei ao meu apartamento naquela noite, cansada e com a cabeça cheia da cena de crime brutal que havia presenciado, notei alguém descendo as escadas. No início, mal registrei a presença dela, mas ao focar, percebi que era minha vizinha. A mesma que havia me trazido os bolinhos naquela manhã.
Ela sorriu para mim, um sorriso leve e talvez um pouco tímido, e então algo pareceu se acender em sua mente. Seu olhar mudou, ficando ligeiramente preocupado.
-- Me desculpe se isso soa invasivo...-- Ela começou, mordendo levemente o lábio inferior, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. -- Mas você saiu e deixou a porta aberta. Esse não é um dos bairros mais seguros de New York, então... tomei a liberdade de fechá-la para você.
Seus olhos buscaram alguma reação minha, e por um segundo ela pareceu hesitante, quase temendo que eu interpretasse o gesto de maneira errada. Fiquei ali parada, processando suas palavras, a fatiga lentamente me abandonando à medida que eu me concentrava na situação.
-- Fechou a minha porta?-- perguntei, surpresa.
-- Sim -- ela respondeu rápido, com um aceno de cabeça. -- Desculpa, eu sei que foi ousado. Só fiquei preocupada quando vi a porta aberta e você não estava por perto.
Havia algo no jeito que ela falou, uma mistura de cuidado genuíno e uma certa cautela, que fez com que eu relaxasse. Talvez fosse o cansaço, mas a ideia de ter deixado a porta aberta me incomodava — um descuido que eu raramente cometia. Olhei para ela e forcei um sorriso agradecido.
-- Obrigada, de verdade. Eu nem percebi que tinha deixado a porta aberta.
Ela sorriu, visivelmente aliviada.
-- Não foi nada. Só achei que seria perigoso deixar assim.
Ela então se despediu, subindo de volta as escadas e desaparecendo de vista. Eu fiquei parada por um momento, a sensação estranha de vulnerabilidade me cutucando. Talvez fosse o estresse do dia, ou o fato de ter visto a violência de tão perto naquela manhã, mas o simples ato de alguém entrar no meu espaço sem que eu soubesse... mexeu comigo.
Entrei no apartamento, fechei a porta com cuidado, e a travei duas vezes, sentindo um leve calafrio.
Pela manhã, o aroma de café recém-passado invadiu o corredor antes mesmo que eu abrisse a porta. Era reconfortante, especialmente depois da noite turbulenta que tive. Ao sair, vi minha vizinha abaixada, distraída, fazendo carinho em um gato listrado que ronronava suavemente enquanto ela segurava uma xícara de café com a outra mão.
-- Bom dia -- eu disse, atraindo sua atenção. Ela ergueu a cabeça, os olhos brilhando ao me ver.
-- Bom dia!-- respondeu animada, voltando sua atenção para o felino. -- Ele é seu? É muito fofo -- disse com um sorriso genuíno, ainda passando a mão pelo pelo macio do gato.
-- Na verdade, não...-- respondi, observando o gato com curiosidade. Nunca tinha visto ele antes. Ela levantou as sobrancelhas, um pouco surpresa, e depois deu de ombros, como se não fosse algo muito importante.
-- Bom, talvez seja de alguém do condomínio.-- Ela se levantou lentamente, ajeitando a xícara de café na mão. -- Quer café?-- ofereceu, com aquele mesmo sorriso gentil que eu começava a associar a ela.
Eu hesitei por um segundo. O cheiro era tentador, e, para ser sincera, depois de tantas horas de trabalho no dia anterior, uma boa xícara de café parecia exatamente o que eu precisava.
-- Claro, adoraria -- respondi, sorrindo de volta.
-- Vem... pode entrar, eu vou pegar um pouco de café para você -- ela disse com um sorriso acolhedor, entrando no apartamento. -- Eu não havia convidado você, garoto... mas ok, pode entrar também -- acrescentou, olhando para o gato que, sem cerimônia, havia se infiltrado.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Silent Obsession (Billie/You G!p)
FanfictionRecém-chegada a um bairro perigoso de New York, a detetive Billie enfrenta seu primeiro grande caso: o brutal assassinato de um homem que deixa a cidade em alerta. Enquanto mergulha na investigação, Billie encontra refúgio inesperado em sua nova viz...