Desde cedo, a vida os marcou com a dor da perda. O pai de Marília e a mãe de Murilo faleceram quando eles ainda eram crianças, deixando em cada um um vazio que parecia impossível de preencher. O destino, porém, traçou outro caminho: a mãe de Marília...
O silêncio da casa parecia mais pesado às três da manhã, mas o meu coração batia alto, como se quisesse gritar que eu finalmente estava de volta. Quase duas semanas em São Paulo, entre shows, entrevistas e a correria da vida de cantora, me deixaram exausta, mas nada comparado à saudade que ainda pesa no meu peito.
No restaurante com Murilo e nossos amigos, rindo e trocando provocações, parecia um eco distante agora. Eu precisava dele, da minha família, do cheiro de casa. Depois de deixar a mala jogada na entrada, subi as escadas na ponta dos pés, evitando qualquer rangido que pudesse acordar minha mãe, meu padrasto — que também é o pai do Murilo — ou o João Gustavo, que provavelmente deve estar sonhando com algum jogo de videogame. Enfim, o João.
No meu quarto, o banho foi uma bênção. A água quente escorreu pelo meu corpo, levando embora toda a tensão dos palcos, os atrasos no voo, o cansaço que grudava nos ossos. Fechei os olhos, imaginando o Murilo ali, comigo, como naquela manhã em São Paulo, com suas mãos me puxando e aquele sorriso que faz o meu mundo girar. Saí do chuveiro, vesti um pijama leve, o tecido fresco roçando minha pele ainda quente, e, sem pensar duas vezes, eu saí do meu quarto depois de eu me arrumar e caminhei pelo corredor escuro até o quarto dele.
Marílinha.
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Meu coração acelerava a cada passo, como se eu fosse uma adolescente invadindo o quarto do namorado pela primeira vez. Abri a porta com cuidado, tranquei assim que entrei, o clique suave ecoando no silêncio.
Ele já estava acordado, como se soubesse que eu viria. Deitado na cama, só de calça de moletom, o peito nu brilhando à meia-luz do abajur, Murilo me olhou com aquele olhar que mistura ternura e desejo, o sorriso torto que sempre me desarma já desenhado nos lábios.
— Tava contando os minutos, hein? — disse, a voz grave e um pouco rouca, enquanto se sentava, os braços abertos como um convite que eu não podia recusar.
Eu ri, fechando a distância entre nós dois e praticamente me jogando nos braços dele, subindo na cama e me aninhando contra o peito dele.
— Você não tem ideia do quanto eu precisava disso — murmurei, enterrando o meu rosto no pescoço dele, sentindo o cheiro familiar, aquele misto de sabonete e algo que era só dele. — Sete dias, lindo. Sete dias sem te ver é crueldade.
Ele me envolveu com força, me puxando para deitar ao lado dele, nossos corpos se encaixando como se nunca tivessem se separado.
— Crueldade é você me deixar aqui imaginando você arrasando nos palcos, brilhando pra todo mundo menos pra mim — ele disse, os dedos traçando meu braço com uma suavidade que contrastava com o tom provocador. — Conta aí, como foi? Quero saber tudo.
Eu suspirei, virando o rosto para olhar para ele, a cabeça apoiada no travesseiro, o rosto dele tão perto que eu podia ver cada detalhe — as linhas suaves ao redor dos olhos, o brilho de quem tava genuinamente curioso.
— Foi uma loucura. São Paulo tava vibrante, os shows lotados, a galera cantando cada música... teve um momento que quase chorei no palco, juro. Mas, nossa, cansa. — Sorri, meio nostálgica. — E você? Como tá a correria pro seu DVD? Tá pronto pra virar o rei do sertanejo?
Ele riu, aquele som grave que faz o meu coração pular, e rolou de lado, apoiando-se num cotovelo pra me olhar melhor.
— Rei, é? Tô quase lá, amor. A produção tá voando. As músicas tão prontas, o palco tá ficando um espetáculo. Só falta uma coisa... — Ele fez uma pausa, o olhar malicioso. — Você. Já pensou? A gente cantando juntos no meu DVD. Ia ser foda.
— Você e esse papo de me arrastar pro seu palco — brinquei, cutucando o peito dele com o dedo. — Mas, sabe, talvez eu tope... se você me convencer direitinho. — Inclinei-me, roçando os lábios nos dele, um beijo leve, mas cheio de promessa, que fez meu corpo formigar apesar do meu cansaço.
Ele aprofundou o beijo por um instante, a mão deslizando pela minha cintura, os dedos roçando o tecido fino do babydoll.
— Convencer você é o que eu faço de melhor — murmurou contra meus lábios, a voz carregada de um calor que me fez querer esquecer o cansaço. Mas então ele se afastou, os olhos percorrendo o meu rosto com uma ternura que apertou o meu peito. — Mas, linda... você tá exausta. Tô vendo as olheiras daqui. Chegou de viagem agora, precisa descansar.
Eu fiz um biquinho, inclinando-me mais pra ele, minha mão subindo pelo peito dele, sentindo os seus músculos se tensionarem sob o meu toque.
— Descansar? — perguntei, o tom provocador, mesmo que a minha voz tremesse de cansaço. — Tô morrendo de saudade de você, lindo. Quero aproveitar você, nem que seja um pouquinho.
— Porra, amor, você não facilita — ele gemeu, rindo baixo enquanto segurava minha mão, impedindo-a de descer mais. — Você sabe o quanto eu te quero. Sempre. Mas olha pra você, tá quase caindo de sono. — Ele me puxou contra o peito dele, meu rosto encaixado no ombro dele, o coração dele batendo firme contra o meu ouvido. — A gente mata essa saudade direito amanhã. Prometo que não vou te deixar sair dessa cama ou de outras...
Eu ri, o som abafado contra a pele dele, o cansaço finalmente vencendo enquanto eu me aconchegava ainda mais nele.
— Tá bom, Sr. Sensato — murmurei, os olhos já pesados. — Mas amanhã você não escapa. Tô cobrando, hein.
— Pode cobrar. Tô pronto pra pagar com juros — ele disse, a voz suave, beijando o topo da minha cabeça enquanto os seus dedos brincam com o meu cabelo. — Agora dorme, minha estrela. Tô aqui.
O calor dele, o som da respiração dele, tudo me envolveu como um cobertor. Fechei os meus olhos, a saudade se acalmando enquanto eu caía no sono, sabendo que, pelo menos ali, com ele, eu estava em casa. .