•|𝙲𝚑𝚊𝚙𝚝𝚎𝚛 𝚃𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢-𝚂𝚎𝚟𝚎𝚗|•

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📍 Brasil - Goiânia - Go.

DEZESSEIS DE JUNHO.
SEGUNDA - FEIRA.

>>> Murilo Huff.

14:32

Estou no estúdio, ajustando os fones de ouvido e revisando as últimas vias da música que gravamos e compondo mais músicas, quando o meu celular vibrou no bolso. Era uma mensagem da Marília, com um tom que me deixou com um frio na espinha: “Amor, preciso conversar com você mais tarde. Pessoalmente.” Meu coração deu um salto, não de medo, mas daquela sensação incômoda de quem acha que pisou na bola sem saber como.

Repassei mentalmente a manhã, nossa briga, o jeito que ela saiu chorando pro quarto dela. Será que eu tinha exagerado na preocupação com a menstruação atrasada? Ou era outra coisa? Respondi rápido, tentando manter a calma: “Tá tudo bem, amor? O que foi? Tô terminando aqui e já vou pra casa.”

A resposta dela veio seca, mas firme: “É pessoalmente, Murilo. Tô te esperando.” Aquilo só aumentou o aperto no peito e a minha eterna ansiedade, mas eu sabia que não tinha feito nada de errado. Só que com a Marília, às vezes, o jeito dela de falar deixava um cara como eu pensando mil coisas. Guardei o celular, foquei na gravação, mas confesso que as últimas horas no estúdio foram meio automáticas. Minha cabeça tava nela, no que podia estar acontecendo.

....

18:01

Terminei tudo por volta das 18h, me despedi do pessoal com um aceno rápido e peguei o carro, dirigindo direto pra casa. A noite já tava caindo em Goiânia, o céu alaranjado, mas eu mal reparei.

Só queria chegar, ver ela e entender o que tava rolando. Quando entrei em casa, a encontrei na sala, sentada no sofá, mexendo no celular com uma expressão que misturava nervosismo e concentração. O meu coração disparou de novo, mas dessa vez era só por vê-la ali, tão linda, mesmo com os olhos vermelhos de quem tinha chorado.

— Amor — chamei, sentando ao lado dela, tão perto que nossos joelhos se encostaram. Coloquei a mão na coxa dela, tentando ler o rosto dela. — O que foi? Tô preocupado aqui desde que recebi sua mensagem, pensando mil coisas na minha cabeça. Fala comigo.

Ela levantou os olhos do celular, e eu vi as lágrimas voltando, brilhando na luz suave da sala. Meu estômago apertou, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela respirou fundo e soltou:

— Murilo, eu tô grávida. — A voz dela quebrou, e ela começou a chorar de novo, o celular caindo no colo enquanto cobria o rosto com as mãos.

Eu pisquei, atônito, o cérebro tentando processar. Grávida? Um riso nervoso escapou dos meus lábios, mais por choque do que qualquer outra coisa.

— Sério, amor? — perguntei, puxando-a pro meu colo, os braços envolvendo ela com força enquanto ela soluçava contra meu peito. — Bora criar, uai! — falei, o riso saindo mais alto, uma mistura de alegria e nervosismo. — Graças a Deus, não vai faltar nada pra ele... ou ela. Nem amor, nem nada que precisar. Bora criar, uai!

Ela riu entre as lágrimas, o som abafado contra meu ombro, e levantou o rosto, os olhos vermelhos, mas com um brilho que me fez querer beijá-la ali mesmo.

— Você tá rindo, seu bobo? — perguntou, limpando as lágrimas com as costas da mão. — Eu tô aqui surtando, e você... “bora criar”?

— Tô rindo porque é com você, Marília — disse, segurando o rosto dela, os polegares acariciando as bochechas molhadas. — É nosso, amor. Nosso filho. Tô nervoso pra caralho, mas feliz pra caramba. — Beijei a testa dela, sentindo o meu próprio peito apertar de emoção. — Desculpa se eu te pressionei mais cedo. Só tava preocupado.

Ela balançou a cabeça, as mãos segurando minha camisa.

— Não, eu que me estressei, amor. Desculpa eu. Tava com medo, cansada da viagem, e quando eu vi o teste... — Ela fez uma pausa, os olhos marejando de novo. — Deu positivo. Três meses. Eu não tava preparada.

— Tá tudo bem, amor — murmurei, puxando-a pra mais perto, beijando os lábios dela suavemente, sentindo o gosto salgado das lágrimas. — A gente vai dar um jeito. Primeiro, marca os exames, tá? Quero saber como o nosso bebê tá, se tá tudo certo com você. — Minha mão desceu instintivamente pra barriga dela, que ainda não mostrava nada, mas só de pensar que tinha uma vida ali, nossa vida, meu coração acelerava.

Ela riu, meio boba, cobrindo minha mão com a dela.

— Olha você, todo pai preocupado — disse, o tom mais leve agora, os olhos brilhando com um carinho que me desmontava. — Tô falando com os médicos já, amor. Perguntei sobre as cirurgias, o silicone nos seios, se vai dar problema pra amamentar... essas coisas.

— Boa, minha responsável — provoquei, sorrindo enquanto me inclinava, falando baixo contra a barriga dela. — Ei, você aí dentro, se comporta, tá? Seu pai e sua mãe te amam pra caralho. — Levantei o rosto, vendo Marília me olhando com tanto amor que quase não aguentei.

— Você é bobo, Murilo — ela disse, rindo, mas os olhos cheios de emoção. — Mas é o bobo que eu amo. E que nosso bebê vai amar.

Sentei mais perto, puxando-a pra deitar no meu peito, os dois no sofá, o mundo lá fora esquecido.

— A gente vai ser uma família, amor — murmurei, beijando o topo da cabeça dela. — Você, eu, e esse pequeno. Tô dentro, com tudo.

Ela se aninhou mais, a mão na minha, a aliança brilhando no dedo dela.

— Tô dentro também, vida — sussurrou, e ali, na sala, com o silêncio da noite nos envolveu.

Somos só nós três. E esse é o momento que eu sei que nunca vou esquecer por toda a minha vida.

Eu vou ser pai. Pai de um filho meu e da Marília. Um bebê nosso… com um pedacinho de mim e um pedacinho dela.

É uma sensação impossível de descrever — um misto de medo, alegria e gratidão. Sinto o peito apertar, o coração bater mais forte, como se o mundo inteiro parasse só pra que eu pudesse entender o peso e a beleza disso.

Minha mãe… ela iria amar viver esse momento comigo. E por um segundo, eu fecho os olhos e quase consigo sentir que ela tá aqui, sorrindo, orgulhosa.

Mas talvez, se tudo tivesse sido diferente, eu não teria conhecido a mulher da minha vida — e agora, a mãe do meu filho.

A Marília. O amor da minha vida.
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Continua....

𝐎 𝐍𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐃𝐞𝐬𝐭𝐢𝐧𝐨! - 𝑀𝓊𝓇𝒾𝓁𝒾𝒶Onde histórias criam vida. Descubra agora