Desde cedo, a vida os marcou com a dor da perda. O pai de Marília e a mãe de Murilo faleceram quando eles ainda eram crianças, deixando em cada um um vazio que parecia impossível de preencher. O destino, porém, traçou outro caminho: a mãe de Marília...
O alarme do celular tocou às 08:16, um som estridente que me arrancou do sono com um susto, fazendo meu coração disparar. Eu me sentei na cama, o corpo pesado, a cabeça meio zonza, e uma onda de irritação que não explicava veio com tudo. Murilo ainda dormia ao meu lado, o rosto tranquilo, a respiração lenta, e por um segundo, até ele me irritou por estar tão calmo enquanto eu sentia um turbilhão.
Respirei fundo, esfregando o rosto, tentando lembrar por que o alarme tava tocando. Então caiu a ficha: a consulta com a ginecologista e obstetra, o primeiro exame, a ultrassonografia. Nosso bebê. O pensamento trouxe um calor ao peito, mas também uma ansiedade que me deixou ainda mais abusada com o mundo.
— Murilo, acorda — falei, cutucando o ombro dele, a voz mais ríspida do que eu queria. Ele abriu os olhos devagar, aquele olhar sonolento e carinhoso que normalmente me derretia, mas hoje só me fez bufar. — Marquei a consulta com a Dra. Helena hoje. Vamos ver o bebê, fazer os exames. Levanta, vai.
Ele piscou, sentando-se na cama, o cabelo bagunçado de um jeito que, mesmo irritada, eu achei charmoso.
— Bom dia pra você também, loira — disse, com um sorriso torto, esticando a mão pra tocar minha barriga. — Tá nervosa? Relaxa, amor, vai ser incrível ver nosso filhote.
— Não tô nervosa, Murilo, só... sei lá, apressada — retruquei, saindo da cama e indo pro banheiro, sentindo ele me olhar com aquela cara de quem sabia que eu tava de mau humor.
Tomei um banho rápido, a água quente ajudando a aliviar um pouco a tensão, mas não o suficiente. Vesti uma blusa social feminina preta, uma calça jeans lavagem azul claro com rasgos como modelo da calça e uma rasteirinha também preta e confortável. Peguei os meus documentos, jogando tudo na bolsa com um pouco mais de força do que precisava.
Marílinha.
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