📍 Brasil - Goiânia - Go
VINTE E DOIS DE JULHO
QUARTA - FEIRA.
>>> Marília Mendonça.
10:21
Entrelaçamos nossos dedos e saímos do quarto com o Léo nos braços.
O corredor da chácara, iluminado pela luz suave do sol da manhã que entrava pelas janelas altas, parecia um caminho sagrado — daqueles que a gente percorre devagar pra não quebrar o encanto.
O Léo, ainda sonolento depois do banho, piscava os olhinhos castanhos — idênticos aos meus — e segurava firme a chupeta azul, como se fosse o último pedacinho de sono que restava. Eu sentia o calor do corpinho dele no meu peito, quente, vivo, pulsante… e isso me enchia de uma paz que nem as noites de show lotado conseguiam me dar.
Murilo caminha ao meu lado. O maiô preto moldava meu corpo de um jeito que eu sabia que deixava ele engolindo em seco — dava até pra sentir o olhar dele me percorrendo inteira. O short jeans desabotoado deixava uma faixa de pele à mostra, dourada pela luz da manhã, e o detalhe trançado dourado na cintura brilhava como se tivesse sido feito só pra mim. Mas, mesmo assim, eu ainda sentia aquela sombra de insegurança me rondando.
Apertei a mão dele mais forte, como quem procura abrigo.
— Amor… — murmurei, com a voz quase sumindo. — Você tem certeza que quer passar o dia inteiro comigo assim? Eu podia ter colocado uma roupa mais… coberta. O maiô tá apertado, e eu…
Murilo parou no meio do corredor.
De repente, o silêncio da casa pareceu crescer entre nós dois. Ele virou pra mim, segurou meu rosto com a mão livre — o Léo ainda aninhado no outro braço — e me olhou daquele jeito que só ele tem.
— Para. — disse, com a voz firme e ao mesmo tempo calma. — Você tá brincando comigo, né? Olha pra você, Marília. Olha pra mim… olhando pra você. — Ele respirou fundo, os olhos marejados de carinho. — Eu passo duas semanas sem te ver e, quando finalmente te tenho do meu lado, você acha mesmo que eu ligo pro que tá cobrindo ou não o seu corpo? — Senti um nó subir pela garganta. Murilo continuou, aproximando o rosto do meu: — Eu ligo pro cheiro do seu cabelo, pro jeito que você suspira quando tá feliz, pro som da sua risada quando o Léo faz careta. O resto, amor… é detalhe.
Mordi o lábio, sentindo as minhas lágrimas começarem a querer cair. Eu sei que não é só sobre o meu corpo. É sobre tudo. Sobre ser mãe, mulher, e ainda carregar o nome “Marília Mendonça” como se fosse uma coroa e um peso ao mesmo tempo. Ser a mulher que o Brasil inteiro ama — e, ao mesmo tempo, a mãe que acorda de madrugada pra dar mamá e ainda tinha que sorrir pras câmeras no dia seguinte.
— Eu só… me sinto tão diferente, Murilo. — confessei, com a voz trêmula. — Antes eu era só a rainha do sofrência, a que subia no palco e fazia mais de cinquenta mil pessoas cantarem comigo. Agora eu sou a mãe que tem estrias na barriga e leite vazando no sutiã. — Suspirei. — Eu amo o Léo mais que tudo, mas às vezes eu me olho no espelho e não me reconheço.
Murilo abaixou o Léo com cuidado, deixando ele em pé, firme, segurando na perna dele pra se equilibrar. Depois me puxou pra perto, me envolvendo num abraço inteiro, forte, quente.
— Escuta aqui, loira… — ele sussurrou no meu ouvido, com aquela voz que faz o mundo parar. — Você não é só a mãe do Léo. Você não é só a Marília Mendonça. Você é tudo. — Fechei os olhos, sentindo cada palavra dele entrar em mim. — Você é a mulher que me faz chorar cantando Infiel no DVD. — ele disse. — A que me faz rir quando imita a Maraísa falando grosso, e a que me faz querer ser melhor todo santo dia. — Eu deixei escapar um riso pequeno, com lágrimas nos olhos. Ele encostou a testa na minha. — E essas estrias? — continuou, baixinho. — São mapas, amor. Mapa do caminho que você percorreu pra trazer o nosso filho pro mundo. Eu beijaria cada uma delas se você deixasse. — O riso escapou mais forte dessa vez, meio molhado, meio soluçado. Afundei o rosto no pescoço dele.
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𝐎 𝐍𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐃𝐞𝐬𝐭𝐢𝐧𝐨! - 𝑀𝓊𝓇𝒾𝓁𝒾𝒶
FanficDesde cedo, a vida os marcou com a dor da perda. O pai de Marília e a mãe de Murilo faleceram quando eles ainda eram crianças, deixando em cada um um vazio que parecia impossível de preencher. O destino, porém, traçou outro caminho: a mãe de Marília...
