Capítulo 2

465 11 0
                                    

Seven Dials não era muito longe dos marts shops (lojas em que se vendem drogas) da Oxford Street, dos teatros da Shaftesbury Avenue ou ainda da grandiosidade do tra-falgar Square, mas era muitos quilômetros distantes dos privilegiados. Grandes faixas de seus desordenados apartamentos e habitações muito pobres podem ter sido demolidos nos últimos 20 anos, mas com o mercado de frutas e vegetais do Covent Garden ainda em seu coração, e muitas ruelas, quadras e becos por todo canto, as novas construções rapidamente se tornam exatamente tão desgastadas como as antigas.
Seus moradores são principalmente das classes baixas da sociedade - ladrões, prostitutas, mendingos, vagabundos e brutamontes - varredores de rua, lixeiros e operários. Em um cinzento, gelado dia de janeiro, com muitas pessoas agasalhadas contra o frio apenas com trapos, tudo isso junto e uma visão deprimente.

- Da próxima vez que eu resgatar a fita do cabelo de uma garota bonita vou ter realmente muito cuidado com o que digo para ela - disse Jimmy. -Seu cabelo é lindo, nunca vi cachos pretos tão brilhantes antes, e você tem lindos olhos também.
Belle sorriu porque sabia que seu longo e encaracolado cabelo era o que tinha de melhor. A maioria das pessoas pensava que ela deveria cacheá-lo à noite e colocar óleo para que ficasse brilhante, mas ele era naturalmente assim - tudo o que fazia era escová-lo. Seus olhos azuis, tinha herdado de Annie, mas Belle imaginava que tinha de agradecer ao pai por seu cabelo e a sua mãe apenas pelo brilho que ele tinha.

- Bem, obrigada, Jimmy - ela disse. - Continue sendo tão gentil assim com a garotas e você vai fazer um grande sucesso por aqui.

- Em Islington, de onde vim, as garotas não falariam com alguém como eu.

Belle mal havia saido de Seven Dials, mas sabia que Islington era onde os respeitáveis, a burguesia, viviam. Ela tinha deduzido isso por sua última observação - e o que ele havia dito sobre seu tio ter pago o funeral - que sua mãe tinha trabalhado lá.

- Sua mãe era uma cozinheira ou empregada doméstica? - ela perguntou.

- Não, era costureira, e ela tinha uma boa vida até ficar doente -ele disse.

- E seu pai?

Jimmy encolheu os ombros.

- Ele foi embora perto do meu nascimento. Mamãe dizia que ele era um artista. Tio Garth o chamava de um "nada". De qualquer forma não o conheço e nem quero conhecer. Mamãe sempre dizia que era sortuda porque ela era uma costureira habilidosa.

- Ou talvez ela devesse ter vindo e trabalhado na casa da Annie ? - Belle disse de um jeito travesso.

Jimmy gargalhou.

- Você é rápida, eu gosto disso - ele disse. - Então, podemos ser amigos ?

Belle olhou para ele só por um minuto. Ele era uns três, talvez cinco, centímetros mais alto que ela, tinha traços suaves e um bom jeito de falar. Não exatamente refinado como o de um cavalheiro, mas não tinha um modo grosseiro de falar misturando com gírias de Londres que a maioria dos rapazes das proximidades do Seven Dials tinha adotado. Ela imaginou que ele deveria ter sido bem próximo de sua mãe, e tinha sido protegido de certos excessos de bebida, violência e vícios que havia por ali. Ela tinha gostado dele e precisava de um amigo tanto quanto ele.

Eu gostaria - ela disse, e estendeu seu dedinho do jeito que Millie, na Casa da Annie, sempre fazia com um sorriso, e assim que o dedo dele se enroscava com o dela, ela apertava a mão dele. - Fazer amigos, fazer amigos, nunca romper com os amigos - ela cantarolava.

Jimmy repondeu com um emocionado sorriso de orelha que deixou claro que ele tinha gostado do que Belle havia dito.

- Vamos para algum lugar - ele sugeriu. - Você gosta do Parque St. James?

- Nunca estive lá - ela respondeu. - Mas eu realmente tenho que voltar.

Era um pouco depois das 9 da manhã, e Belle tinha feito o que sempre fazia, deu uma escapada para pegar um ar fresco enquanto todos os outros na casa ainda dormiam.

Talvez ele tenha percebido que Belle não estava ansiosa para ir para casa e estava tentada a passear porque ele agarrou a mão dela e colocou em seu braço, então começou a andar.

- Está mesmo muito cedo ainda, nós não vamos fazer falta - ele disse. - O parque tem um lago e patos e será bom tomar um pouco de ar fresco. Não é longe.

Um leve entusiasmo tomou conta de Belle. Tudo o que a esperava em casa era esvaziar baldes de resíduos e carregar carvão para o fogo. Ela não precisava de mais nada para convencê-la a ir com Jimmy, mas queria colocar sua melhor capa azul-royal com o capuz enfeitado com pele. Ela se sentia muito desleixada naquela sua cinza velha.

Enquanto iam apressadamente pelas ruelas detrás para a Charing Cross Road, depois desciam para a Trafalgar Square, Jimmy lhe contava mais sobre sua mãe, e fazia Belle rir com historinhas sobre algumas das mulheres ricas para quem sua mãe costurava.

- A senhora Colefax era a que deixava minha mãe realmente doida. Ela era enorme, tinha quadris como os de um hipopótamo, mas ela achava que mamãe cobrava dela por muito material e usava o que sobrava para fazer algo para ela mesma. Um dia minha mãe não conseguiu segurar mais e disse: " Senhora Colefax, exigiria de mim toda a criatividade do mundo fazer um vestido para a senhora com cinco metroa de crepe. O que sobraria não daria para fazer uma jaqueta para um gafanhoto".

Belle deu risada, imaginando a mulher gorda em pé lá com seu espartilho provando um vestido.

- O que ela disse ?

- " Nunca fui tão insultada " - Jimmy imitou a senhora Colefax falando com uma voz alta e ofegante. - " Você deveria lembrar bem quem eu sou ".

Eles pararam para olhar as fontes em Trafalgar Square, então foram apressadamente pela estrada em direção ao Malll ( lugar muito importante em Londres, que fica nos arredores do palácio de Buckingham. Todo o trecho faz mensão a locais próximos ao palácio ).

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora