Capítulo 15

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Uma batida na porta entrou no profundo sono de Noah e o fez abrir os olhos cuidadosamente. Ele não podia ver nada; as pesadas cortinas tinham sido retiradas.

- O que é isso? - falou em voz alta fracamente, pois tinha bebido muito na noite anterior.

- Uma dama quer vê-lo - a senhora Dumas, sua senhoria, anunciou. - Ela disse que lamenta chamar tão cedo, mas queria encontrá-lo antes que o senhor fosse trabalhar.

- Não tenho nenhum trabalho hoje - Noah murmurou. - Mas isso tem a ver com quê? - ele perguntou bem alto.

- Ela disse que era sobre Millie.

Noah acordou imediatamente. Ele só conhecia uma Millie, e embora não
conseguisse imaginar por que alguém o procuraria ali para falar sobre ela, estava intrigado.

- Vou descer! - gritou enquanto jogava as colchas para trás.

Noah Bayliss tinha 31 anos, era solteiro e tinha uma precária vida financeira porque embora fosse os dois, jornalista freelance e investigador de uma companhia de seguros, nenhuma das duas profissões pagava muito ou oferecia trabalho regularmente. Jornalismo era o verdadeiro amor de Noah, ele sempre
sonhava em conseguir um grande furo jornalístico, assim o The Times lhe ofereceria uma posição fixa no jornal. Ele frequentemente sonhava mais alto ainda, se tornaria o editor do jornal. Mas para sua decepção nunca fora mandado para cobrir emocionantes e importantes novas histórias como um julgamento incrível ou um inquérito. A maioria das vezes ele tinha ordem de relatar muitos entediantes encontros da câmara ou outras histórias ovas que ganhariam menos que três centímetros de espaço nas costas do jornal.

Até dizer que ele era investigador de seguradoras era um exagero. A maioria das vezes era apenas enviado para ajudar encontrar os requerentes na casa deles e fazer um relato na volta sobre qualquer coisa que pudesse ser suspeita.

Geralmente era chamado após uma morte para encontrar a viúva ou o viúvo de luto. Ele não tinha ainda conhecido alguém que tivesse o mais leve cheiro de veneno, ou recebido um empurrão da escada ou nada que pudesse apontar que a morte não tinha causas naturais, embora tivesse esperanças de que um dia acharia.

Ele lavou seu rosto na água gelada do jarro no lavatório, pôs uma blusa limpa e resgatou suas calças do chão onde ele as tinha jogado na noite anterior. Ele estava bem em seu espaço, pois a senhora Dumas era uma viúva que queria companhia e algo para fazer, mais do que apenas dinheiro. Sua casa com varanda
em Percy Street, perto da Tottenham Court Road, era muito limpa e confortável, e ela tratava seus três inquilinos quase como membros da família. Noah gostava disso, então assumia para si a responsabilidade de fazer alguns pequenos serviços de manutenção, e enchia os baldes de carvão para ela todo dia. Quando ele
desceu quietinho as escadas torceu para que a senhora Dumas estivesse longe da campainha; ele não queria que ela soubesse que ele tinha estado em um bordel.

- A senhorita Davis está no salão - ela disse quando ele chegou no hall. Ela era uma mulher pequena com mais de 60 anos, lembrava um pequeno pássaro com seu nariz acentuadamente pontudo e olhos penetrantes. Ela estava parada na
porta que dava para a cozinha, vestindo o avental branco de babados que sempre colocava em cima do vestido de manhã.

- Venha para a cozinha quando você
tiver terminado e farei seu café da manhã - disse, com o rosto iluminado de curiosidade.

O nome senhorita Davis não significava nada para Noah, mas quando entrou no salão, reconheceu a pequena mulher com um casaco preto e um chapéu muito severo como a empregada da Casa da Annie, que Millie chamava de Mog.

- Desculpe chamá-lo tão cedo, senhor Bayliss - ela disse, levantando e oferecendo sua mão. - Acho que o senhor sabe de onde eu sou.

Noah concordou e apertou a mão dela.

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