Capítulo 76

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- Promete escrever para mim? E ir à Inglaterra em breve? - Belle implorou a Etienne.

Eles estavam na Gare Du Nord, na plataforma ao lado do trem para Calais. Noah já estava dentro do trem com a bagagem e deu aos outros dois a chance de se despedirem sem que ele ficasse olhando. A estação estava muito cheia e barulhenta com o som de motores a vapor, carrinhos para malas sendo empurrados e pessoas gritando para serem ouvidas.

Porém, Belle estava alheia a tudo, exceto por Etienne, enquanto ele segurava suas mãos e olhava para ela. Ela queria prender a lembrança do rosto dele para sempre na mente. Aqueles olhos azuis que podiam ser frios como o Oceano Atlântico às vezes e, ainda assim, conservavam o calor e a alegria de New Orleans quando ele olhava para ela. As maçãs do rosto bem marcadas, a curva da boca generosa.

Ela queria tirar o chapéu dele e bagunçar seu cabelo, porque gostava daquele visual de menino que ele tinha quando acordava. Belle havia sido forçada a ficar na casa de repouso por mais tempo do que o esperado, pois ficara doente e com febre. O médico disse que era o choque, mas ela achava que era da preocupação de que Pascal pudesse tê-la engravidado. Porém, por sorte, sua menstruação chegou com alguns dias de atraso e ela logo se recuperou.

A cicatriz na barriga tinha melhorado bastante, mas ela evitava olhar; não queria lembranças do que Pascal fizera a ela. No entanto, haviam sido as visitas de Etienne as responsáveis pela sua recuperação total. Ele chegava com doces, frutas ou alguma outra delícia e sentava-se ao lado da cama para contar o que tinha lido nos jornais do dia. Ela se viu contando para ele histórias engraçadas das garotas da casa de Martha e ele contou histórias sobre alguns dos vilões que conhecera no passado.

Etienne acabou falando sobre o incêndio e como ficara abalado depois, mas tinha mais vontade de falar sobre os planos para sua pequena fazenda e incentivá-la a conversar sobre seu sonho de ter uma loja de chapéus. No entanto, durante a maior parte do tempo, eles falavam sobre assuntos pouco importantes, como as coisas que viram juntos em Nova york, os livros que haviam lido e outros lugares que gostariam de conhecer. Era
muito fácil estar ao lado dele, ele não disparava perguntas para cima dela, não queria saber o que ela estava pensando. E ele nunca indicava que estava cansado da companhia dela. Belle finalmente conseguiu ver Paris na primavera também, pois, assim que foi liberada para voltar ao Mirabeau, Etienne a levou para passear pela cidade.

Paris estivera cinza e invernal em todo o tempo que ela passara lá, mas, naquele momento, as árvores estavam radiantes com botões de flores rosa e brancas, e o sol brilhava nos canteiros de flores com tulipas vermelhas e amarelas. As pessoas tinham abandonado as roupas pesadas e feias de inverno e era agradável vê-las caminhando pelos bulevares cercados de árvores, as mulheres com elegantes vestidos em tons pastel e lindos chapéus de primavera. Até os cavalheiros usavam ternos de cores mais claras. Belle e Etienne fizeram uma viagem de barco pelo Sena, caminharam no Bois de Boulogne, viram Versalhes e subiram a Torre Eiffel.

Parecia até que estavam namorando, como os casais ao redor. Porém, Belle sabia bem que nunca poderia esperar um relacionamento doce desse tipo, não depois de tudo que ela fizera. Ela ouvia garotas rindo e soltando gritinhos na plataforma do topo da Torre Eiffel. Observou a maneira como os homens abraçavam a cintura delas, protetores, enquanto olhavam a vista panorâmica de Paris lá embaixo. Ela podia rir como as outras, Etienne podia abraçá-la da mesma forma, mas a soma de tudo o que os dois sabiam sobre o lado mais depravado da vida impedia um romance inocente.

- Vou escrever, mas aviso que meu inglês escrito não é bom - Etienne disse. - Porém, não é bom eu ir à Inglaterra. Sempre a lembrarei do passado e isso não é bom para você.

Belle olhou para ele consternada. Ela sabia, pela oscilação da voz dele, que suas palavras não refletiam o que o coração sentia.

- Mas eu preciso de você - ela suplicou com os olhos enchendo-se de lágrimas.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora