- Tudo bem, querida - disse Martha, dando um tapinha no joelho de Belle como se ela fosse uma criança. - E tire esse vestido, parece a roupa que uma professora velha usaria.
Belle se lembrava de ter saído do quarto de Martha naquele dia e corrido de volta para o próprio quarto, onde pôde sentir raiva, em particular, por ter se rebaixado apenas para ter um teto. Mas ela fez uma promessa a si mesma de que continuaria com aquele jogo apenas até onde fosse adequado, e então sairia.
Belle não havia se deixado levar pelo charme sedutor de New Orleans.Tampouco havia percebido que a vida simples e cheia de luxo da casa de Martha a sugaria e a tornaria tão indolente quanto as outras meninas.
Martha voltou a ser a mulher calorosa e amigável que era antes da pequena
discussão. Belle havia feito amizade com as outras meninas e à tarde elas saíam juntas, iam até a Jackson Square ou saíam para caminhar perto do rio Mississippi.Elas sempre tinham sobre o que falar e rir, pois no trabalho delas sempre
aconteciam coisas divertidas, e ninguém o levava muito a sério. Belle recebia seus 2 dólares por noite, e ela economizava o máximo que conseguia toda semana.Na maior parte do tempo, Belle se sentia muito contente com as meninas, como
se fossem as irmãs mais velhas que ela nunca tivera. Com elas, aprendeu sobre os Estados Unidos, sobre moda e dicas de beleza, e a respeito dos homens, claro, pois eles sempre eram assunto nas conversas.Belle também tinha um quarto grande, que apesar de ser quente no verão, era
bonito, com rosas em forte tom rosado no papel de parede. Podia comer o que
quisesse, e havia aprendido a gostar de jambalaia apimentado e outros pratos
tipicamente créoles. Podia dormir a maior parte do dia, se quisesse, ou relaxar nas almofadas à sombra, no quintal dos fundos, lendo um livro. Não tinha que esfregar o chão, lavar roupa ou qualquer coisa além de se embelezar. Mas, de vez em quando, a raiva e o ressentimento surgiam dentro dela. Ela conseguia lidar com o trabalho; para ser sincera, ela gostava do que fazia. Preferia os homens mais velhos aos mais jovens. Às vezes eles diziam que eram viúvos ou que as esposas não queriam mais dormir com eles. Apesar de ela saber que era provável que estivessem mentindo e só quisessem carne nova sem complicações,
independentemente de falarem a verdade ou não, eles sempre eram educados, delicados e agradecidos. Ela normalmente ficava emocionada com o cuidado deles - algumas lágrimas, um abraço caloroso antes da partida, flores ou chocolates deixados para ela mais tarde faziam com que ela se sentisse especiale até amada.Alguns dos homens mais jovens, por outro lado, faziam com que ela se sentisse suja. Eram grosseiros, indelicados e insensíveis ao que ela pensava.
Normalmente, eles agiam como se ela devesse agradecer por eles a terem
escolhido, e às vezes ela atendia um que dizia que ela não valia o dinheiro.Martha dizia que muitos homens faziam isso por se sentirem diminuídos por terem que pagar por sexo, e que ela não deveria ver aquilo como algo pessoal.
Mas era difícil não se ofender. Em muito menos do que dois anos, ela havia aprendido o que era sexo e conhecera mais do que queria. Sabia agora que não havia dois pênis iguais; já tinha visto enormes, minúsculos, tortos e afetados por doenças, e todas as variações entre eles. Havia aprendido o truque de contrair seus músculos internos para aumentar o prazer dos homens e fazer com que atingissem o orgasmo mais
rapidamente. Conseguia até fazer sexo oral e fingir estar adorando, quando, na
verdade, sentia vontade de vomitar. Alguns homens queriam fazer amor de verdade, outros queriam apenas se aliviar rapidamente. Alguns queriam acreditar que ela, de fato, era uma moça pura, enquanto outros queriam que ela agisse como uma mulher vulgar. Ela havia desenvolvido a habilidade de saber o que eles queriam só de observar como eles a olhavam no salão. Ela passava de donzela a mulher vulgar com tanta rapidez que não sabia mais qual era a sua real personalidade.
Belle sabia que ela não era a mesma menina que havia saído da Inglaterra. Não tinha mais sonhos românticos, e passara a analisar tudo o que lhe era dito com um certo pessimismo.

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Belle
AcakBelle, uma jovem de quinze anos, viveu toda a sua vida em um bordel. Sem saber o que realmente acontecia nos quartos no andar de cima. Porém, em uma noite que poderia ter sido como qualquer outra, ela testemunhou o assasinato de Millie, uma das garo...