Capítulo 61

56 3 1
                                    

Por fim, quando não havia mais nada em seu estômago, ela se levantou do chão com dificuldade e olhou para seu reflexo no grande espelho atrás da banheira.

Os cabelos, que ela gastara uma hora arrumando na noite anterior, firmando os cachos com escova e prendendo-os com grampos na cabeça, estavam muito embaraçados, o rosto estava pálido e os lábios pareciam inchados e feridos. Sentia uma ardência nas partes íntimas também, e concluiu que Clovis a possuíra com agressividade.

Quando Madame Albertine explicou o propósito de se usar um bidê, Belle não havia entendido muito bem, mas quando se sentou nele, e a água quente atingiu suas partes íntimas, compreendeu. Infelizmente, com a compreensão a respeito da utilidade dos bidês, veio a percepção de que havia sido enganada. Ela não acreditava que um homem culto e inteligente como Clovis se aproveitaria de uma mulher que tivesse bebido demais, a menos que ele soubesse que ela não poderia reclamar.

Pensando nisso, concluiu que a Madame Albertine havia contado a ele o que ela era, e Belle chorou por isso, porque gostava de Albertine, e acreditava que seus segredos estariam em segurança com ela.

Belle permaneceu no banheiro durante muito tempo. Lavou-se completamente, penteou os cabelos e bebeu muita água, até sentir-se totalmente sóbria de novo. Então, voltou para o quarto escuro e procurou, até encontrar, as roupas pelo chão.

Ao observar entre as cortinas, viu que ainda estava escuro, e que o amanhecer se anunciava com apenas um pouco de luz, e além de não saber como voltar para a casa de Madame Albertine, também não queria que a vissem sair dali. Por isso, depois de se vestir, pegou um cobertor que havia caído da cama e se sentou no sofá ao lado da janela e cobriu o corpo para manter-se aquecida, enquanto pensava em como lidaria com a situação.

Clovis roncava baixinho, um som amável em muitos aspectos, e Belle desejou poder acreditar que ele a tivesse levado até ali com a intenção de deixá-la dormindo até a embriaguez passar, e que foi vencido pelo desejo. Infelizmente, no entanto, ela conhecia os homens bem o suficiente para acreditar naquela ideia.

Ironicamente, ela poderia ter ido para a cama com ele em outro encontro, porque havia gostado dele. Mas ao pensar na forma com que tinham se conhecido no almoço de Natal, de repente ela se deu conta de que a Madame Albertine podia estar exibindo Belle naquele momento e mais cedo naquele dia, a seus outros amigos, preparando-se para oferecê-la no leilão maior. Belle ficou horrorizada, pois aquele era o pior tipo de traição. Mas quanto mais pensava naquilo, mais percebia que tinha razão e, ainda mais, que Madame Albertine não podia estar sozinha naquilo: seu principal cúmplice era Arnaud.

Ela conseguiu entender tudo. Arnaud havia se oferecido para chamar um táxi para levá-la a um lugar que ele conhecia, porque já havia planejado tudo. Era possível que Madame Albertine já administrasse um bordel, e ficou encantada por Arnaud ter levado sua mais nova contratada. Belle entendia agora por que havia se sentido desconfortável na casa dos Germaine; os amigos dele já sabiam o que ela era e talvez até já estivessem fazendo ofertas por ela.

O jantar daquela noite tinha sido a isca. E ela havia mordido e se prendido no anzol. Para fazê-la cair na armadilha, foram necessários apenas um belo acompanhante, um lindo vestido e bebida em excesso. Por ter ido ao quarto de Clovis por livre e espontânea vontade, não podia reclamar a respeito do que ele fizesse com ela.

Mas era claro que a Madame Albertine não esperava que ela reclamasse. Sem dúvida, ela se mostraria triste quando Belle voltasse para casa, mas delicadamente sugeriria que ela fizesse aquilo por dinheiro no futuro; afinal, seria a maneira mais rápida de conseguir o suficiente para a passagem de trem de volta para a Inglaterra.

Independentemente de quem conseguisse os clientes, Madame Albertine ou Arnaud, não havia dúvida de que eles dividiriam o dinheiro que ela ganhasse. Belle voltaria exatamente para a mesma posição à qual havia sido submetida na casa de Martha.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora