Capítulo 63

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Ela havia achado a Place Vendôme intimidadora o bastante durante o dia, mas, vista à luz dos lampiões a gás, com dúzias de carruagens privativas à espera, algumas das quais tinham até brasões nas portas, e alguns brilhantes carros a motor, ela sentiu que não conseguiria ir em frente.

A simples maneira como a luz do cintilante lustre de cristal do hall do hotel atravessava as portas de madeira bem polida e os enormes arranjos de flores que ela viu ao passar indicavam hóspedes famosos e, possivelmente, até a realeza.

Belle respirou fundo, ergueu a cabeça e caminhou com atitude até as portas. Estava apavorada, mas não iria recuar agora. Homens ricos sempre queriam mulheres. Ela era capaz de fazer aquilo.

- Bonsoir, mademoiselle - cumprimentou o porteiro uniformizado com um sorriso, ao abrir a porta para ela.

Ela tentou agir como se frequentasse lugares como aqueles o tempo todo, mas, diante dela, havia um corredor longo e amplo de mármore branco com o tapete mais grosso e suntuoso de azul-cobalto que ela já vira estendido por ele. Havia estátuas de mármore, mais arranjos enormes de flores espetaculares e lustres cintilantes, e todas as portas de madeira brilhavam como espelhos. Ela pensou que o Palácio de Versalhes devia ter sido assim nos dias de Luís XIV.

Por sorte, havia dúzias de pessoas em volta dela, o que a fazia se sentir menos constrangida. Algumas faziam o check-in no balcão, outras apenas chegavam para o jantar ou iam embora depois de comer. Todas as mulheres estavam vestidas com elegância, banhadas em joias, e muitas exibiam casacos de pele que Belle supunha terem custado centenas de libras.

Ela viu carregadores empurrando carrinhos com pilhas de malas de couro, uma lembrança dolorida de que ela deixara sua mala de papelão em Marseille. A riqueza de lá a deslumbrava e ela sentiu uma inveja profunda das pessoas que viviam daquela forma e não conheciam outra. Ainda assim, ao olhar com objetividade para as mulheres, viu que nenhuma era bonita e que algumas eram bastante sem graça.
Dois homens no início da meia-idade estavam em pé conversando. Com o canto dos olhos, ela os viu interromper a conversar e olhar para ela.

Assim, ela virou-se um pouco, mantendo a cabeça baixa, e, depois, ergueu-a e sorriu maliciosamente para eles, antes de baixar os olhos de novo.

Ela sabia que seria impossível abordá-los diretamente no foyer do hotel, mas esse não era o plano dela. Ela ouvira dizer que todos os concierges de hotéis tinham garotas que podiam oferecer aos hóspedes por uma taxa alta e ela acreditava que o de lá não seria diferente, apenas mais seletivo do que aqueles de hotéis menos luxuosos.

Belle colocou-se ao lado de uma mesa dourada e ornamentada com formato de meia-lua e ficou olhando para os lados, como se esperasse alguém. Ela cruzou o olhar com outro homem e sorriu; depois, baixou o olhar. Mesmo olhando para baixo, ela podia sentir que ele a estava observando e que gostava do que via.

Por um momento, foi como se voltasse à casa de Martha. Ela sempre se sentira poderosa quando os homens entravam e lhe davam aquele olhar que significava que a queriam. Ela sentiu o mesmo naquele momento e isso a fez parar de ter medo. Ela se sentiu bem.

- Est-ce que je peux vous aider?

Belle assustou-se com a pergunta. Ela não tinha visto nem ouvido o homem se aproximar. Ele tinha cerca de 50 anos, cabelos grisalhos, um bigode cuidadosamente aparado e um cavanhaque. Os olhos dele eram pequenos e muito escuros e ele vestia um terno preto simples.

Ela não conseguia adivinhar, pelas roupas dele, se ele trabalhava no hotel ou não, mas teve a impressão de que trabalhava sim.

- Eu não sei falar francês - ela disse, embora estivesse quase certa de que ele perguntara se poderia ajudá-la.

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