Capìtulo 32

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Ele tirou as duas bolsas do ombro, a dela e a dele. Ele entregou a dela a Belle e colocou a dele na cama de baixo. - Eu a deixarei para se instalar. Partiremos logo. Voltarei quando estivermos em curso.

Então ele deixou a cabine, trancando-a.
Dois dias depois, quando o navio deixou Cork com um grande número de passageiros, Belle parou na portinhola observando o extenso litoral da Irlanda ficando cada vez menor até que ela não podia vê-lo mais, e um pensamento surpreendente lhe ocorreu, que ela já tinha viajado muito mais do que sua mãe e Mog o tinham feito a vida inteira.
Ela não estava com medo como esperava ficar. Estava entediada, frustrada por ficar trancada até Etienne vir escoltá-la, e solitária também. Mas não assustada.

Etienne era muito respeitoso: se ela queria usar o banheiro ele não a fazia
esperar de acordo com a conveniência dele, mas descia pelo corredor com ela e a esperava do lado de fora. Ele saía da cabine, assim ela podia se lavar e se vestir.

Ele era até solícito sobre como ela se sentia, se tinha comida suficiente e bebida, e encontrou alguns livros para ela ler.

Mas ele não falava muito. Nem uma palavra sobre sua própria situação ou onde ela ia descer. Na sala de jantar ele respondia se outro passageiro falasse com ele, mas não tomava a iniciativa de conversar. Belle achava que estava com medo que ela implorasse a alguém para ajudá-la e naturalmente que ela estivesse procurando pela pessoa certa.

Eles eram passageiros de segunda classe, como todo mundo que tinha uma cabine no mesmo nível deles. Havia apenas 12 passageiros de 1ª classe, cujas cabines eram no convés em cima, e eles comiam na sua própria sala de jantar onde a comida era provavelmente muito melhor.

Em Cork eles tiveram que pegar uma centena de passageiros de terceira classe ou que fazem baldeação. Eles ficaram alojados no interior do navio, e Belle tinha ouvido um dos oficiais informando a esses passageiros rapidamente que eles só tinham permissão para ir a certas partes do convés em certos horários. Com
olhadelas Belle percebeu pelas roupas e botas, quando embarcaram no Cork, que eram pobres. Ela se lembrou de na escola falarem sobre os recentes imigrantes irlandeses para a América, e que eles sofriam condições terríveis na viagem; ela esperava que estas pessoas pobres não fossem tão maltratadas.
Quase imediatamente após ter se visto trancada na cabine ela fez um plano. Ao
perceber que Etienne não ia tolerar desobediência ou grosseria, ela decidiu
tentar suavizá-lo com charme. Cada vez que ele voltava da cabine ela o recebia
calorosamente, perguntando quanto estava frio no convés, quem estava lá em cima e outras coisas assim. Ela arrumou a cama para ele, manteve suas coisas arrumadas e tanto quanto era possível tratou-o como se realmente fosse seu tio.

Ela sentia que ele estava respondendo a isso também, pois voltava para a cabine
frequentemente para sugerir que eles tivessem um passeio pelo convés ou fossem se sentar em cadeiras confortáveis no salão no convés de cima para olhar o mar. Ela se virou da portinhola como se tivesse ouvido Etienne chegando.

- Olá, veio me liberar? - ela disse com um sorriso.

- Há uma tempestade se formando - ele disse. - Algumas pessoas já estão sentindo enjoo. Geralmente é melhor ficar perto de ar fresco quando o mar está agitado. Você gostaria de subir para o salão?

Belle tinha decidido que Etienne era um homem atraente. Seus gelados olhos
azuis podiam ter sido um pouco assustadores no início, por causa de como ele a tratou, mas tinha nariz proporcional e uma boca grande, e sua pele era lisa, clara e dourada como se tivesse estado no sol recentemente. Surpreendentemente, ele não tinha um bigode ou barba, e ela gostava disso. Seu cabelo era bom também;
ela estava tão acostumada a ver homens com cabelos finos e escorregadios com óleo, ou ao redor de Seven Dials onde eles o deixavam sujo e desalinhado. Mas o de Etienne era limpo, espesso e regular, o tipo que com certeza Mog diria que era feito para bagunçar.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora