Capìtulo 46

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Ela disse que era de Reims, que era a mais velha de sete filhas, e que seu pai era agricultor. Não precisou dizer por que tinha ido a Paris para se tornar uma
prostituta, pois estava claro que aquele era o único meio de ganhar dinheiro
suficiente para ajudar a família. Ela corou ao dizer a ele que havia aprendido inglês com um artista inglês que vivia em Montmartre. Disse que o via quando tinha as tardes livres. Quando Noah perguntou se ele se casaria com ela, ela riu baixinho e disse que não, porque ele era muito velho. Disse também que ele era gentil com ela, e Noah pensou que se ela sorrisse mais e fosse mais bela, mais pessoas seriam gentis com ela.

Quando Noah voltou ao salão, apenas Sophia continuava ali. Disse algo em francês que parecia muito ressentido, e voltou a se sentar, dando as costas para ele.

Cinco minutos depois, James desceu a escada. Seu rosto estava corado e ele
sorria. Quando a funcionária que havia aberto a porta para eles apareceu na
porta do fundo do salão para entregar os chapéus, os dois não disseram mais nada e só voltaram a conversar na praça.

- Ela foi maravilhosa - disse James. - Tão gentil, tão generosa.

- Mas aposto que ela pegou o dinheiro - disse Noah. Ele estava feliz por seu amigo ter chegado lá, mas percebeu que agora ele passaria a noite contando os detalhes da experiência.

- Não acho que ela queria - disse James, ainda nas nuvens. - Mas ela tem muito medo da Madame Sondheim para não pegar o dinheiro.

- Então você fez algumas perguntas a ela?

- Ela não pareceu entender muitas delas. Perguntei a respeito das meninas novas
e ela disse que era melhor para mim do que as mais jovens.

Noah sorriu. Acreditava que seria impossível esperar que seu amigo interrogasse uma mulher tão adorável quanto Arielle estando sozinho com ela em um quarto.

- A palavra couvent quer dizer convento? - perguntou ele.

- Sim, por quê? - James franziu o cenho.

- Porque é para lá que algumas das meninas jovens são levadas depois daquele lugar. Infelizmente, imagino que procurar um convento sem nome em Paris seria como procurar uma agulha em um palheiro.

1911

O calor despertou Belle e, como sempre, ela estava banhada em suor. Lembrava
com nostalgia do clima frio inglês o tempo todo, pois o verão grudento de New Orleans era exaustivo.

Lembrou da emoção que sentira em abril do último ano, quando deram aquele quarto a ela. Ficava nos fundos da casa, por isso era mais tranquilo, grande e iluminado pelo sol, e tinha uma grande cama de latão. Ela não havia se dado conta, naquele momento, de que o local viraria um inferno quando o tempo
esquentasse e que por isso nenhuma das meninas o queria. Mas então, dezesseis meses desde sua chegada, concluíra não poder confiar em nada e em ninguém. O que parecia bom um dia podia se tornar ruim no seguinte.
Ela havia cometido um enorme erro pedindo a Martha provas de quanto ela havia pagado para tê-la ali, principalmente em tão pouco tempo desde sua chegada. A mulher havia se tornado muito fria com ela e Hatty aconselhou Belle a se desculpar imediatamente.

- Todas nós temos um tipo de contrato, querida - explicara ela. - A madame de
um prostíbulo precisa manter as rédeas curtas, caso contrário, as meninas se
aproveitam. Mesmo para nós, que não fomos compradas como você foi, ela
também dá casa e comida, comprou vestidos, sapatos e coisas assim, por isso é claro que ela desconta isso de nosso lucro... Ela precisa se manter. Também precisamos ganhar a confiança dela. Como seria se ela tivesse uma menina e, um belo dia, descobrisse que essa menina saiu pela cidade comprando do bom e do melhor?
Explicando daquele modo, Belle conseguiu entender.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora