- Diga-me onde estou, Lisette, e o que vai acontecer comigo - Belle implorou.
- Sei que você é uma mulher gentil, então por favor me diga a verdade.
Aparentemente havia pouco com o que se preocupar. Seu quarto era brilhante e confortável, um fogo era aceso a cada manhã, Lisette trazia sua bebida e alimentação três vezes por dia, havia até fruta em uma tigela para comer, e tinham lhe dado alguns livros de inglês para ler e roupas novas. Mas do lado de fora da janela, terra e cores cinzenta em um inverno pardo, marrom e preto que se estendia a grandes distâncias sem uma casa à vista, e a porta de seu quarto era sempre mantida trancada.
- Sinto muito por você, ma chérie - a francesa respondeu, com seu rosto bonito cheio de sinceridade. - Mas sou apenas uma empregada, e foi dito para eu não te contar nada. Posso te dizer que está em uma vila perto de Paris, mas é tudo.
- Paris! - Belle exclamou. Lisette assentiu.
- Não quero que você tenha problemas - Belle disse. - Mas com certeza você pode me dizer se homens vão vir aqui e me estuprar de novo?
- Não, não, não isso, não aqui. - Lisette pareceu horrorizada com a sugestão. Essa casa é como hospital, para mulheres doentes.
- Mas não estou doente agora. O que eles pretendem fazer comigo? Lisette deu uma olhada ao redor na expectativa de alguém estar espionando.
- Você não pode dizer que eu te disse. Mas eles planejam te mandar embora para a América logo.
- América! - Belle exclamou descrendo. - Mas por quê? Lisette encolheu os ombros.
- Eles compraram você, Belle, você é, como eu digo, propriedade deles.
Belle de repente se sentiu mal. Ela sabia o que "propriedade deles" significava.
- O que eu vou fazer? - ela perguntou.
Lisette não respondeu imediatamente, mas olhou para Belle sentando na cadeira baixa à frente do fogo.
- Acho - ela disse finalmente - que o melhor para você é fazer o que eles querem. Belle olhou para cima, seus olhos brilhando com ódio.
- Você quer dizer que tenho
de ser uma prostituta? Lisette franziu as sobrancelhas.- Há coisas piores, ma chérie. Morrer de fome, não ter casa. Se você lutar eles a punirão; uma garota que trouxeram aqui teve seu braço arrancado. Agora ela não pode trabalhar, mas os homens a levam para becos por algumas moedas.
O estômago de Belle se revirou com a imagem que Lisette tinha pintado para ela.
- Eles fazem isso? - ela perguntou em um suspiro aterrorizado.
- Eles fazem pior também - Lisette respondeu. - Meu coração vai com você, mas ouça o que eu digo. Se você fizer conforme eles querem, aprender a jogar o jogo que osbcavalheiros querem, eles não te vigiarão tão de perto.
- Não sei como você pode me dizer para fazer isso - Belle gritou.
- É porque eu gosto de você, Belle, e devo te dizer a melhor maneira de se salvar. Eu fui levada para uma casa quando era jovem exatamente como você. Sei como isso é ruim. Mas com o tempo não importa mais. Eu fiz amigos, rio de novo.
- Você ainda faz isso agora?
Lisette balançou a cabeça.- Não mais, trabalho aqui, cuido das pessoas doentes. Tenho um filho.
- Você é casada?
- Não. Não casada. Digo às pessoas que meu marido morreu.
Belle silenciosamente digeriu toda a informação enquanto Lisette arrumava seu quarto. O pensamento de que tinha de deixar qualquer homem se aproximar dela, e ainda fazer aquela coisa horrível com ela, a fazia estremecer, mas o senso comum dizia a ela que a maioria das mulheres não tinham medo de sexo, ou o odiavam, ou não havia nem
romance nem casamento. Ela não se lembrava de qualquer uma das garotas da Casa da Annie dizendo que odiavam homens; algumas delas até tinham namorados que iam encontrar em suas noites de folga.
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Belle
RandomBelle, uma jovem de quinze anos, viveu toda a sua vida em um bordel. Sem saber o que realmente acontecia nos quartos no andar de cima. Porém, em uma noite que poderia ter sido como qualquer outra, ela testemunhou o assasinato de Millie, uma das garo...