Belle acordou com o barulho de pessoas na passagem do lado de fora do quarto. Ajoelhou-se na cama e abriu um pouco a cortina. O céu estava clareando e, assim, ela pensou que deveriam ser por volta das sete e meia, mas da janela não havia vista, apenas as casas do lado oposto da rua, que se pareciam muito com aquelas do lado dela.
Ela havia dormido bem. A cama era surpreendentemente confortável, os lençóis cheiravam a lavanda e os cobertores e o edredom eram bem quentes. Ela vestiu o casaco sobre a chemise com a qual dormira, pegou a toalha muito fina que estava dobrada sobre a cadeira e foi procurar o banheiro.
O banheiro era bastante limpo, embora muito frio, e a água era fria também. Mas ela tirou a chemise, ficou em pé na banheira e lavou-se. Ela desejou ter uma escova de dente, pois o gosto na sua boca estava terrível.Quinze minutos depois, Belle desceu para o salão de jantar. Para sua surpresa, era um lugar inesperadamente quente e convidativo, pintado em amarelo-vivo.
As toalhas das seis mesas eram estampadas em xadrez azul e um fogão estava trabalhando com força total. Ela escolheu a mesa vazia mais próxima ao fogão, enrolando bem o casaco em seu corpo para que o vestido de noite não fosse visto. Havia dois casais comendo e um homem sozinho que lia um jornal. Ele olhou para Belle e deu um pequeno sorriso.
A mulher da noite anterior entrou pouco depois de Belle se sentar, carregando uma bandeja. O café da manhã era composto de um bule de café, uma jarra de leite, alguns croissants em uma cesta, manteiga e geleia. A mulher não era tão velha quanto Belle pensara, era provável que tivesse 30 e poucos anos, mas não se esforçava para melhorar a aparência. O vestido preto velho ficava justo onde lhe tocava o corpo e o cabelo estava em um coque tão puxado que ela parecia ter pintado a cabeça de um marrom sem graça. Ela também tinha uma echarpe de xadrez preto e branco presa em volta do pescoço que parecia muito estranha, quase como se estivesse escondendo algo no pescoço dela.
Na noite anterior, ela estava usando uma também, mas era toda preta e menos óbvia. Não havia nada naquela mulher que sugerisse a Belle que as duas tinham algo em comum, mas ela não podia resistir à vontade de fazer amizade com ela, nem que fosse apenas para descobrir quem pintara os quadros do hall.
Enquanto ela colocava o café da manhã na mesa, Belle sorriu para ela.
- Como você se chama? - perguntou.
A mulher abriu um pequeno sorriso, o que foi um tímido avanço em comparação com a noite anterior.
- Gabrielle Herrison - ela respondeu.
- Eu me chamo Belle Cooper - disse Belle. - Mais tarde, você poderia me indicar onde comprar algumas roupas de segunda mão?
A expressão de Gabrielle suavizou-se um pouco.
- Eu vou encontrar pequeno mapa - ela prometeu. - Tem loja boa perto.
Belle estava apreensiva quando entrou na pequena loja de Madame Chantal. Madame Herrison não parecia ser o tipo de pessoa que entendia de roupas e, assim, Belle imaginou que a loja de roupas usadas recomendada por ela seria como as de Seven Dials. Elas tinham um fedor de mofo, suor antigo e coisa pior, e as roupas, todas misturadas sem cuidado, geralmente estavam em um estado tão ruim que apenas alguém desesperado as compraria. Porém, para a surpresa de Belle, nessa loja as roupas estavam penduradas e arrumadas em araras e ela não sentia cheiro algum além daquele de café recém-preparado.
Uma mulher baixa de cabelo grisalho, usando um vestido preto com gola e punhos de pele de mink, veio na direção dela e cumprimentou-a em francês. Belle pensou que a mulher provavelmente estava perguntando o que ela procurava e então perguntou se ela falava inglês, mas a resposta foi uma negativa com a cabeça. Com isso, Belle tirou o casaco para mostrar o vestido de noite de renda e fez uma mímica de alguém fugindo com a mala dela.

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Belle
De TodoBelle, uma jovem de quinze anos, viveu toda a sua vida em um bordel. Sem saber o que realmente acontecia nos quartos no andar de cima. Porém, em uma noite que poderia ter sido como qualquer outra, ela testemunhou o assasinato de Millie, uma das garo...