Capítulo 74

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Belle não conseguia pensar em nada além da sede que sentia. Cada vez que fechava os olhos, ela via água escorrendo de uma torneira e imaginava que juntava as mãos e inclinava-se para beber.

Tentava distrair-se pensando em Mog, mas, quando o fazia, Mog aparecia segurando uma chaleira e servindo chá em uma xícara. Um barulho no andar de baixo assustou-a e tirou-a do sonho.

Ela se sentou para ouvir, certa de que havia imaginado o som. Mas não, alguém com certeza estava lá embaixo. Ela saiu da cama e foi até a porta em um segundo, esquecida da sede; gritou e esmurrou a madeira. Parou para escutar. Ouviu passos subindo a escada e reparou que havia um brilho de luz em volta da porta, o que significava que a eletricidade fora religada.

- Ajude-me! - ela berrou. - Estou aqui!

- Sei que você está aí - soou a voz bastante familiar de Pascal. - Agora, afaste-se da porta, pois vou entrar com um pouco de comida e bebida.

O alívio percorreu o corpo dela e Belle espontaneamente recuou, segurando o que restava do corpete rasgado do vestido sobre os seios. Ela ouviu a chave ser girada na fechadura e, depois, enquanto a porta era aberta devagar, a muito aguardada luz invadiu o quarto, fazendo-a piscar. Pascal tinha um jarro na mão e uma sacola pendurada no braço, mas, na outra mão, ele segurava uma faca.

- Não se assuste com a faca - ele disse, usando-a para acender a luz do quarto. - Só vou usá-la se você tentar alguma coisa. Os olhos de Belle estavam no jarro, pois, naquele momento, sua sede era maior do que o medo da faca.

- Onde você estava? - ela disse, ofegante. - Por que me deixou aqui por tanto tempo? Pascal entregou o jarro a ela e, rapidamente, trancou a porta. Belle levou o jarro até a boca e bebeu com vontade. A água nunca tinha sido tão saborosa.

- Espero que tenha decidido que vai ser boazinha comigo - ele disse. Com a sede apaziguada, Belle apoiou o jarro no lavatório.

- Farei tudo que você mandar, mas não me deixe trancada aqui por mais tempo - ela pediu.

- Sente-se e coma isto - ele mandou, segurando a sacola. Belle arrancou-a da mão dele. Dentro dela, havia um pedaço de pão e um pouco de queijo. O pão estava velho, o pequeno pedaço de queijo estava muito duro, mas ela não se importou, rasgou-os com os dentes, engolindo tão depressa que nemsentiu o gosto. Pascal ficou observando-a. Belle olhou para ele algumas vezes e viu que ele tinha um sorriso malicioso.

- Obrigada - ela disse depois de comer a última migalha. - Achei que você não voltaria nunca.

- Tive de ensiná-la a ter um pouco de respeito por mim - ele afirmou, com um toque de ameaça.

- Mas acho que agora que você sabe o que posso fazer com você, tudo será diferente. Sem sede e com a fome parcialmente aplacada, Belle recuperou o raciocínio.

- O que você quer de mim?

- Quero seu amor - ele respondeu.

Belle sentiu o coração apertado. Olhou nos olhos de Pascal e, em vez do aspecto frio e morto em que reparara quando o conheceu, viu o mesmo tipo de loucura que aparecera nos olhos de Faldo na sua última noite com ele. Ela não tinha lidado bem com Faldo, mesmo tendo carinho por ele, mas detestava Pascal e a ideia de ele tocá-la novamente lhe deu um arrepio.

- É preciso tempo e paciência para o amor crescer - ela disse com cuidado, preocupada com a faca na mão dele. A faca tinha apenas 15 centímetros de comprimento e uma lâmina fina, mas parecia bastante afiada.

- Prender-me sem comida ou bebida não é a maneira certa de cultivar o amor.

- Nesse caso, vou me contentar com o amor fingido que você mostra pelos seus clientes - ele afirmou, lambendo os lábios lascivamente enquanto olhava para ela. Ela estava tão concentrada em beber e comer que tinha esquecido o vestido rasgado e os seios expostos. Um calafrio percorreu sua espinha e ela tentou cobrir o corpo.

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