Capìtulo 60

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A última coisa que a mulher disse antes de sair é que havia bastante água quente para um banho se Belle quisesse. Em New Orleans, ela tinha que ferver baldes de água para encher uma banheira de latão, e no navio, não pôde tomar um banho, apenas limpar-se com uma toalha, por isso, saber que havia uma banheira ali era
como ganhar um presente de Natal.

Belle dormiu como uma pedra naquela noite. Só acordou quando as cortinas foram abertas e quando o sol entrou no quarto. A Madame Albertine estava ali com uma xícara
de café nas mãos.

- Se quiser ir à feira comigo, precisamos sair agora - disse ela com um grande sorriso.

- Levante-se e vista-se.

Belle ficou encantada com as grandes ruas que levavam ao mercado perto do porto. As casas eram meio velhas, com a tinta descascando das janelas e as portas com aparência de velha, e havia portas próximas umas das outras, desorganizadas. Ela conseguia perceber as semelhanças com o French Quarter, em New Orleans, nas cortinas e nas varandas de ferro forjado, mas ali estava uma irmã mais velha e menos organizada. As
ruas eram mais estreitas, os cheiros mais fortes e não havia placas em inglês.

Quando elas chegaram à feira, Belle procurou não se afastar de Madame
Albertine, com medo de se perder na enorme multidão para sempre. Já tinha visto muitas feiras - em Seven Dials, havia uma feira diária muito grande - mas nunca tinha visto algo como aquilo.

Havia centenas de barracas repletas de todos os tipos de alimentos que se podia pensar, e muitos outros que ela não reconhecia. Lebres, coelhos e faisões pendurados pelas patas em postes. Perus, frangos e gansos ficavam expostos em grandes prateleiras. Havia barraquinhas com montanhas de maçãs vermelhas
brilhantes, e outras, nas quais diferentes frutas e legumes eram expostos de modo tão belo que pareciam uma obra de arte.

Havia bolos esplêndidos para o Natal, bolos Dundee e outros tipos parecidos, com cobertura de frutas e castanhas. Dezenas de salsichas vermelhas, marrons e brancas ficavam penduradas, e o vendedor geralmente fatiava os embutidos e os oferecia aos clientes. Havia
inúmeros vidros do que Belle acreditava serem alimentos em conserva, apesar de não reconhecer o conteúdo, e barraquinhas vendendo apenas pão, e muitos deles tinham a casca quadriculada e outras formas fantásticas. Havia ervas, pimentas,
garrafas de vinho e cordial, chocolate, puxa-puxa e doces.

Aqui e acolá, havia uma barraca vendendo decorações pintadas à mão para a árvore de Natal, e também havia biscoitos de gengibre com cobertura decorativa que imediatamente fizeram Belle se lembrar de Mog. Ela costumava fazer
biscoitos como aqueles para o Natal e pendurá-los em cordões acima do forno.

Eles nunca tiveram uma árvore de Natal em casa. Annie torcia o nariz para elas, e na verdade parecia que ela não gostava de nenhuma tradição de Natal.

Aos 7 anos, Belle ficara muito decepcionada ao saber que a meia vermelha de lã que Mog sempre pedia a ela que pendurasse ao lado do forno, para que o Papai Noel a enchesse de doces, nozes e pequenos brinquedos, era, na verdade, preenchida
por Mog. Mas apesar de Annie não gostar do Natal, ela gostava do elemento de fartura que o acompanhava.

Quando a casa era fechada, as meninas que não tinham familiares por perto para irem para casa, se reuniam na cozinha, e Belle sempre se lembrava desses dias como dias de alegria, nos quais Mog e sua mãe
ficavam um pouco embriagadas. Às vezes, elas comiam carne de ganso, às vezes, um frango grande, mas também havia salsichas, recheios maravilhosos e o que chamava de Batatas Assadas Especiais de Natal. Belle sabia que Mog adoraria
aquela feira francesa, pois em todas as partes havia mulheres que se pareciam muito com ela, enchendo os cestos de compra com alimentos especiais para suas famílias.

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