Lisette franziu as sobrancelhas.
- Não, ele era inglês, tinha mais ou menos 30 anos. Mas por que você perguntou se era Etienne?
- Foi o nome que ela me passou, na última noite em que a vi. Ela disse que confiava nele.
Elas haviam chegado ao café da praça e sentaram-se a uma mesa ao ar livre, longe das outras pessoas. Lisette estava pasma.
- O que foi? Você conhece alguém chamado Etienne? - Gabrielle perguntou. Lisette balançou a cabeça, concordando.
- Foi o homem que a acompanhou até a América.
Gabrielle tinha poucas expectativas quanto àquele encontro e descobrir que Lisette conhecia Belle e o homem de quem ela falara foi quase demais para ela. Seu coração começou a bater acelerado e gotas de suor surgiram em sua testa.
- Pode me contar tudo o que sabe? - ela pediu. - Você parece saber muito mais sobre Belle do que eu. Lisette hesitou.
- Não saí desse mundo como você - ela disse, com tristeza. - Mas tenho certeza de que você lembra como é. Só contei tudo isso porque somos velhas amigas e confio em você. Tenho de pensar no meu filho.
Gabrielle entendia exatamente o que ela queria dizer e tomou a mão da Lisette entre as suas para tranquilizá-la.
- Não esqueci nada, mas qualquer coisa que você contar ficará somente entre nós.
Assim, Lisette lhe contou tudo o que sabia: como Belle chegou ao lar precisando de cuidados, o quanto gostara dela e, depois, sobre Noah Bayliss ter vindo procurá-la.
- Gostei muito dele também - ela admitiu. - Quase cedi à oferta dele de me ajudar a sair daqui. Mas fiquei com muito medo.
Gabrielle balançou a cabeça, compreensiva. As pessoas por trás do esquema que trazia garotas jovens à França não tinham compaixão e seria difícil Lisette confiar o suficiente em um homem para dar segurança a ela e ao filho.
- Mas, se esse homem, Etienne, foi quem levou Belle à América, com certeza ele é tão ruim quanto os
outros. Por que ela diria que confia nele? Lisette encolheu os ombros.- A maioria de nós, presos nesse meio, foi forçada a fazer coisas que sabemos serem erradas geralmente porque eles têm controle sobre nós. Não significa que sejamos todos maus. Eu diria que Belle deve ter tocado o lado bom de Etienne, assim como fez comigo e com você. Eles iriam passar uma longa viagem juntos pelo mar e devem ter virado amigos. O inglês, Noah, queria que eu entrasse em contato com Etienne para descobrir para onde ela fora levada. Eu tentei, na época, mas não consegui. Gabrielle suspirou.
- Não acho que ele possa ajudar na atual situação, de qualquer forma.
- É provável que não - disse Lisette. - Principalmente porque fiquei sabendo que ele saiu desse meio.
Dizem que sua esposa e seus dois filhos morreram em um incêndio e ele agora é um homem acabado. É claro que pode não ser verdade. Já ouvi histórias como essa antes, pode ser apenas para nos deixar com medo.
- Você quer dizer que alguém pode ter feito isso de propósito? - Gabrielle perguntou, horrorizada.
- Coisas assim já aconteceram, se alguém sai da linha - Lisette respondeu, olhando para os lados, furtiva, como se tivesse medo de ser ouvida.
As duas ficaram em silêncio por alguns minutos. Lisette terminou de tomar o café e disse que tinha de ir.
- Eu tenho o endereço do Noah, no entanto - ela afirmou quando assinalava para o garçom trazer a conta.

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Belle
AléatoireBelle, uma jovem de quinze anos, viveu toda a sua vida em um bordel. Sem saber o que realmente acontecia nos quartos no andar de cima. Porém, em uma noite que poderia ter sido como qualquer outra, ela testemunhou o assasinato de Millie, uma das garo...