Capìtulo 37

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Pensando melhor, Belle concluiu que seria melhor para todo mundo se ela não escrevesse. A verdade faria apenas com que eles se preocupassem. Mas se ela mentisse e dissesse a eles que estava trabalhando em uma loja ou como empregada, eles não acreditariam. Afinal, ninguém poderia sequestrar uma pessoa e então dar a ela uma vida boa e respeitável!

Ela adormeceu pensando no problema.
Belle acordou na manhã seguinte às dez horas. Era estranho não escutar quase nenhum barulho do lado de fora. Na noite anterior, o local havia estado ainda mais barulhento do que a Monmouth Street em uma noite de sábado.

Ela estava morrendo de vontade de sair e conhecer o lugar, pois tudo o que ela
vira de New Orleans até então tinha sido no táxi, voltando do navio. Também
estava silencioso, pois eram apenas nove da manhã, e ela só via carrinhos de entrega, varredores de rua e empregadas negras esfregando escadarias e polindo partes de latão das portas. Mas ela havia ficado impressionada com quão velha e
atraente era cidade. Etienne dissera a ela que a parte por onde eles passaram se chamava French Quarter, porque, em 1721, os primeiros 20 quarteirões foram
construídos pelos franceses.

Todas as casas da rua eram térreas, sem jardim na frente, como muitos dos
terraços vitorianos em sua cidade, mas aquelas não eram iguais: havia casinhas créoles coloridas com janelas com cortinas ao lado de casas em estilo espanhol com varandas de ferro forjado delicadas nos andares superiores, geralmente com um monte de plantas e flores crescendo ali. Belle conseguia ver partes de pequenos quintais, havia praças com um jardim central, e ela viu muitas flores de aparência exótica e também palmeiras altas.

Etienne prosseguira explicando que até 1897, New Orleans era um local
assustador, sem lei, com prostitutas se oferecendo ou esperando, praticamente
nuas, em quase todos os locais da cidade. Por ser um porto movimentado,
marinheiros de todas as nacionalidades iam à cidade todas as noites para jogar,
beber, procurar uma mulher e geralmente arrumar uma briga também. O número de mortes causadas por esfaqueamentos e tiros era alto e muitos eram encontrados inconscientes, nas vielas, depois de serem agredidos e roubados. Pessoas comuns e respeitáveis tentando criar seus filhos tinham que aguentar aquilo o tempo todo e exigiam que algo fosse feito a respeito.

O vereador Sidney Story arquitetou um plano para pegar a área de 38 quarteirões no lado mais distante da estrada de ferro, atrás do French Quarter, e tornar a prostituição legalizada ali. Assim, todos os males da cidade ficariam concentrados em um único lugar, facilitando o policiamento. Os cidadãos comuns ficaram felizes por poder votar em uma lei que colocaria um ponto final no ir e vir de prostitutas e marinheiros embriagados e arruaceiros perto de seus lares. As casas de jogos e os pontos de venda de ópio ficariam fora de vista e eles não mais Teriam que temer a violência de crimes relacionados a vícios.

Sidney Story propôs a lei e conseguiu fazer com que ela fosse aprovada, e dessa forma, a região ganhou o nome de "Storyville". Mas a maioria das pessoas a chamavam apenas de "o Distrito". Belle ficou um pouco surpresa enquanto Etienne explicava como eram as coisas antes de a lei ser aprovada. Era muito parecido com Seven Dials! Ela comentou sobre isso e também disse que, apesar de ter sido cercada por todos os tipos de atividades criminais e vícios, não havia tomado consciência daquilo, nem fora atingida, até Millie ser assassinada.

- Me surpreende ver que as pessoas que reclamam a respeito do vício são, em
grande parte, aquelas que mais se beneficiam dele - disse Etienne, sorrindo.

- Lojas, hotéis, salões de cabeleireiros, lavanderias, taxistas, costureiras e
chapeleiros não poderiam sobreviver sem todos os visitantes que o Distrito traz a New Orleans. Até mesmo o conselho regional, os hospitais e as escolas se beneficiam dos impostos que vêm dele. Mas todo mundo quer que a renda suja seja escondida.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora