Capìtulo 36

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Anjinhos de ouro segurando uma mesa de alabastro, sofás de veludo azul-turquesa com almofadas de cetim dourado e rosa, um piano branco e um quadro de uma moça nua, em tamanho real, deitada em um divã pendurado acima da lareira de mármore branco;
essas eram apenas algumas das maravilhas na sala de estar da maison de joie de Martha, como a mulher a denominava. Belle precisou se esforçar para não se distrair com o esplendor e conseguir prestar atenção e escutar o que Etienne dizia à Madame Martha.

Ela era uma mulher grande, com cerca de 45 anos. Belle acreditava que ela devia ter aproximadamente um metro e 75, e pelo menos 100 quilos. Seus cabelos eram tingidos com um tom de loiro-dourado e arrumados em um penteado elaborado.

Mas independentemente de seu tamanho e de sua idade, ela ainda era bonita, sua pele num tom de marfim acetinado e olhos tão escuros que Belle não conseguia ver as íris. Ela usava um vestido solto cor de damasco, com diversos bordados na gola, e seus seios enormes ameaçavam escapar. Seus pés eram minúsculos, dentro de sapatilhas bordadas da mesma cor do vestido e suas mãos, igualmente pequenas, ostentavam um anel em cada dedo.

- Belle é muito diferente de suas outras meninas, madame - disse Etienne, de
modo educado. - É inteligente, tem o porte e as habilidades de comunicação de uma mulher adulta; também é muito gentil, carinhosa e sensível. Eu não me
atreveria a dizer como a senhora deve gerenciar a sua Casa. Mas aprendi a conhecer Belle muito bem na longa jornada até este lugar, e acredito que seria mais vantajoso para a senhora mantê-la aqui. Permita que ela aprenda com as outras meninas e até mesmo provoque os senhores um pouco com ela.

- Se eu quisesse a sua opinião, querido, eu teria pedido - Madame respondeu.
Mas, apesar do que havia dito, parecia ter gostado do comentário.

- Eu não ousaria ofender uma mulher tão linda - disse Etienne com delicadeza. -
Mas eu sei que às vezes as meninas são colocadas tão rapidamente para trabalhar que seus verdadeiros talentos não são reconhecidos. Belle tem sido muito maltratada, foi tirada de sua casa e levada a Paris, onde foi submetida ao tipo de coisa que sei que a senhora abomina. Ela precisa de mais tempo.

Madame assentia enquanto Etienne falava, mas quando ele chegou à parte em que afirmou que Belle havia sido maltratada em Paris, virou-se para olhar para Belle, avaliando-a.

- É verdade, docinho? - perguntou ela.

- Sim, é - respondeu Belle, surpresa por terem dirigido a palavra a ela. - Fui sequestrada porque testemunhei um assassinato. Em Paris, fui estuprada por cinco homens diferentes, e então fiquei muito doente - admitiu ela. Mas sem querer dar a impressão de que tinha sido permanentemente prejudicada, ela sorriu para a mulher mais velha.
- Estou bem melhor agora, claro, e seria uma empregada muito boa e posso ajudar a senhora com todos os serviços domésticos, lavando, passando e até cozinhando.

- Com certeza não paguei para que você fosse trazida de Paris para ser uma
empregada - Madame disse. Seu tom de voz era firme, mas os olhos escuros
brilhavam. - Minha Casa é uma das melhores na cidade porque minhas garotas são felizes, e acredito que posso esperar um pouco para ver como as coisas transcorrem com você, para ver se você também pode ser feliz.

- A senhora é uma boa mulher - disse Etienne, pegando sua mão e beijando-a.

- Eu acho que você é carinhoso com ela - disse Madame suavemente, erguendo
uma das sobrancelhas de modo sugestivo.

- Qualquer homem seria - respondeu ele. - Ela é uma pérola.

Etienne disse que precisava se retirar e Belle o acompanhou até a porta da frente para dizer adeus. O hall era quase tão grande quanto a sala de estar, com um enorme candelabro, chão de cerâmica preto e branco e papel de parede vermelho e dourado, em alto-relevo. Tudo o que Belle havia visto até então parecia bonito, mas ela sabia
que as aparências importavam muito pouco, e que quando Etienne fosse embora, ela estaria sozinha, em um país desconhecido, sem ninguém com quem pudesse contar.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora