Capítulo 73

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Belle arrastou-se até a janela e pegou um grampo quebrado com o qual ela continuava tentando aumentar o pequeno buraco da madeira. Não conseguia ficar em pé por muito tempo, sentia-se muito fraca e tonta, mas havia conseguido alargar o minúsculo buraco o suficiente para passar seu dedo menor por ele. Ainda não conseguia ver muita coisa, apenas um telhado inclinado a cerca de vinte ou trinta metros. Porém, quando o sol estava batendo na janela, um raio de luz entrou no quarto e ela pôde deitar na cama e observar as partículas de poeira dançando nele, imaginando que eram fadas.

Mog sempre a fazia rezar, algo que ela abandonara havia bastante tempo. Porém, estava rezando bastante naquele momento, prometendo a Deus que nunca pecaria novamente se ele mandassealguém para resgatá-la. A fome não era seu único problema. A água tinha acabado e, hora após hora, ela sentia que ficava mais fraca. Exceto por curtos períodos aumentando o buraco, ela passava o restante do tempo deitada na cama para conservar a força.

Desejava apenas que sua mente pudesse desacelerar como o seu corpo, pois ela era torturada o tempo todo com a lembrança dos eventos dos dois últimos anos e culpava a si mesma por seu papel em cada um deles. Belle pensava em Mog. Pensava bastante na mãe e em Jimmy também, mas especialmente em Mog. Imaginava-a na cozinha abrindo massas, ou torcendo a roupa molhada na área de serviço. Às vezes, ela acordava de um sonho em que Mog a segurava nos braços da maneira que fazia quando Belle era pequena e, por um ou dois segundos, pensava que Mog estivera ali. Ela tentava não pensar em Pascal ouimaginar o que ele planejara para ela.

Não conseguia acreditar que alguém deixaria outra pessoa abandonada para morrer de sede e fome intencionalmente e, na maior parte do tempo, dizia a si mesma que ele devia estar doente ou ter sofrido um acidente que o impedia de voltar. Belle já não tinha ideia de quanto tempo fazia que estava lá, pois, quando pegava no sono, não sabia por quanto tempo tinha dormido. Porém, parecia estar naquele quarto havia semanas, não apenas dias. O grampo caiu dos seus dedos e ela estava fraca demais para pegá-lo.

Assim, arrastou-se de volta para a cama. Imaginou como seria morrer de fome. Iria ficar inconsciente e não sentir nada? Esperava que fosse assim.

Etienne escutou com atenção o que Noah tinha a lhe contar sobre Philippe Le Brun.

- Vamos ao Ritz resolver o assunto com Pascal - Noah sugeriu.

- Eu gostaria de ir lá e bater nele até ele confessar - Etienne comentou, desanimado, enquanto os dois desciam a rua.

- Mas não sabemos se ele está trabalhando sozinho ou não. Precisamos saber mais sobre ele, onde mora e com quem, em que horário trabalha e se vai para algum lugar quando sai do hotel. Mas concordo que devemos ir até lá agora e ver se descobrimos alguma coisa.

Noah estava passando a gostar de Etienne. Gostava da sua atitude forte e comprometida e estava intrigado pelo seu passado obviamente interessante. Ele não costumava se gabar e tinha um lado delicado também, principalmente em relação a Belle, e fazia Noah se sentir mais corajoso só de estar ao seu lado. Tão corajoso, na verdade, que ele decidiu confessar o que sentia por Lisette e perguntar se Etienne achava que ele tinha alguma chance com ela.

- Não a conheço, tudo que sei sobre ela é o que Belle me contou - Etienne disse.

-Ela pareceu ser uma boa mulher, mas, se quer minha opinião mesmo, depois que encontrarmos Belle, você deve voltar para a Inglaterra e achar uma garota com uma história de vida parecida com a sua. Você será muito mais feliz.

- Mas estou decidido a expor o comércio de meninas - ele disse, nervoso.
- Encontrar Belle é minha prioridade, mas tenho a intenção de escrever artigos para a imprensa para conter e condenar os envolvidos.

BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora