Capítulo 11

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- Me dê um bom motivo por que eu não deveria contar à polícia como o homem realmente se parecia e que eu vi tudo - ela perguntou, olhando sua mãe nos olhos.

Annie baixou os olhos.

- Porque ele é um homem muito perigoso, muito bem relacionado. Mesmo que a polícia o pegue esta noite e o prenda, ele achará um jeito de nos ferir. Não posso correr esse risco.

Um calafrio subiu pela espinha de Belle. Aquilo não era o que ela esperava ouvir.

- Por que você não se recusou a deixá-lo entrar depois da primeira vez que ele foi bruto com uma das garotas? - Mog perguntou, mas sua voz tinha perdido a dureza como se já se sentisse derrotada.

- Eu tentei, mas ele me ameaçou - Annie respondeu, com o olhar ainda baixo e cruzando os dedos em seu colo. - Ele tinha descoberto algo sobre mim. Como ele continuou a chamar por Millie e ela não parecia se incomodar com a brutalidade
dele, eu pensei que o homem se cansaria em algum momento e iria para outra casa.

- Acho que ele a amava - Belle afirmou espontaneamente. - Ele disse que queria que ela fosse morar com ele.

- Homens como ele não amam ninguém! - Annie exclamou com desdém. - Uma linda e estúpida garota como a Millie seria usada e descartada quando ele tivesse se cansado dela. Para ela é melhor estar morta do que ter uma vida com ele.
Belle tinha a impressão de que sua mãe estava falando com a voz da experiência.

- Qual é o nome dele? - Mog perguntou.

- Ele se apresentava como Sr. Kent, mas sei que é conhecido em outros círculos como "o Falcão". Mas chega disso. As garotas estão confinadas em seus quartos o dia inteiro sem nada para comer. É hora de descerem para o jantar. Nem uma palavra para qualquer das garotas sobre isso, de nenhuma de vocês. Vou falar com o sargento da polícia amanhã e perguntar se eles sabem de onde a Millie é.

Se não souberem, vou preparar um funeral. É o melhor que posso fazer por ela.

*******

- Passaram-se quatro dias após a noite do assassinato de Millie até que Belle tivesse uma nova oportunidade de sair de casa. A polícia ficava telefonando em diferentes horários
para fazer mais perguntas e Annie estava uma pilha de nervos. Porém ela não tinha medo apenas da polícia, mas também de que um jornalista fosse mandado para ficar bisbilhotando em Seven Dials e fazendo perguntas. Ela temia que ele tentasse entrar disfarçado na Casa e publicasse uma história sórdida sobre o que tinha acontecido, por isso ainda não havia reaberto o negócio.

Rose e May foram embora dois dias depois do assassinato. Disseram que estavam com medo e iam para a casa de suas mães, mas Mog acreditava que simplesmente foram trabalhar em outro bordel. E as outras garotas, com muito tempo livre, começaram a oscilar entre dizer que tinham medo de ficar sozinhas com qualquer homem e reclamar porque não estavam ganhando dinheiro. A cada
hora surgia um argumento agressivo ou uma briga para Mog apartar. Ela dizia que as moças estavam se comportando como crianças.

Belle sentia que tinha se comportado muito bem logo depois do assassinato. Ela não ficou histérica ou disse algo que não deveria. Ela nem mesmo sentiu medo, apesar de todos os outros na Casa estarem convencidos de que estavam em perigo de morte. Mas a impressão era de que o choque apenas fora anestesiado, pois no terceiro dia Belle acordou, antes que o dia clareasse, depois de um
pesadelo que envolvia a morte de Millie. Parecia que estava em câmera lenta, e cada um dos detalhes ampliado e esticado, fazendo-os mil vezes mais aterrorizantes. E durante todo aquele dia ela se pegou pensando muito mais naquilo; não só no crime, mas no tipo de casa em que vivia.

A palavra "foder" permanecia em sua cabeça. Antes era apenas um palavrão que ela tinha ouvido quando pequena, mas agora que sabia que era para isso que os homens iam a Casa, o termo soava sinistro. Algumas das garotas eram apenas um pouco mais velhas do que ela, e não podia deixar de pensar se sua mãe tinha a
intenção de torná-la uma prostituta também.

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