Capítulo 26

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Belle se sentia confusa. Ela estava na casa agora há quatro dias. Estava trancada em um quarto no topo do prédio como uma prisioneira, embora as duas mulheres que entravam no quarto e traziam sua comida, punham o carvão no fogo, esvaziavam o balde de resíduos e traziam água para Belle se lavar eram gentis com ela.

Elas não falavam inglês, mas o jeito como olhavam para ela, penteavam seu cabelo e desaprovavam quando ela não tinha ingerido a comida que trouxeram, mostrava que eram cuidadosas com ela. Belle se perguntava se eram prostitutas,
mas não pareciam ser quando usavam vestido liso azul-escuro, toucas e avental. Na Casa de Annie as garotas andavam quase despidas a maior parte do dia.

Belle tinha tentado, com linguagem de sinais e mímica, perguntar-lhes o que ia acontecer com ela e tentar fazê-las entender que queria escrever uma carta para sua mãe, mas elas apenas balançavam a cabeça como se não tivessem ideia do que ela queria dizer.

Então, Belle variava entre pensar que era como as crianças em João e Maria, sendo generosamente engordada antes de ser dada a um homem. Ou que em vez disso, e melhor ainda, nada ia acontecer porque Madame Sondheim não tinha gostado dela ou a considerava inadequada e estava planejando enviá-la de volta para a Inglaterra tão logo ela fizesse alguns arranjos.

O quarto em que estava sendo mantida era um quarto do tipo ateniense, e o teto era bem inclinado em direção ao chão perto da janela. Era pequeno, bastante escuro e de mobília só havia uma pequena cama de ferro, um lavatório e uma pequena mesa e cadeira embaixo da janela. Mas era aquecido e confortável, embora ela achasse a comida que levavam um pouco esquisita. Havia também um monte de jogos de quebra-cabeça que ajudavam o tempo passar mais rápido.

Escapar era totalmente impossível. Logo na primeira manhã, Belle subiu na janela para ver se conseguia descer para a rua daquele jeito, mas quando estava no peitoril percebeu que cairia direto nos fundos da casa. Olhando para o telhado, ela ficou com muito medo de tentar escalar aqueles escorregadios azulejos velhos para ver se havia um jeito de descer pela frente da casa. Além disso, se houvesse um jeito, Belle duvidava que Madame Sondheim teria deixado
ajanela destrancada.

Ouvir pela porta não ajudava em nada. Ela podia ouvir vozes e passos de vez em quando, mas as pessoas sempre falavam em francês. Durante a noite, ela ouvia a música e de vez em quando gargalhadas vindas do andar de baixo, o mesmo tipo de barulho que ouvia em Londres. Mas em casa, Mog sempre ia até ela algumas vezes durante a noite, a última vez geralmente para colocá-la na cama e dar um beijo de boa-noite. Mas ali ninguém ia vê-la depois que ela tinha tomado sua sopa, e duas vezes o óleo da lâmpada tinha acabado durante a noite, então ela
era obrigada a deixar o quebra-cabeça e ir para a cama.

Elas geralmente traziam sua sopa bem tarde. Uma vez ela escutara o relógio da igreja dar oito horas e ela estava comendo. Então em sua quinta noite, quando sua sopa tinha sido trazida antes de escurecer, ela percebeu que algo finalmente ia acontecer.

A sopa era de vegetais, bastante saborosa, com pedaços de pão, seguida por uma torta de peixe e batatas cozidas. Havia o copo usual de licor vermelho também, mas naquela noite o gosto estava diferente. Ela imaginou que talvez tivessem colocado um pouco de vinho nele e bebeu assim mesmo.

Quando a porta abriu de novo, Belle supôs que era uma das empregadas para pegar as coisas. Era a mais baixa delas junto com Delphine, a empregada que tinha levado Belle para cima na primeira noite. Ela falava francês muito rápido e
quando Belle apenas ficou atrás dela, sem entender, ela acenou como se fosse para acompanhá-la.

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