Capìtulo 59

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Às nove da mesma noite, Arnaud Germaine foi até a ponte para ver o Capitão Rollins.

- Boa noite, senhor - Rollins cumprimentou seu passageiro. - Como está a sua esposa agora que o mar está mais calmo?

A tempestade havia passado perto das seis da tarde e apesar de o mar ainda estar revolto, o navio não mais balançava.

- Ela está bem melhor agora - Arnaud respondeu com seu sotaque inglês carregado. - Temos que agradecer à Senhorita Cooper.

- Sim, eu soube - disse o capitão. - Ironicamente, quase recusei sua entrada no navio por acreditar que ela passaria mal e precisaria de atenção.

- Sinto-me envergonhado pela maneira com que a tratei. Minha esposa diz que ela salvou sua vida. O Capitão Rollins sorriu. Não imaginou que o francês carrancudo fosse capaz de sentir vergonha.

- Então, talvez, o senhor devesse recompensá-la - sugeriu ele. - Fiquei sabendo que ela terá dificuldade para pagar a passagem de trem para chegar à Inglaterra.

- Hum, pode ser - murmurou Arnaud. - Mas, diga- me, capitão, o senhor considera essa menina um mistério?

- O senhor diz isso porque ela é jovem e bela, e ainda assim tão gentil? Arnaud assentiu.

- Ela também tem um jeito curioso de agir. Aqueles olhares certos, as respostas sempre ácidas. Acho que ela está se divertindo às nossas custas. Ela disse a minha esposa que ganhamos dinheiro vendendo bebida para bordéis, por isso não somos melhores do que ela. O Capitão Rollins riu.

- Se ela tivesse dito isso enquanto sua esposa estava bem, a situação poderia ter ficado feia.

- Sim, tem razão. Mas não acho divertido, como o senhor. Receio que ela tente ganhar a simpatia de minha esposa para ser convidada a ir à nossa casa, na França.

- Não acho que ela seja assim - disse o Capitão Rollins. - Acredito que o senhor a está julgando pelos seus padrões. Arnaud bufou indignado. 

- Senhor, isso é muito grosseiro - disse ele.

O capitão deixou o primeiro-tenente guiando o navio mais tarde e desceu para sua cabine para fazer o registro do navio. Mas viu-se sentado olhando para o nada, pensando no que Arnaud Germaine dissera a respeito de Belle. Ela era um mistério, forte, direta e corajosa, pois a maioria das jovens em sua posição nunca ousariam viajar até a França em um navio de carga. Mas o que ele mais gostava nela era do fato de não ter vergonha de ser uma prostituta. Era como se ela tivesse decidido, em determinado momento, que ainda que não fosse sua escolha, seria muito boa naquilo. E ele não tinha dúvidas de que ela era boa, com aquela aparência maravilhosa e corpo perfeito.

Ele a desejava desde que a vira, mas ela havia deixado bem claro que não estava disponível. Ele a considerava muito honesta e também gostava de seu senso de humor. Sorriu ao pensar que ela havia colocado Avril Germaine em seu lugar lembrando que ela e o marido ganhavam dinheiro fornecendo bebidas a bordéis. Ele também se divertira quando contou que havia se tornado a amante do funcionário da ferrovia, e sobre como se decepcionara com ele.

Rollins já tinha conhecido muitos homens que tratavam sua bela esposa ou namorada da mesma maneira com que tratavam seu ouro, nunca permitindo que elas brilhassem em público e humilhando-as sempre que possível. Ele tinha que admitir que eles se sentiam, de certa forma, desvalorizados, ou tinham medo de que outro homem as roubassem. Ele não conseguia imaginar a si mesmo comportando-se desse jeito, pois se Belle fosse sua amante, ele desejaria valorizá-la, exibi-la, sentir os homens invejando-o.

Qual era o sentido de ter um grande tesouro se era preciso mantê-lo escondido? Mas ele estava um pouco preocupado com o interesse de Germaine em Belle. Apesar de ter dito não querer qualquer contato com ela em Marseille, Rollins teve a impressão clara de que o único objetivo do francês ao procurá-lo era para falar sobre Belle, como se tivesse algum plano para ela. Ficou pensando que talvez devesse alertá-la para não aceitar convites do casal. Mas se fizesse isso, ela seria capaz de dizer algo aos Germaine. Com isso, seria possível que Germaine procurasse outro navio no futuro para levar seu vinho a New Orleans. Então, talvez fosse melhor confiar no bom senso de Belle e não dizer nada.

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